O Jornalismo da Globo vai passar por uma grande mudança nos próximos meses. Isso porque a diretora do setor Silvia Faria – considerada a número 2 da área na emissora – deixará o cargo no final do ano. A informação foi anunciada pelo diretor-geral de jornalismo, Ali Kamel.
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Em longo texto, compartilhado na empresa, nesta quarta-feira (12), Kamel confirma que a profissional será substituída em janeiro por Ricardo Villela, atualmente diretor-executivo de Jornalismo.
O diretor-geral destacou o trabalho de Silvia, que entrou na Globo em 2001 e ocupou diferentes cargos de chefia em Brasília até chegar, em 2012, o posto atual, de diretora de jornalismo. Segundo o executivo, a diretora é seu “braço direito (e esquerdo)”.
De acordo com o texto, o desejo de sair da empresa foi manifestado pela profissional no fim de 2017, mas, na época, ela foi convencida por Ali Kamel para seguir no cargo.
Porém, a situação mudou desta vez. “Eu não pude mais pedir que ficasse. Já com três netinhos, não quer se aposentar. Mas está firme no propósito de estudar, de conhecer, de se engajar em outros projetos fora do jornalismo. E aproveitar a família”, desabafa o chefão do Jornalismo e Esportes.
O substituto de Silvia Faria chegou na emissora carioca em 2006 e assumiu postos executivos nos principais telejornais até que, em 2018, entrou no cargo atual, no lugar de Mariano Boni, que migrou para o entretenimento como diretor de variedades.
Confira o texto de Ali Kamel:
“Eu conheci a Silvia Faria em maio de 1991, quando cheguei a Brasília para dirigir a sucursal do Globo. Ela era repórter de economia e em muito pouco tempo se tornou coordenadora de economia na sucursal. Nós nos tornamos vizinhos, eu na QI 7 e ela na QL 7 do Lago norte. Quando voltei para o Rio em 1993, foi Silvia quem cuidou dos meus gatos por um bom tempo. Ano que vem, faremos 30 anos de amizade.
Silvia começou cedo na profissão. Formou-se em 1979 na UnB e já era funcionária concursada do Banco do Brasil havia três anos, numa época em que isso significava estabilidade para a vida inteira, um empregaço. O que fez a Silvia? Pediu demissão porque fora efetivada no estágio que fazia no Jornal de Brasília. Paixão pelo jornalismo desde o início.
Começou então uma carreira vitoriosa. Em 1980, repórter da Folha de S.Paulo. Em 1986, repórter do Globo. Em 1990, repórter do Relatório Reservado, então um prestigiado informe de política e economia. Em 1991, voltou para o Globo quase ao mesmo tempo em que cheguei à cidade. Em 1993, coordenadora de economia da Folha em Brasília. Em 1994, chefe de redação do Globo em Brasília. Em 1997, coordenadora de Comunicação do Banco Central. Em 1999, diretora da sucursal de Brasília do Estadão. Em 2001, diretora da sucursal da revista Época em Brasília. Em 2001, chefe de Redação da Globo em Brasília. Em 2005, diretora de Jornalismo da Globo em Brasília. Em 2011, diretora-executiva de Jornalismo em Brasília. E, desde 2012, diretora de jornalismo da Globo (ou da Central Globo de Jornalismo, como chamávamos), meu braço direito (e esquerdo).
Um currículo de tirar o fôlego. Fez tudo, brilhou por onde passou. Colecionadora de furos e de grandes coberturas (nossa primeira cobertura juntos, cheia de furos, foi o impeachment de Collor).
E um ser humano de primeira grandeza, como todos reconhecemos. Sabe ouvir, sabe liderar. Sabe consolar, sabe estimular. Tem sempre uma palavra de elogio, mesmo na crítica. E sabe organizar, inovar processos. Tudo fica melhor, mais ágil, depois que passa pelo olhar dela.
Por tudo isso, levei um susto quando no fim de 2017 Silvia me disse que queria dar novo rumo à vida dela. Não se referia ao currículo brilhante que tem, porque não é disso. Mas dizia que já fez tudo, tinha orgulho de tudo e queria mais tempo para estudar, para viajar, para curtir a família. Como confio cem por cento nela, acreditei quando me disse que não tinha nenhum convite, não era esse o motivo.
Mas eu conheço a Silvia, e adiei os planos dela dizendo: mas vai sair antes das eleições de 2018? Ela deu um sorriso e disse: “Tá certo, fico até o fim de 2018”.
Passada a eleição, ela me cobrou: “Agora saio”. E eu disse: “Mas vai perder o primeiro ano desse governo, tantas marolas e algumas ondas pela frente?” De novo, eu a convenci, mas foi bem difícil. Ela impôs um prazo: dezembro de 2019.
Silvia é um doce, mas melhor não contrariar. Em agosto do ano passado, voltei à carga, e pedi que ficasse mais um ano. Depois de muito esforço, Silvia disse que ficaria até março.
Aí veio a pandemia, e Silvia não é de sair em meio a uma tempestade. Não voltamos a falar. Ficou me ajudando, como sempre, trabalho duro e pesado.
Até duas semanas atrás. Me chamou pelo Teams e disse: “Ali, saio em dezembro”.
E pronto. Eu não pude mais pedir que ficasse. Já com três netinhos, não quer se aposentar. Mas está firme no propósito de estudar, de conhecer, de se engajar em outros projetos fora do jornalismo. E aproveitar a família.
Silvia fica onde está até dezembro. Temos a pandemia, as eleições, sempre um desafio à frente. Depois parte para as boas aventuras dela.
