Clássico da Record, Prova de Amor assustou Jornal Nacional e correu de Rebelde

Prova de Amor

Lavínia Vlasak (Clarice) e Marcelo Serrado (Daniel) em Prova de Amor; novela ganha reprise a partir de hoje (17) (Imagem: Divulgação / Record)

A Record dá início nesta segunda-feira (17), 15h15, à terceira reprise de Prova de Amor (2005). O maior êxito da fase 2004-2015 – do advento do RecNov à aposta em novelas bíblicas – tem a missão de elevar a audiência da faixa, combalida por Belaventura (2017). Separei curiosidades da trama de Tiago Santiago relacionadas à escalação de elenco, à concorrência com Globo e SBT e outros detalhes de bastidores.

Prova de Amor

Pedro Malta (Eduardo) em Prova de Amor; trama de gêmeos foi apresentada por autor à Globo (Imagem: Divulgação / Globo)

Prova de Amor foi inspirada em A Pequena Órfã, folhetim que Teixeira Filho desenvolveu para a Excelsior em 1968 – e que serviu de base para Sonho Meu (1993), da Globo. Tiago Santiago também foi buscar referências em clássicos da literatura, como O Conde de Montecristo e O Príncipe e o Mendigo. A obra de Alexandre Dumas inspirou a vingança de Daniel (Marcelo Serrado), perseguido pela polícia por um crime que não cometeu, numa armação de Vítor Lopo Jr (Leonardo Vieira). O conflito dos gêmeos Eduardo e Joãozinho (Pedro Malta), criados em universos distintos, saiu do livro de Mark Twain.

O autor já havia tentado emplacar o enredo dos irmãos na Globo, onde fez carreira como colaborador. “Entreguei três sinopses. Duas eram histórias minhas, contemporâneas, com tramas urbanas parecidas com as de Prova de Amor. Propus Água do Paraíso, em 1992, e Flores e Espinhos, em 2004, que tinha a história dos gêmeos que usei agora na Record. Em 1997, sugeri uma trama de época, baseada na vida de Ana Jansen, imperatriz do Maranhão [no século XIX], que era um projeto do Herval Rossano”, revelou a Folha de S.Paulo, em 22 de janeiro de 2006; mesmo bem avaliadas, segundo Tiago, as sinopses não foram adiante.

Cabe lembrar que o entrecho dos gêmeos já havia sido aproveitado por Santiago em Pobre Menina Rica, episódio da temporada de 1996 do Você Decide.

Prova de Amor

Jéssica Sodré (Lúcia) em Prova de Amor; destaques de novelas da Globo ganharam espaço na concorrente (Imagem: Divulgação / Record)

Tiago Santiago chegou à Record em 2004, a convite de Herval Rossano, encarregado do roteiro de A Escrava Isaura. Herval já estava fora da emissora quando Prova de Amor entrou em produção. A direção geral de Prova de Amor coube ao recém-contratado Alexandre Avancini, diretor de novelas das quais Tiago participou como colaborador – casos de Uga-Uga (2000) e Kubanacan (2003), de Carlos Lombardi. O elenco também privilegiou profissionais da concorrência, seduzidos por polpudos salários e pela nova logística de produção do canal, com estúdios no Rio de Janeiro, próximas ao antes chamado Projac.

Como alvos, atores cujos contratos haviam expirado. Casos de Vanessa Gerbelli e Marcelo Serrado, escalado, a princípio, para o vilão Lopo Jr. Durante a preparação, Leonardo Vieira descobriu uma hérnia inguinal, sendo submetido à cirurgia e, por consequência, deixando o mocinho Daniel, de mais ação, para o colega. Ângelo Paes Leme, Bruno Ferrari, Carmo Dalla Vecchia e Cláudio Heinrich – que deixou o Globo Ecologia para mudar de casa – foram testados para o protagonista, antes da troca de papéis. O português Ricardo Pereira chegou à trama dois meses após a estreia, embalado pelo êxito do herói que vivera em Como Uma Onda (2004).

A Record também levou Daniel Andrade, destaque de Esmeralda (2004) do SBT, e outros nomes que, assim como Leonardo, fizeram sucesso em Senhora do Destino (2004): André Mattos, Heitor Martinez, Jéssica Sodré e Luiz Henrique Nogueira. Este último, curiosamente, batalhou sua escalação para A Escrava Isaura antes de explodir como Ubiracy, no folhetim de Aguinaldo Silva. “Eu teria saído muito mais barato. Dessa vez, não. Já que estavam me chamando porque tinha feito sucesso na Globo, fiz milhões de exigências“, confidenciou Nogueira ao jornal Zero Hora, de 11 de dezembro de 2005, contando ainda que recusara um convite para o Zorra Total.

