Desde 2011, ano da exibição original, qualquer discussão sobre A Vida da Gente resvala para o #Team Ana (Fernanda Vasconcellos) ou Manuela (Marjorie Estiano). Por ‘#Team’, entende-se a torcida das redes sociais para este ou aquele personagem, pelo encaminhamento da trama neste ou naquele rumo. Mas a novela de Lícia Manzo, em edição especial às 18h, não permite tal discussão.
VEJA ESSA
A autora estruturou A Vida da Gente de maneira que só é possível torcer por uma solução: o entendimento entre as irmãs. Meses após dar à luz a Júlia (Jesuela Moro), sua filha com Rodrigo (Rafael Cardoso), Ana entrou em coma. Manuela assumiu a educação da menina ao lado do pai. Anos depois, enquanto Ana ainda dormia, então unidos pela convivência, Manu e Rodrigo se entregaram um ao outro.
O despertar de Ana trouxe problemas, claro, para a relação de Manuela. Rodrigo sucumbiu ao romance interrompido na juventude. O mesmo se deu com a tenista. Coube à outra tentar conduzir o relacionamento, agora “a três”, da forma mais clara possível. Mas se não há clareza nem mesmo quanto aos sentimentos, como os outros dois envolvidos poderiam ser claros com ela?
Na última quarta-feira (2), o conflito culminou com o flagra de Manu nos infiéis. Manobra de Eva (Ana Beatriz Nogueira), a mãe tóxica que, direta ou indiretamente, é responsável pelas desgraças das filhas. Foi ela quem levou Ana a fugir para a casa da avó Iná (Nicette Bruno), culminando com o acidente que acarretou no coma. Foi ela quem expulsou Manuela de casa, aproximando a culinarista de Rodrigo e do bebê, também rechaçado.
Entre o público, há quem prefira o namoro de adolescência de Ana, que nasceu da troca de olhares e das rusgas entre ela e o herdeiro do então padrasto Jonas (Paulo Betti). Há quem prefira a relação construída dia após dia por Manu e o companheiro nesta jornada de amadurecimento, imposta pelas condições adversas da vida – e por Eva. Impossível julgar os personagens e as visões de quem assiste.
Lícia Manzo é hábil na condução de todos os sentimentos que afligem os três protagonistas. Ana, Manuela e Rodrigo expressam, inclusive, tais emoções em diálogos com Alice (Sthefany Brito), Iná e Lourenço (Leonardo Medeiros). Os desabafos, sempre entremeados, reforçam a ação. Bem estruturado, o enredo chega ao clímax e abre outras possibilidades, como, agora a reação de Júlia à separação de Manu e Rodrigo, “imputada” a Ana.
As discussões de A Vida da Gente – inclui-se aqui também as ótimas tramas paralelas – garantem atemporalidade à narrativa. A mesma de Vale Tudo (1988) quanto ao debate sobre honestidade e ética. Ou de Por Amor (1997), também pautada pelo “material humano”. Cabe a torcida por Ana e Manu? Evidente que sim. Mas, antes de torcer, convém apreciar a amplitude do debate…
Duh Secco é "telemaníaco" desde criancinha. Em 2014, criou o blog Vivo no Viva, repercutindo novelas e demais atrações do Canal Viva. Foi contratado pela Globosat no ano seguinte. Integra o time do RD1 desde 2016, nas funções de repórter e colunista. Também está nas redes sociais e no YouTube (@DuhSecco), sempre reverenciando a história da TV e comentando as produções atuais.