A Record já conseguiu ótimos índices de audiência com suas novelas bíblicas em um passado não muito distante – um filão no qual aparentemente a Globo, toda moderninha e “liberal”, jamais pensaria em investir.
O que talvez poucos saibam é que, há uns poucos anos, o canal carioca já esteve a ponto de produzir um folhetim que, de alguma forma, reunia características da atual trama de Edir Macedo, “Apocalipse”, e da que está por vir, “Jesus”.
A obra seria escrita por Benedito Ruy Barbosa e levaria o sugestivo título de “E Se Ele Voltar?”, abordando o fim dos tempos e a profecia bíblica de que Jesus Cristo retornará à Terra para buscar Sua igreja – fato, inclusive, abordado diretamente em “Apocalipse”, com o desaparecimento de muitos personagens que professavam o cristianismo.
A sinopse foi oferecida à Globo pelo autor de “O Rei do Gado” (1995) e “Terra Nostra” (1999) em 2015, época em que a “vênus platinada” apanhava do fenômeno “Os Dez Mandamentos” em seu horário nobre, com a inglória e rejeitada “A Regra do Jogo”.
Inicialmente, foi divulgado na mídia que o enredo girava em torno de “um grupo de pessoas que viviam a expectativa – ou a realidade – da volta de Jesus Cristo à Terra”. No entanto, mais tarde foram revelados outros detalhes potencialmente polêmicos da obra que Benedito pretendia escrever.
“E Se Ele Voltar?” mostraria, em um dado momento de sua história, Jesus Cristo retornando à Terra e convivendo com as pessoas como um homem comum, com todos os defeitos próprios de um cidadão moderno – bem diferente do Messias biblicamente descrito, que será interpretado por Dudu Azevedo na novela vindoura da Record.
Silvio de Abreu teria enxergado nessa sinopse um potencial realmente “bombástico”, no mau sentido. Na avaliação do diretor de dramaturgia da Globo, exibir em horário nobre uma história que “arranharia” a imagem da figura mais sagrada do cristianismo certamente provocaria a rejeição imediata de espectadores católicos e protestantes, maioria religiosa no Brasil – à época, a emissora ainda vivia o fantasma de “Babilônia”, fracasso histórico de audiência após sofrer boicote de grupos evangélicos.
A abordagem de temas tabus, como atuação nazista no Brasil moderno e clonagem de seres humanos, em paralelo à trama central, também foi vista sob o receio de acentuar essa rejeição. Ou seja: “E Se Ele Voltar?” tinha tudo para significar um verdadeiro tiro no pé para a Globo, e em seu principal horário de novelas!
Como não poderia deixar de ser, a trama foi rejeitada poucos meses após ter entrado em pauta – fato que, inclusive, teria desagradado profundamente Benedito Ruy Barbosa. O autor teria se queixado à direção da Globo de sua proposta ter sofrido um descarte tão imediato, sem sequer terem sido encomendados ajustes para uma posterior reavaliação, como geralmente ocorre nesses casos.
Curiosamente pouco depois, em 2016, Benedito seria aprovado para o horário nobre com outra trama repleta de ousadias, “Velho Chico”, a qual efetivamente não caiu no gosto popular. Seja como for, o fato é que “E Se Ele Voltar?” acabou perdida na gaveta da Globo, de onde provavelmente nunca chegará a sair…
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