O presidente Jair Bolsonaro é muito generoso. Generosíssimo.
VEJA ESSA
Principalmente quando o ato de generosidade envolve o SBT ou a Record.
Em 30 de março passado, o Diário Oficial da União informou sobre o contrato firmado pela TV Brasil, através da EBC, para a exibição das duas temporadas de Os Dez Mandamentos.
O acordo dura 18 meses, valendo a partir de 15 de março.
O negócio rendeu precisamente R$ 3,2 milhões aos cofres da Record. Uma ajuda divina… Ainda mais nesse momento de pandemia, quando os anúncios publicitários se tornaram escassos e disputados.
Além do presente de grego para o erário, o negócio, que causou estranheza, não faz sentido algum, uma vez que a novela foi explorada à exaustão pela Record.
E, oito meses depois, se apresentou com menos sentido ainda. Um sentido ínfimo, de cercadinho.
Na semana passada, a Record anunciou que reprisará Os Dez Mandamentos e A Terra Prometida em versão compactada, a fim de fazer a ponte entre Gênesis e sua próxima produção, Reis.
Ainda que o R7, o portal de notícias da emissora, venda o repeteco como algo necessário, incrível e fabuloso, o recurso expõe a falta de organização da Record, que passou a pandemia inteira martelando que dispunha de mais planejamento para gravar suas novelas do que a Globo.
Ao pagar mais de R$ 3 milhões para exibir uma trama manjada, a direção da TV Brasil, a presidência da EBC e o presidente da República mostram que há algo estranho no ar. E não são as pragas do Egito.
O contrato, ainda que absurdo por si só, deveria contemplar a exclusividade de exibição da produção no período exposto. Ou seja, a Record deveria estar proibida de reprisar Os Dez Mandamentos entre 15 de março de 2021 e 15 de setembro de 2022.
Mas, em casos assim, a generosidade sempre fala mais alto. E como fala.
Além de não dispor de zelo com o dinheiro público, a presidência da República comprova que nada entende de programação de TV – a micada TV Brasil é a prova disso.
Sim, por algumas semanas, Os Dez Mandamentos na TV Brasil vai concorrer com Os Dez Mandamentos na Record. Um colosso.
E haja generosidade!
João Paulo Dell Santo consome TV e a leva a sério desde que se entende por gente. Em 2009 transformou esse prazer em ofício e o exerceu em alguns sites. No RD1, já foi colunista, editor-chefe, diretor de redação e desde 2015 voltou a chefiar a equipe. Pode ser encontrado nas redes sociais através do @jpdellsanto ou pelo email [email protected].