Prova de Amor ainda resgatou Nádia Lippi, longe do vídeo desde Brida (1998), última produção da Manchete, e Priscila Rozenbaum, distante das telas da TV desde Champagne (1983). Já Beatriz Segall e Nathalia Timberg não aceitaram defender Maria Eduarda, entregue a Ittala Nandi.

Prova de Amor

Vanessa Gerbelli (Elza) em Prova de Amor; folhetim ostenta melhor média de audiência da emissora (Imagem: Divulgação / Record)

Intitulada, ainda na pré-produção, A Força do Destino, Destino e Destinos Cruzados, Prova de Amor estreou em 24 de outubro, três semanas após o lançamento de Bang-Bang na Globo. A novela de Mário Prata viu a audiência correr logo nos primeiros capítulos… Talvez isso tenha ajudado Prova de Amor a conquistar a maior média de uma estreia na Record até então: 12 pontos e 14 de pico – mesmo índice do último capítulo da antecessora Essas Mulheres (2005) – contra 28 da emissora líder e 9 do terceiro colocado, o SBT. Em 23 de novembro, a trama aproximou-se da concorrente, com 17 x 21 na Grande São Paulo; no horário completo, 16 x 25.

Com o saldo na média semanal de 11,9 (24 a 29 de outubro) para 14,5 (21 a 26 de novembro), enquanto Bang-Bang foi de 29,3 para 25,1. O canal determinou então o primeiro esticamento, somando 54 capítulos aos 143 inicialmente previstos. Em janeiro, já líder nos números em Recife, Prova de Amor começou a incomodar o Jornal Nacional… No dia 18, no real-time, o folhetim ficou oito minutos à frente do noticiário de Fátima Bernardes e William Bonner; o pico foi de 24,6 ante 21,4 pontos, às 20h30. A Record fez festa com os dados prévios, que não se confirmaram no dia seguinte… O Ibope indicava empate por cinco minutos; às 20h30, 24,8 x 25,9 da Globo.

As cenas que garantiram tal feito eram as de Clarice (Lavínia Vlasak) fugindo do altar, em um helicóptero, com o auxílio de Daniel. A protagonista estava prestes a se unir a Lopo Jr, que ligou o compromisso à revelação da identidade da filha desaparecida dela; na verdade, uma garota contratada para se passar por Nininha (Júlia Magessi).

Prova de Amor

Leonardo Vieira (Vitor Lopo Jr) em Prova de Amor; armação de vilão impulsionou números da produção (Imagem: Divulgação / Globo)

Inconformada com a mudança na audiência consolidada, a Record, que chegou a veicular anúncio após a novela, agradecendo o público pela liderança, questionou o Ibope através de carta assinada por Alexandre Raposo, então presidente da casa. O instituto rebateu, alegando que alterações eram normais – consistiam, no entanto, em um ou dois números. Enquanto isso, no Rio de Janeiro, Prova de Amor atingiu 22 contra 20 do Jornal Nacional, das 20h15 às 20h31 de 19 de janeiro. O mês em questão, quando comparado ao anterior, indicava acréscimo de 31% de na audiência. De 24 de outubro de 2005 a 28 de fevereiro de 2006, 65% de aumento na média.

As médias garantiram a Prova de Amor, claro, mais anunciantes. Além dos intervalos comerciais abarrotados, a produção passou a contar com ações de merchandising. Foram 40 até 30 de maio de 2006, vendidas por valores próximos aos praticados pela Globo. Provocativa, a Record cogitou publicar um anúncio sobre o êxito da obra na revista Época, do grupo concorrente. A propaganda dizia, segundo a Folha de S.Paulo de 17 de janeiro de 2006: “O Brasil descobriu que novela de sucesso não é privilégio de uma só emissora”. A publicação argumentou que não recusou o pedido; o mesmo é que não havia sido feito no prazo estabelecido para tal.

Prova de Amor

Bianca Rinaldi (Joana) em Prova de Amor; esticamentos prejudicaram narrativa (Imagem: Divulgação / Globo)

O avanço sobre a Globo determinou mais esticamentos. Só que, com a narrativa prejudicada pela falta de história para contar, a audiência começou a cair. O público fugiu de soluções pouco críveis, como a descoberta de que Velho Gui (Rogério Froes) era pai de Clarice, Janice (Fernanda Nobre) e Joana (Bianca Rinaldi) e, consequentemente, avó das crianças que abrigou, Nininha, Eduardo e Joãozinho. Nisto, o SBT voltou a ganhar terreno. A mexicana Rebelde venceu confrontos com Prova de Amor no início de março, obrigando a Record a adiar a trama. Na última semana do mês, a disputa apontou 18 para a estação de Silvio Santos versus 12.

