Agildo Ribeiro nos deixou neste sábado (28), aos 86 anos, vítima de problemas cardíacos. Consagrado como comediante, o “capitão do riso” também atuou como apresentador de talk-show – “Não Pergunta Que Eu Respondo” (1993, SBT) – e de auditório – “Mister Show” (1969, Globo), interagindo com o bonequinho Topo Gigio, hit entre as crianças. Destacou-se ainda como ator.
Chegou à TV, aliás, por conta de seu desempenho no teatro, como o cômico João Grilo em “O Auto da Compadecida”, clássico de Ariano Suassuna. E durante sua trajetória no veículo não se limitou a atuar em humorísticos.
Em 1985, encabeçou o elenco de “De Quina Pra Lua”, folhetim das 18h que marcou a estreia de Alcides Nogueira como autor-titular. A trama, baseada em argumento de Benedito Ruy Barbosa, se desenrolava a partir da morte de Zezão (Milton Moraes), sepultado com um bilhete de loteria premiado no bolso do paletó. Agildo vivia Dante Cagliosto, professor de matemática atabalhoado, que se dedicava à busca pela fortuna como forma de auxiliar a viúva Angelina (Eva Wilma), por quem se apaixonava, e eximir sua noiva, Mariazinha (Elizabeth Savala), da culpa por ter atropelado Zezão. Cagliosto era aficionado por astronomia, ópera e pela tartaruga Malvina, seu bichinho de estimação, criada dentro de um bidê.
O que pouca gente sabe é que Agildo já havia passeado pelo departamento de novelas da Globo. O comediante apareceu, como ele mesmo, numa participação no capítulo 126 de “Final Feliz” (1982), às 19h, pouco tempo depois da extinção de seu programa mensal, “Estúdio A… Gildo!”. Na ficção, ele se internava no hospital comandado pelo médico Wagner (Walmor Chagas) para se submeter a uma cirurgia. Ao tomar conhecimento disto, dona Sinhá (Elza Gomes) decide visitar o ídolo. Foram muitas as tentativas da senhorinha para driblar a vigilância das enfermeiras e entrar no quarto 18, oferecendo ao seu querido Agildo um cardápio de convalescente: frango, purê de batata e suflê de chuchu. Ao menos, Sinhá não ofertou um dos gatos que, literalmente, vendia por lebre. A velhinha esquizofrênica, que conversava com um manequim julgando tratar-se de sua irmã Francisquinha, foi um dos destaques desta comédia romântica de Ivani Ribeiro e marcou a despedida de Elza Gomes da TV.
Em 1997, Agildo encontrou a ex-esposa Marília Pêra no set de “Mandacaru”, última produção veiculada pela Manchete em sua totalidade – vale lembrar que “Brida” (1998) foi suspensa no 54º capítulo e encerrada com locução de Eloy de Carlo, voz oficial do canal. Salustiano (Agildo) e Isadora (Marília) chegavam à cidade de Jatobá, sertão da Bahia, para reivindicar terras. E acabavam surpreendidos pelo domínio dos cangaceiros, como Tirana (Victor Wagner) e Zebedeu (Bemvindo Sequeira). A rotina extenuante de gravações rendeu queixas do ator: “Tive que abrir mão da minha vida social e virar operário. Fazer novela parece serviço militar”, declarou ao jornal “O Globo”, de 23 de novembro de 1997, confessando também não ter se habituado a gravar de segunda-feira a sexta-feira nos tempos de “De Quina Pra Lua”. Na ocasião, Agildo já havia acertado sua saída do folhetim; atendendo a um pedido de Walter Avancini, acabou ficando – o que implicou na ressuscitação de Salustiano.
Oito anos depois, a equipe de “A Lua Me Disse” solicitou a liberação de Agildo Ribeiro à produção do “Zorra Total” (1999). Surgia então Coriolano, um dos pretendentes que Ademilde Godoni (Arlete Salles) conhecera na internet. A bem-sucedida proprietária da loja Frango com Tudo Dentro buscava aplacar a solidão em sites de encontros. Naquela altura, já havia se deparado com figuras como Touro Sentado (Fábio Sabag) e Nocaute Jack (Carlo Mossy). O que não a impediu de se surpreender com Coriolano, gay interessado em um casamento de fachada, para receber uma fortuna da mãe, Ximena (Ida Gomes). Ademilde se ofendeu com a proposta – e sua secretária pessoal, Naíde (Maria Gladys) acabou assumindo a responsabilidade de desposar o futuro milionário. Mas eis que Ximena “bateu as botas” antes da cerimônia, levando Coriolano a fugir com o amado Everaldo (Roberto Roney); devastada, Naíde saiu pela igreja rasgando o vestido, uma homenagem do autor Miguel Falabella à clássica cena de Dina Sfat, como Fernanda, abandonada no altar em “Selva de Pedra” (1972).
A última incursão de Agildo Ribeiro pelas novelas se deu em “Escrito nas Estrelas” (2010). Seu personagem, Durvalino, não primava pelo bom-gosto. Mas desfrutava de boa condição financeira, o que motivou a ex, Sofia (Zezé Polessa), a procurá-lo, para satisfazer os sonhos de grandeza da filha, Beatriz (Débora Falabella) – e os seus também. As duas tentaram, durante toda a trama de Elizabeth Jhin, surrupiar o patrimônio de Ricardo Aguillar (Humberto Martins), médico que buscava uma mãe para gerar o herdeiro de Daniel (Jayme Matarazzo), seu filho, morto em um acidente de trânsito. Beatriz bem que tentou assumir tal tarefa, entregue a Viviane (Nathalia Dill) – vítima da chantagem do malandro Gilmar (Alexandre Nero) –, que apaixona-se pelo “sogro”.
Além destas novelas, Agildo Ribeiro também participou da temporada 2007 do “Sítio do Picapau Amarelo”, como Coronel Teotônio, e de ‘A Vingativa do Méier’, como Alberto, episódio de “As Cariocas” (2010) estrelado por Adriana Esteves.
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