Parceira de Duca Rachid em novelas como Cama de Gato (2009), Cordel Encantado (2011) e Órfãos da Terra (2019), Thelma Guedes participou na última quarta-feira (15) de uma live promovida pelas produtoras Bocapiu Conteúdo Criativo e a Candela Produções Audiovisuais e contou curiosidades sobre a construção de uma telenovela; entre elas, a abordagem de temas complexos para um público que ainda espera dos folhetins um reflexo dos valores tradicionais da sociedade.
VEJA ESSA
“Por vir do melodrama, a telenovela reforça certas instituições como a família, o casamento. Só que dentro deste aspecto de reforço existe um outro de apresentação de temas libertários, comportamentais, de mundos novos. Então ela sempre está dialogando com a sociedade. É o produto mais conservador? Acredito que sim, mas ela abre brechas, inclusive dentro deste público conservador”, opinou.
Thelma detalhou como é feita a apresentação desses temas libertários para o público mais conservador, que muitas vezes não os compreendem bem, como o conflito dos refugiados em Órfãos da Terra. Em junho de 2019, quando a trama estava no ar, uma pesquisa publicada pelo Instituto Ipsos revelou que 40% dos brasileiros não acreditavam que os refugiados estavam no nosso país por questões econômicas, mas sim para se beneficiar dos nossos serviços.
“A questão da novela é a comunicação via emoção, que não é racional. Você não está filosofando e nem explicando, você está apresentando a emoção. Você mostra, ‘olha aqui, você está pensando que esse refugiado chega aqui para tirar o seu emprego? Não, olha, ele tem uma vida igual a você, ele tem sonhos iguais a você’. Mas isso você não fala, você mostra”, explicou.
“‘Joia Rara’ era uma novela escura”
A autora comentou também sobre como o trabalho de um autor de novela é afetado quando uma trama não corresponde à expectativa da emissora e citou Joia Rara como um dos raros momentos em que enfrentou a pressão por audiência em sua carreira, embora reconheça que o espírito de um folhetim tradicional seja de diálogo constante com os telespectadores.
“A audiência não estava ótima como o esperado por causa de ‘Cordel Encantado’. É isso também, você faz um grande sucesso e depois você precisa segurar essa onda. Mas eu entendo, a gente estava num calor absurdo, a novela era invernal, e as pessoas em casa vendo uma novela escura, com tema pesado. Você fala de budismo tibetano, você tá falando de morte, né?”, refletiu.
Thelma comentou ainda que, mesmo diante das transformações do gênero, a sua busca é repetir a fórmula clássica em suas novelas. “A gente não nega os clichês. Novelas sem clichês eu não conheço. Como você apresenta esses clichês é a questão, dar um frescor para eles, isso a gente tenta fazer”, disse.
Daniel Ribeiro cobre televisão desde 2010. No RD1, ao longo de três passagens, já foi repórter e colunista. Especializado em fotografia, retorna ao site para assinar uma coluna que virou referência enquanto esteve à frente, a Curto-Circuito. Pode ser encontrado no Twitter através do @danielmiede ou no [email protected].