Walcyr Carrasco foi escalado para uma missão difícil: a de criar uma grande novela que tivesse sucesso depois de uma trama com tantos problemas que foi o folhetim anterior, do Aguinaldo Silva.
Todos os grandes autores erram um dia e a novela anterior foi o erro do Aguinaldo. Mas isso já passou. E como dizíamos, Walcyr tinha a meta de criar algo que pudesse gerar audiência superior e reconquistasse o público perdido da Globo.
E Walcyr Carrasco criou A Dona do Pedaço. O dramaturgo, que dia 2 de dezembro completa 68 anos, nascido em Bernardino de Campos, no interiorzão de São Paulo, ganhador de Premio Jabuti de Literatura, criou O Cravo e a Rosa, Chocolate com Pimenta, Alma Gêmea, Verdades Secretas, Eta Mundo Bom!, O Outro Lado do Paraíso e outras tantas.
Suas crenças no ser humano e na alma fazem dele um estudioso do assunto e de todas as suas complexidades. Em Verdades Secretas ele mostrou personagens que tinham lados sórdidos e masoquistas, onde ninguém era bom ou mau, onde os desejos das pessoas eram a meta de seus atos.
Walcyr cometeu erros no começo da novela até pegar o jeito. Teve que entender que mesmo quando um povo tem uma educação e cultura pior que anos atrás, mesmo com tudo isso o ser humano continua humano e continua vivendo com seus medos e seus raros acertos.
Nesse cenário de público Walcyr Carrasco desceu do pedestal e foi até a linguagem que o povo entenderia. Ele não poderia decepcionar a si mesmo. Ele não poderia ter ibope ruim. Ele era a esperança da Globo em ter a audiência da novela das 9 de novo no patamar que deveria ser.
E Walcyr Carrasco mergulhou em roteiros de emoção primaria e em personagens que teriam a missão de se espelhar nas donas de cada e seus familiares. A dona de casa deveria reconhecer cada personagem em alguém que conheceu na vida, que alguém comentou para ela ou coisa parecida.
A identificação com cada personagem foi a estratégia definida por Walcyr Carrasco para essa novela. E assim ele criou A Dona do Pedaço. Mas na verdade foi ele o dono do pedaço.