Em abril, a Globo contra-atacou com Cobras & Lagartos. Na semana de estreia do enredo de João Emanuel Carneiro, Prova de Amor recorreu a cenas como a prisão dos assassinos do pai de Diana (Patrícia França), o latrocínio envolvendo Marco Aurélio (Ricardo Pereira), as denúncias de Gerião (André Segatti) a respeito de Lopo Jr e a consequente prisão deste. Sem sucesso… Cobras & Lagartos se converteu em um êxito absoluto – a segunda maior média das 19h na primeira década do século XXI.

Prova de Amor

Cláudio Heinrich (Rafael) em Prova de Amor; rumos da novela foram definidos em rede social (Imagem: Divulgação / Record)

As mudanças no roteiro de Prova de Amor aconteciam, muitas vezes, após debates na comunidade da novela no Orkut. Tiago Santiago acompanhava os comentários dos mais de 9 mil membros. Foi de lá, por exemplo, que surgiu a ideia de um gêmeo para Marco Aurélio, com o intuito de manter Ricardo Pereira na trama. Em maio, com a escalação de Renata Dominguez, a Paty, para a substituta Bicho do Mato, o ator e a Record decidiram promover o “final interativo”. Lorena Calábria, então apresentadora do Domingo Espetacular, conduziu a votação: Paty morreria baleada pelo irmão, Lopo Jr, ou fugiria para o exterior com o marido Rafael (Cláudio Heinrich) e a filha?

92% dos votos indicaram a fuga. O revólver de Lopo disparou do mesmo jeito. O malvado, contudo, errou o tiro. O sucesso da empreitada levou Tiago a planejar “finais alternativos” para Alexandre (Deo Garcez), dividido entre Eleonora (Anna Markun) e Valéria (Valquíria Ribeiro), e para o próprio Lopo; a ideia era deixar o “quem matou?” por conta do público. A única ação do tipo envolveu Teresa (Cláudia Alencar), envolvida com Cadu (Raul Gazolla) e Hélio (Roberto Pirillo).

Na reta final, Prova de Amor ensaiou um relacionamento lésbico entre Janice e Raquel (Maria Ribeiro). Santiago também pretendia que os telespectadores decidissem a respeito da manutenção do romance – numa época em que o beijo entre pessoas do mesmo sexo era utilizado como recurso para impulsionar os números. A revista Veja destacou, em 7 de junho de 2006, que o bispo Honorilton Gonçalves, superintendente da emissora, demoveu o autor de tal ideia. “Havia sempre o risco de o público votar ‘sim’, o que seria impróprio para o horário”, esquivou-se Tiago Santiago, minimizando o impacto da Igreja Universal do Reino de Deus na grade.

Prova de Amor

Patrícia França (Diana) em Prova do Amor; série derivada do folhetim não saiu do papel (Imagem: Divulgação / Record)

Partiu de Honorilton também a decisão sobre um seriado derivado de Prova de Amor, que nunca saiu do papel. O spin-off compreenderia o núcleo policial da novela, liderado por Diana e Júlio (Jorge Pontual). Também a casa de Teresa, então ao lado de Cadu e do caçula Gabi (Theo Becker), e a família de Padilha (André Mattos), incluindo a esposa Marília (Maria Ceiça) e a sogra Zita (Marina Miranda) – escalada após pedir emprego no Sonia e Você, programa de Sonia Abrão na casa.

O táxi de Padilha também serviu como arma do autor no “estica e puxa” de Prova de Amor. Cenas absolutamente gratuitas, em que o chofer transportava celebridades, tornaram-se corriqueiras. Ana Hickmann foi a primeira a participar. Enquanto ela lamentou a violência do Rio de Janeiro, Kelly Key desabafou sobre a pirataria de CDs. Almir Sater, Beatriz Segall, Ewerton de Castro e Marcos Mion anunciaram a substituta, Bicho do Mato. Floriano Peixoto, Lucélia Santos, Paloma Duarte e o autor Lauro César Muniz divulgaram o novo horário de novelas, às 20h, exaltando a importância de produzir novelas diante de uma “concorrente poderosa”.

Duh Secco
Escrito por

Duh Secco

Duh Secco é  "telemaníaco" desde criancinha. Em 2014, criou o blog Vivo no Viva, repercutindo novelas e demais atrações do Canal Viva. Foi contratado pela Globosat no ano seguinte. Integra o time do RD1 desde 2016, nas funções de repórter e colunista. Também está nas redes sociais e no YouTube (@DuhSecco), sempre reverenciando a história da TV e comentando as produções atuais.