Os “universos dramatúrgicos” de Miguel Falabella e Gloria Perez estão sempre em alinhamento. Ambos prezam pelo “diferente” e pela tolerância. Talvez por isso Gloria tenha confiado ao amigo a missão de transformar uma história narrada no Twitter em série para o Globoplay. Dos relatos de Eduardo Hanzo sobre a conflituosa relação de sua avó e de uma vizinha nasceu Eu, a Vó e a Boi, disponibilizada aos usuários do serviço de streaming no próximo dia 29.
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“Eu não tenho Twitter, mas a Gloria Perez viu essa sequência e me mostrou. Nós conversamos muito e ela foi muito importante no meu processo de escrita. Tive dela uma mão segura, carinhosa e afetuosa que foi fundamental“, destaca Miguel Falabella sobre a amiga.
O Brasil dividido por entreveros políticos também norteou o autor. “Essa história chegou para mim exatamente no momento em que o país estava mais polarizado e com o ódio muito cultivado. Então eu liguei as duas coisas e fiz uma série que tem muito ódio e o rancor. Para essa narrativa, parti de uma notícia que li de que 75% dos jovens de hoje não tem qualquer esperança no país“, revelou.
Eu, a Avó e a Boi traz duas vizinhas que, há 60 anos, fazem de tudo para prejudicar a vida uma da outra: Turandot (Arlete Salles) e Yolanda (Vera Holtz), a “Boi” – apelido dado pela primeira, ao concluir que “vaca” está fora de moda. Aposentadas e viúvas, elas usam o tempo livre para alimentar as desavenças. Em comum, o neto Roblou (Daniel Rangel), do relacionamento de Norma (Danielle Winits), filha de Turandot, e Montgomery (Marco Luque), herdeiro de Yolanda, desaparecido há 10 anos.
“Embora seja uma série de humor, com tipos muito inusitados, ela também coloca o dedo na ferida. Hoje temos um país sentido, dividido. O discurso é sempre da truculência. E isso é o que a avó e a Boi fazem nessa história. Elas não argumentam, elas agem uma contra a outra“, adianta o autor.
A rivalidade cresce com a volta de Montgomery para Tudor Afogado, a rua onde Turandot e Yolanda se digladiam – em casas vizinhas, separadas apenas por uma vala. A tensão que antes consistia apenas na disputa pela presidência da associação de moradores passa a compreender o temor pela reconciliação de Norma e do sumido, agora namorando a venezuelana Milagros (Paula Cohen).
Ainda o casal Celeste (Giovana Zotti), a primogênita de Turandot, noiva há 25 anos do comerciante Cabello (Edgar Bustamante); a sobrinha deste, Demimur (Valentina Bulc), interesse amoroso de Roblou; Marlon (Magno Bandarz) e Matdilou (Matheus Braga), caçulas de Yolanda e Norma, sustentados pelas “sugar mammas” Bangalow (Eliana Rocha) e Mary Tyler (Stella Miranda); a policial Rocha (Alessandra Maestrini) e Orlando (Otávio Augusto), dono de um brechó “suspeito”.
“Para mim foi muito fácil criar personagens que ingressassem nesse universo que já existia, que era o da rivalidade e do ódio entre as duas mulheres. Eu comecei a pensar na história delas. Elas teriam filhos? Como seriam esses filhos? E assim começaram a nascer os personagens. E obviamente a vida de cada um desses personagens ia me trazendo novos personagens“, comenta Falabella sobre o processo de criação.
“Talvez, de tudo que eu tenha escrito – e eu tenho muito orgulho das coisas que já fiz –, esse seja o meu trabalho mais arrojado, mais contemporâneo. E também o mais doido, mais fora da caixinha“, arrematou Falabella, destacando ainda a parceria com o diretor artístico Paulo Silvestrini.
“Foi um encontro genial. Ele conceitua porque sabe o que quer fazer, e faz. Ele me escolheu, decidiu fazer pela primeira vez um trabalho meu e isso me deixa muito honrado”, celebrou.
Duh Secco é "telemaníaco" desde criancinha. Em 2014, criou o blog Vivo no Viva, repercutindo novelas e demais atrações do Canal Viva. Foi contratado pela Globosat no ano seguinte. Integra o time do RD1 desde 2016, nas funções de repórter e colunista. Também está nas redes sociais e no YouTube (@DuhSecco), sempre reverenciando a história da TV e comentando as produções atuais.