Como é difícil dizer adeus para Tarcísio Meira…

Tarcísio Meira

Tarcísio Meira, ídolo de várias gerações, morreu nesta quinta-feira (12), aos 85 anos (Imagem: Zé Paulo Cardeal / Globo) 

85 anos de idade, mais de 60 dedicados à arte. Tarcísio Meira nos deixou nesta quinta-feira (12), vítima da Covid-19. Ator do mais alto quilate. Ídolo nacional. Herói de várias gerações. Modelo de marido e pai. A morte deste gigante dói na alma. Dói como se fosse um parente próximo. Dói em cada lembrança guardada por nós, aficionados por dramaturgia – especialmente a televisiva.

Tarcísio Pereira de Magalhães Sobrinho adotou Tarcísio Meira, 13 letras, como nome artístico porque 13 era o número da sorte para quem, há seis décadas, almejava viver de arte. O mesmo fez a companheira de ofício e de vida Nilcedes Soares, nossa Glória Menezes. “Nossa”, assim como Tarcisão seguirá “nosso”, tamanha intimidade com o casal cuja história se confunde com a da televisão no Brasil.

Tarcísio e Glória, já figuras constantes nos palcos, se envolveram nos bastidores do teleteatro Uma Pires Camargo (1961), cartaz do Grande Teatro Tupi. Dois anos depois, então casados, estiveram à frente de 2-5499 Ocupado, da Excelsior, a primeira novela diária da TV brasileira. Na mesma emissora, estrelaram vários folhetins da mestra Ivani Ribeiro, como A Deusa Vencida (1965), ao lado da então estreante Regina Duarte.

A transferência para a Globo, que buscava consolidar-se entre as grandes redes, se deu em 1967, ao lado de outra gênia: Janete Clair. Com a amiga, fizeram a clássica Irmãos Coragem (1970). Glória em papel triplo, Lara, Diana e Márcia. Tarcísio na pele de João Coragem, herói do Brasil sertanejo, enfim representado na tela.

Hoje, quando comentei com um querido amigo septuagenário, seu Jair, sobre a morte do ator ouvi como resposta: “Lá se foi meu ídolo João”. Por ele, os colonos da fazenda em que Jair vivia desafiavam os patrões e mantinham a energia elétrica ligada até as cenas do próximo capítulo.

Tarcísio Meira e Glória Menezes eram mania nacional. No tempo em que celebridades só se via no televisor ou em capa de revista, os dois venderam sabe-se lá quantos exemplares da Amiga, da Contigo!, da Sétimo Céu… A história do casal também se afina com a a da indústria da mídia e tudo que a cerca – os boatos maledicentes de traições e separações não se criavam, tamanha empatia do casal.

Foi preciso, porém, que os dois se distanciassem, nas novelas, para que público e crítica entendessem que Tarcísio e Glória eram mais do que o par perfeito, o galã e a mocinha. Além de filmes no qual deu amostras do talento, Tarcísio protagonizou tramas como Escalada (1975), Roda de Fogo (1986), Araponga (1990), Pátria Minha (1994) e outras tantas nas quais atestou sua vocação para a dramaturgia.

Nas últimas duas décadas, o ator buscou diversificação. O execrável Dom Jerônimo, de A Muralha (2000), foi tão marcante quanto o vampiro boa-praça, guardadas as devidas proporções, Bóris, de O Beijo do Vampiro (2002) – que encantou meus primos Iago e Matheus. Não foram poucos os dias em que deixaram de brincar para ver Tarcísio brincando. O ator passou por tantas gerações que, certamente, há poucos neste país alheios ao seu trabalho.

Linda história esta que Tarcísio Meira escreveu, ao lado de Glória na vida e na obra, e também “sozinho”. Um ator como ele não sai de cena jamais. Seu trabalho está eternizado nas mídias que conservam títulos como Roda de Fogo, meu programa preferido no Globoplay. Sua imagem está associada às melhores lembranças dos brasileiros…

No entanto, é impossível não pensar que os grandes estão partindo. Que a história da nossa TV, de certa forma, está morrendo. Que nós já não somos mais os mesmos… E que estas partidas doem cada vez mais. É impossível escrever qualquer coisa a altura de Tarcísio Meira. Cabe o aplauso, a lágrima e o agradecimento.

Duh Secco
Escrito por

Duh Secco

Duh Secco é  "telemaníaco" desde criancinha. Em 2014, criou o blog Vivo no Viva, repercutindo novelas e demais atrações do Canal Viva. Foi contratado pela Globosat no ano seguinte. Integra o time do RD1 desde 2016, nas funções de repórter e colunista. Também está nas redes sociais e no YouTube (@DuhSecco), sempre reverenciando a história da TV e comentando as produções atuais.