A minha sorte é que eu perco a companheira de trabalho, mas não a amiga. Mesmo quando em outras empresas, mantivemos laços estreitos. Eu disse outro dia num dos boletins Nossos Colegas que Brasília foi fundamental na minha vida. Fiz ali amizades para a vida toda. Com Silvia, uma das mais bonitas.
Isso não se perde. É um consolo.
O outro consolo é que Silvia deu tempo para que cuidássemos da sucessão. E ela se dedicou a isso. A posição que ocupa não é fácil, todos podem imaginar. E ela usou esse tempo em que esteve decidida a sair para ajudar a lapidar ainda mais seu sucessor, um talento como ela.
Depois de 31 de dezembro, assume o lugar da Silvia o Ricardo Villela.
Villela, como o chamamos, é um profissional de mão cheia. Apesar de ter começado a vida profissional no impresso, sempre nutriu um desejo grande de trabalhar em TV. E eu sou testemunha disso.
Em 2002, sem me conhecer, ele me mandou um e-mail (na época, eu publicava um artigo quinzenal no Globo, e meu e-mail aparecia ao final). Ele foi simpático, mas direto. Era o editor das revistas Domingo e Programa, do Jornal do Brasil, gostava do que fazia, as revistas repercutiam, mas ele queria fazer TV. E se colocava à disposição.
Sempre gostei de pessoas assim, que dizem o que pensam e o que querem sem maiores inibições. Trocamos algumas mensagens, mas a coisa não foi para a frente.
Em 2005, Villela era o redator-chefe da Playboy, da Abril, uma revista de muito prestígio especialmente pelas entrevistas e reportagens que trazia e não tanto por outros atributos (e quem for da minha geração saberá que não há ironia aqui). De novo, Villela me mandou um e-mail. De novo, ele me disse de sua vontade de trabalhar em TV.
Eu gostei do que li. E pedi que o Luiz Cláudio Latge, então diretor de Jornalismo em São Paulo, o procurasse para um almoço. Latge voltou, claro, muito empolgado. Mas não havia vaga. Ou melhor, havia, mas para cobrir férias como um dos editores do JG.
Eu disse para o Latge contar para ele. Caberia ao Villela decidir. E sabe o que o Villela fez? Tirou férias na Playboy e foi para o JG cobrir as férias do nosso colega. E ainda pediu para dobrar e fazer também o SP2.
Inusitado. A ponto de o Mariano Boni, então editor-chefe do JG, ficar com a impressão de que o real objetivo do Villela era se infiltrar ali para, depois, fazer uma daquelas reportagens de Playboy que elogiei há pouco.
Mas demos a chance. O editor-executivo do JG na época era o Erick Bretas. Latge, Mariano e Erick gostaram muito do trabalho do Villela. Mas as férias acabaram, não havia vaga e Villela voltou para Playboy.
Mas oportunidades se abrem. Dois meses depois, uma sucessão de promoções foram sendo feitas. Mariano foi para a chefia de redação de SP, Erick assumiu como editor-chefe do JG, abriu-se a vaga de editor de política no jornal. E o primeiro nome que Erick pensou foi o do Villela.
E ele aceitou, mesmo para uma vaga menor em importância e salário. Queria aprender a fazer TV.
E aprendeu rápido.
Sua bagagem mostrava que isso não seria difícil. Depois de trocar três anos de Engenharia pelo curso de Jornalismo, ele se formou em 1996, na PUC-RJ. Já no ano seguinte, foi contratado pela Veja em São Paulo, e seis meses depois rumou para Porto Alegre para chefiar a sucursal da revista. Em 1998, voltou para SP para ser sub-editor de Geral, função que ocupou até início de 2000, quando se tornou ele próprio o editor de Geral de Veja. Em 2001, veio para o Rio ser o editor de Domingo e Programa do JB, em 2002 voltou para a Abril para chefiar novos projetos e em 2003 assumiu a função de Redator-chefe de Playboy.
Aqui na Globo, em 2006 se tornou editor-executivo do JG, em 2008, editor-executivo do JN em SP, em 2010, editor-chefe do JG, em 2012, chefe de redação de SP, em 2013, diretor de jornalismo em Brasília e, em 2018, veio para o Rio ser diretor-executivo de jornalismo.
Todos sabemos o que o Brasil viveu todos esses anos. Das manifestações de junho, quando estava em SP, um dos epicentros, passando, no olho do furacão em Brasília, pelas eleições de 2014, Lava-Jato, impeachment de Dilma, denúncia contra Temer até as eleições de 2018.
Uma montanha-russa sem parada, que Villela viveu com adrenalina mas muita segurança.
Por toda a experiência que acumulou nessa trajetória tão feliz, Villela será o sucessor ideal da Silvia. Nesses dois anos aqui no Rio, esteve ao lado dela em todos os momentos, o que torna a sucessão ainda mais suave.
A partir de janeiro de 2021, Villela substituirá a querida Silvia com todas as atribuições que hoje ela tem.
Silvinha, obrigado por todos esses anos de um trabalho lindo. Sempre disse a você e repito agora: você é o máximo. Seja feliz em seus nossos projetos. Minha amiga querida.
Villela, sucesso a partir de janeiro. Os anos que estão por vir prometem. Prometem sobretudo a continuidade do bom jornalismo na Globo.
A convite de João Roberto Marinho, Villela ocupará também o lugar de Silvia no Conselho Editorial do Grupo Globo a partir de janeiro, ao meu lado.”
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