Em meio à pandemia do novo coronavírus e o aumento do consumo de televisão no Brasil, a Band resolveu alegrar a quarentena dos seus telespectadores com o resgate de clássicos que marcaram a TV nos anos 1980 e 1990. Desde o dia 22 de março, O Fantástico Jaspion, Esquadrão Relâmpago Changeman e O Incrível Ninja Jiraya conferem um ar saudosista aos domingos do canal.
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Com a exibição dos Tokusatsus – gênero de seriado no qual os heróis combatem o mal -, a emissora da família Saad viu sua audiência pular de modestos 0,5 de média para 2 pontos e picos de quase 3 na Grande São Paulo. A parceria com a Sato Company, que detém os direitos dos seriados no Brasil, também providenciou uma agitação nas redes sociais.
Jaspion, que foi exibido no Brasil pela primeira vez em 1988, na extinta TV Manchete, traz uma série de curiosidades ao longo dos seus 46 episódios. Em suma, um justiceiro do espaço tenta defender o Universo de monstros que são enfurecidos pelo poderoso Satan Goss, vilão do seriado que tem em seu filho, MacGaren (conhecido no Japão como Maddo Garanto ou Mad Galant), um anti-herói. Jaspion e Daileon – nave-robô gigante – travam uma enorme luta contra o mal ao longo do seriado com a ajuda de alguns amigos que retrataremos neste texto.
Nesta edição da coluna TV Nostalgia, escalamos algumas curiosidades sobre este guerreiro espacial que chegou ao Brasil para ficar de vez em nossos corações.
O nome original do seriado é Kyoju Tokuso Juspion. A tradução ao português é similar a “Investigador de Monstros Juspion”. No Brasil, virou O Fantástico Jaspion e ganhou dublagem do estúdio Álamo para ser exibido na TV Manchete.
Ao longo de 46 episódios, Jaspion contou a história de um órfão intergalático criado pelo sábio Edin (Noboru Nakaya) que tinha a missão de combater o malvado Satan Goss, que fora criado por todas as energias negativas do Universo – ao longo do seriado, acredita-se que MacGaren seja filho de Satan Goss, mas a origem do vilão é a mesma do “pai”. O sábio eremita acreditava que Jaspion era o nome que salvaria o Universo de Satan Goss, de acordo com a Bíblia Galática. Edin achou Jaspion em um destroço de uma nave caída em seu planeta e o criou para cumprir tal destino. Além disso, o sábio criou os equipamentos que são usados pelo herói.
Criado em 1985, Jaspion foi considerado um fracasso no Japão e cancelado depois da primeira temporada (após os 46 episódios). O tokusatsu chegou ao Brasil no dia 22 de fevereiro de 1988, quando foi exibido o primeiro episódio dentro do programa Clube da Criança, apresentado por Angélica na Rede Manchete.
O nome do seriado originalmente é Juspion, que é a junção das palavras em inglês “JUStice” (Justiça) e “ChamPION” (Campeão). A produção se encaixa no gênero Metal Heroes no qual os heróis usam armaduras de metal enfrentando o império do mal. A popularidade do seriado no Brasil gerou interesse da Bandai em criar produtos como bonecos.
O seriado quase teve o nome do personagem principal como sendo “Deniro”, porque os produtores queriam fazer uma homenagem ao ator Robert De Niro, mas a ideia foi abortada. Um dos motivos foi que seriados anteriores como Gavan e Shaider homenagearam atores ocidentais como o francês Jean Gavin e o americano Roy Scheider, respectivamente.
Os atores do seriado tiveram outros rumos após o fim de Jaspion. Ator e dublê profissional, Hikaru Kurosaki, o Jaspion, resolveu deixar as telas para dar aula em sua escola de mergulho na região de Okinawa, no Japão. A medida aconteceu após desentendimentos com a Toey Company. O professor Nambara, vivido por Isao Sasaki, entrou para a música e tem muitos temas de séries famosas em seu currículo sendo um deles o da série Metalder.
Hiroshi Watari, que viveu Boomerman – personagem que lutava com bumerangues usando a técnica Cross Cutter e que foi criado às pressas para suprir a falta de tempo de Hikaru nas gravações por causa de suas participações no teatro – deu vida a Sharivan, em 1983, e Spielvan, em 1986. O ator acabou deixando Jaspion por possuir pinos de metal na perna, devido a um acidente e teve que se submeter a outra cirurgia para a retirada dos mesmos. Anri (Kiyomi Tsukada) saiu do seriado para atrações na TV Fuji. A partir de 1990, a atriz fez séries como Abusenbo Shogun, da TV Asahi. Tsukada também fez Toyama no Kimsan e Mito Komon, ambas na TBS.
