Há cerca de 32 anos, a Globo deu um redondo não para o autor Benedito Ruy Barbosa, que naquela época buscava de todas as formas a produção de Pantanal pelos estúdios do canal. José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, ex-chefão do canal, admitiu que errou na questão.
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O empresário atribuiu o erro a Herval Rossano, então diretor encaminhado até o Pantanal para verificar as condições locais de gravação. “Ele disse que nem ia ler”, disse Ruy Barbosa. Boni rebateu ao jornal Folha de S. Paulo:
“Não foi bem isso. Chamei o Daniel Filho, que era responsável pelas novelas, e ele mandou o Herval ao Pantanal. Herval disse que era época de cheias. Fizemos outras tentativas depois, mas ele mantinha a informação de que a produção teria um custo inestimável”.
Boni relembrou que o orçamento era inviável para a época, e ressaltou que “as gravações demandariam uma semana de produção para cada capítulo em uma época em que a gente conseguia gravar três capítulos no mesmo tempo”.
Benedito Ruy Barbosa relatou parte da conversa que teve com Boni na época da negociação: “‘Abriu um horário para você, você pode fazer o que quiser’. Eu disse Pantanal. E ele, Pantanal não. Eu pedi então que ele me liberasse para eu fazer a novela na Manchete. Ah, na Manchete? Pode ir”.
Bonio duvidou que Benedito fosse embora para o canal concorrente. “Eles diziam que atriz da Globo não mija no mato. Mas para gravar no Pantanal, tem que mijar no mato, se for o caso”, comentou. “Na Manchete, o elenco deu um show, e não tivemos uma picada de cobra, nada, em nove meses de gravação”, frisou.
Boni aponta erro de diretor com Pantanal
Para o ex-diretor do Plim Plim, Herval Rossano teve uma avaliação errada sobre a produção da novela, mas ao mesmo tempo arriscou que naquele momento a TV Manchete iniciou sua derrocada. Nove anos depois, a TV faliu por questões administrativas: “A novela não se pagava”.
“De toda forma, é preciso dizer que o Homero Icaza Sánchez leu a sinopse de Pantanal e nos avisou: ‘não pode deixar de fazer essa novela'”, confessou. Na época, Homero era considerado “o Bruxo” por causa dos seus sucessivos acertos em produções televisivas.
Autor do remake, Bruno Luperi detalha mudanças
Bruno Luperi, neto de Benedito Ruy Barbosa e responsável pelo remake de Pantanal, disse: “Estamos trazendo a história para os dias de hoje, eliminando o que ficou datado, como as menções ao Plano Collor e ao congelamento da inflação”.
Sobre o conflito da família Leôncio, Luperi destacou: “Antigamente, esse conflito era muito mais questão de ser ou não ser o filho varão que vai assumir o lugar do Zé Leôncio. Hoje, ele vem com uma questão ideológica muito forte. Onde tinha um espaço ligado ao ‘filho que eu espero’, agora é ‘você também não é o pai que eu espero'”.
“Em termos de dramaturgia, o meu avô separava muito claramente –o Zé Leôncio era o homem bom porque ganhou a terra e o direito de produzir sobre ela, e produz. E o Tenório é o homem ruim porque ele tem o direito à terra e não produz sobre ela. Mas tem uma terceira camada que chega agora –como se produz?”, explicou.
Sobre o personagem Tenório, vivido por Antônio Petrin na primeira versão e por Murilo Benício no remake, Luperi argumentou: “Esse cara mudou muito em 30 anos. Ele é alguém hoje muito próximo da gente, do nosso convívio, que de repente está abrindo uma portinha e começando a falar coisas que você jamais imaginou, com naturalidade. São coisas que antes o Tenório faria com pose de vilão, mas hoje ele manda esse recado por mensagens no WhatsApp”.
