Diretor da Central Globo de Programação, Amauri Soares concedeu uma rara entrevista ao jornal O Globo para analisar o impacto da pandemia de coronavírus na programação da emissora. Mesmo diante do desafio de reprogramar a grade às pressas, ele admite que vislumbrou uma resposta positiva da audiência.
VEJA ESSA
“No dia 13 de março, fiquei sabendo que os estúdios iam parar. Estúdio parando, a gente fica sem novela, sem série, sem programa de variedades e auditório. Ao mesmo tempo, a gente tinha uma enorme oportunidade. Nós sabíamos que a quarentena ia levar maciçamente as pessoas para dentro de casa. Nossos filhos estavam ficando sem aula, home offices estavam sendo instalados. Então, procuramos pensar numa programação para essa realidade, das famílias em casa”, ponderou.
Como parte dessa estratégia, foram escolhidas uma novela que fizesse alusão aos contos de fadas e outra que tivesse um núcleo de humor “sempre presente”. São os casos, respectivamente, de Totalmente Demais e Fina Estampa. Ambas as tramas vêm acumulando um bom desempenho na audiência.
Além disso, o jornalismo também teve o seu espaço ampliado, com a criação do Combate ao Coronavírus e o aumento na duração do Jornal Hoje, por exemplo.
Todas essas mudanças culminaram naquilo que Amauri classifica como “explosão” do número de pessoas assistindo televisão em casa. “Foi o maior índice da história”, comemorou.
Mais espaço para os filmes na Globo
A paralisação dos campeonatos de futebol também abriu duas lacunas importantes na programação, às quartas e domingos. Ambas as faixas acabaram sendo preenchidas por filmes.
Esse destaque ao gênero vai ao encontro de uma estatística disponibilizada pelo Painel Nacional de Televisão. Levantamento indica que, desde janeiro, 90% da população brasileira assistiu a pelo menos um filme na Globo.
Ratificando o bom momento, as sessões de filmes saltaram de sete para dez durante a pandemia. Exibido em ocasiões esporádicas, o Cinema Especial ganhou status de produto fixo.
Além disso, a emissora resgatou as marcas Campeões de Bilheteria e Sessão de Sábado. Esta última, enquanto esteve no ar, se transformou no espaço destinado aos filmes clássicos. São os casos por exemplo, de O Guarda-Costas e Jurassic Park, que voltaram à Globo após um período em outras emissoras.
O publico de cada sessão
No decorrer da reportagem, Amauri também forneceu detalhes sobre o perfil de público predominante em cada sessão. Enquanto o Cinemaço tem a preferência do público masculino, Sessão da Tarde é mais vista por mulheres e jovens. A Temperatura Máxima, por sua vez, agrada mais a quem já passou dos 50 anos.
Graças aos “bons acordos” que a Globo formalizou com as distribuidoras, a projeção é a de que, até dezembro, sejam exibidos 1040 títulos em 2020. Esse índice representa, até o momento, 50 filmes a mais do que o ano passado.
Antes que o ano acabe, a Globo promete exibir uma eclética seleção de inéditos, que vai de Bacurau à Nasce uma Estrela. Por outro lado, Amauri revela que a emissora tem dialogado com os estúdios para se livrar da exigência da exibição de títulos de menor apelo, como contrapartida à liberação dos grandes lançamentos.
“Não podemos aceitar imposição de compra, porque quem entende o que nosso espectador quer somos nós. Conseguimos isso com uns, com outros não. Também tínhamos preferências. Então, fizemos trocas. Hoje, temos tudo de super-heróis, grandes títulos e elencos, da Disney, Marvel e Universal. O que falta, a gente compra no varejo”, arremata o diretor.
Esse depoimento pode ajudar a explicar o implícito rompimento entre Globo e Sony. A distribuidora fechou recentemente um acordo com a Record.
Piero Vergílio é jornalista profissional desde 2006. Já trabalhou em revistas de entretenimento no interior de SP e teve passagens pelo próprio RD1. Em tempos de redes sociais, criou um perfil (@jornalistavetv) para comentar TV pelo Twitter e interagir com outros fãs do veículo. Agora, volta ao RD1 com a missão de publicar novidades sobre a programação sem o limite de 280 caracteres.