Satan Goss é, visivelmente, baseado no vilão de Star Wars, Darth Vader. Seu nome original é Satan Gorth. Além do malvado, outra referência à série espacial feita por George Lucas acontece no primeiro episódio de Jaspion, numa cena clássica de Star Wars. O episódio “Star Wars Episódio IV: Uma Nova Esperança” foi lembrado com uma banda alienígena em um bar que Jaspion esteve.
Hikaru nunca vestiu a armadura de Jaspion, chamada no Japão por Metaltec Suit e no Brasil por Traje Metaltex. Quem ficava encarregado de usar o traje eram os dublês – Takanori Shibahara, Kazuyoshi Yamada e Noriaki Kaneda -, que faziam as cenas das lutas contras os vilões e inimigos que apareciam no seriado.
No Brasil, Jaspion desembarcou em 1988 e foi trazido por um descendente de japonês, Toshikiko Egashira, dono de uma locadora no bairro da Liberdade, em São Paulo, que viajava para o Japão, gravava programas de TV e alugava para clientes as fitas gravadas direto da TV Asahi. Vendo a popularidade entre os clientes da locadora, que consumiam o seriado mesmo sem legenda ou dublagem, Toshi entrou em contato com a Toey Company e negociou a distribuição da série pelo Brasil. O seriado foi oferecido para emissoras como Globo e SBT, que recuraram a proposta.
Acordo firmado, Toshi comprou os direitos da série e passou a distribuir os episódios de Jaspion e Changeman no Brasil. O valor de cada seriado custava US$ 300 mil. Para preparar a novidade, Toshi procurou o estúdio de dublagem Álamo e fui até as TVs oferecer a produção. Globo, Band e SBT rejeitaram a proposta. A alegação foi de que o sucesso das séries havia passado. É neste momento que entra uma personagem forte na história.
Após uma intervenção de Beto Carreiro, que procurou seus contatos no Grupo Bloch, Jaspion (e Changeman) conseguiu entrar na programação da TV Manchete e bateu recordes de audiência, incomodando até a novela da Globo.
Jaspion dava ótima audiência diária à TV Manchete, que passou a exibir o herói três vezes ao dia. O sucesso de Jaspion pôs o Xou da Xuxa de joelhos e bateu a Globo em audiência também. O herói japonês que fracassou com o público de origem foi exibido pela manhã e ganhou um novo horário nobre da TV Manchete. Frente a frente com a Globo, o guerreiro do bem começou a fazer a concorrente se mexer. A Globo, que exibia séries americanas no horário das 17h, passou a exibir tokusatsus também. Bicrossers, Gavan e Shaider passaram a marcar presença na tela do plim plim, porém, o sucesso de Jaspion era imbatível. Os anunciantes começaram a ver em Jaspion um grande potencial de vitrine para seus produtos. A disputa foi tamanha que um episódio de 20 minutos chegou a ter 5 intervalos comerciais, quantidade exagerada para um algo desta duração.
A TV Manchete não exibiu todo o seriado de uma vez só. Foi conseguindo aos poucos e pondo no ar. No entanto, para manter Jaspion no ar sempre “atual”, a emissora usava uma estratégia curiosa: quando conseguia um novo episódio, reprisava a série desde o começo para, só depois, exibir os capítulos inéditos. A mesma tática foi usada com Os Cavaleiros do Zodíaco, que tiveram sua entrada no Brasil no rastro de Jaspion, mas vieram aos poucos, com episódios sendo dublados com cautela.
A tradução do japonês para o português deixou alguns bordões na lembrança dos fãs de Jaspion. Um deles é o que explicava o poder de Satan Goss em enfurecer os monstros.: “Satan Goss tem o poder de enfurecer os seres e transformá-los em monstros incontroláveis”.
O cabelo de Jaspion foi ideia do próprio Hikaru Kurosaki, que queria ter um “Tarzan Galático”, mas isso foi vetado após alguns episódios e o caçador de monstros especiais voltou a ter o cabelo liso. A mudança foi uma das tentativas para que o público japonês aceitasse o personagem, mas nada surtiu efeito.
No Brasil, quem dublou o personagem foi o ator Carlos Takeshi. Em entrevista ao apresentador Danilo Gentili, no The Noite, Takeshi relembrou momentos em que esteve na TV, em novelas como O Rei do Gado (1996-1997) e Belíssima (2005), ambas da Globo.
O bebê Myia, alienígena que foi adotado por Jaspion e Anri, não é bem aceita pelos fãs do seriado, mas prosseguiu com os protagonistas por gratidão.
Além da TV Manchete, Jaspion marcou presença em emissoras de TV como Record, CNT/Gazeta, Ulbra TV e Rede Meio Norte. O seriado foi quem abriu as portas para a entrada dos tokusatsus no Brasil como Changeman, Flashman, Spielvan, Metalder, Power Rangers, Jiban, Maskman, Goggle V, dentre outros.
A trilha sonora de abertura de Jaspion, “Chou Wakusei Sentou Hokan Daileon”, foi cantada por Akira Kushida. No Brasil, todavia, a música é conhecida como “O Cara Tossiu”.
Principal arma do herói, a espada Sadium Laser tem como nome original Plasma Blazer Sword. O golpe especial do guerreiro é chamado de Cosmic Laser no Brasil, e no Japão, Cosmic Harley. Jaspion ainda tem a Turbo Magnum (Beam Scanner Gun). À disposição, Jaspion tinha um veículo (Mazda RX7), Allan Moto Space (Iron Wolf), Gaibin, dividido em Gaibin Tanque e em Gaibin Jet. A nave que Jaspion viajava se transformava no Gigante Guerreiro Daileon. MacGaren também tinha uma nave em forma de besouro que se chamava Juldbooma.
O MacGaren tinha uma nave em formato de besouro que se chamava Juldbooma #JaspionNaBand pic.twitter.com/iDlaB7Zvo6
— Reuber Diirr (@reuberdiirr) April 5, 2020
O robô, conhecido como Gigante Guerreiro Daileon, tinha os seguintes golpes: Daileon Kick, Punch Daileon, Libertar Raio Cósmico, Golpe Daileon e Daileon Laser. No último episódio do seriado, Daileon dispara o Daileon Cosmic Laser após o pássaro de ouro virar uma espada de ouro.
Jaspion teve suas histórias contadas em quadrinhos publicadas no Brasil pela Ebal. Além disso, a Editora Abril publicou algumas histórias, mas a revista acabou cancelada migrando para a revista Heróis da TV.
A bruxa Kilza apareceu na história chamada para trazer MacGaren de volta à vida. Vivendo na memória de muitos fãs, as frases da bruxa seguem no imaginário até hoje: “Berebekan Katabanda KIKERÁ”. Anri, androide construída por Edin para acompanhar Jaspion na viagem, não sentia os efeitos do poder de Kilza.
Os personagens que faziam os “quadridemos” eram Purima, Gyoru, Iki e Zampa. Vale destacar que os cinco ninjas espaciais que lutaram contra Jaspion eram Ka (fogo), Fuu (vento), Do (terra), Moku (madeira) e Sui (água).
Junichi Haruta, ator que interpretou MacGaren, dispensava seus dublês. O ator ainda esteve presente em seriados como Solbrain, Google V, Cybercops e Jiraya.
A série foi exibida pela TV Manchete até 1994 e disputou a atenção com outros produtos vindo da terra do sol nascente como Jiraya, o Incrível Ninja; Policial de Aço Jiban; Cybercops, os Policiais do Futuro; Guerreiro Dimensional Spielvan (chamado no Brasil de Jaspion 2), Black Kamen Rider, Comando Estelar Flashman, Cavaleiros do Zodíaco etc. Em meio a tantas opções, o herói deixou de ser tão interessante aos olhos da TV Manchete e saiu de cena.
Recentemente, surgiram especulações de que a Sato Company, detentora dos direitos do seriado no Brasil, estaria produzindo um filme de Jaspion com atores brasileiros. A novidade ainda está sendo produzida sob mistério. Segundo o RD1 apurou, a produção ainda depende de verbas para começar a ser gravada. Testes com elenco e nomes para possíveis papéis já estão sendo selecionados, mas nada com data. Nas redes sociais, fãs nostálgicos criam várias versões do que seria Jaspion em uma linha bem mais moderna do que a criado em 1985.
Durante as gravações, algumas técnicas foram usadas para dar a impressão de que os monstros e Daileon eram gigantescos. Os planos usados nas gravações, mostravam os atores vestindo as fantasias no ângulo de baixo para cima. Para facilitar os trabalhos, as lutas eram feitas sobre plataformas que ficavam a mais de um metro de altura do chão.
Com esse recurso, os câmeras poderiam filmar os personagens com a impressão de serem enormes. Além disso, o cenário onde as lutas aconteciam eram feitos em miniaturas, ou seja, pequenas maquetes eram construídas para que dessem a impressão de que os personagens eram grandes (lamento estragar a sua infância, mas se você chegou até aqui, quis saber todas as curiosidades…).
Reuber Diirr é formado em jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Integrante do 17º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta (Globo ES), teve passagens pela Record News ES, TV Gazeta ES e RedeTV! SP. Além disso, produz conteúdo multimídia para o Instagram, Twitter, Facebook e Youtube do RD1. Acompanhe os eventos com famosos clique aqui!