O fim do Casos de Família, anunciado na última terça-feira (23), pegou muita gente de surpresa, inclusive este modesto site. Semanas atrás, a reportagem do RD1 acompanhou um dia de gravações e conversou com Christina Rocha e o diretor Rafael Bello com exclusividade.
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Apesar da baixa audiência, motivada pela pedreira de bater de frente com o fenômeno O Cravo e a Rosa e o consolidado Balanço Geral, Rocha mantinha um público cativo, uma invejável fila de anunciantes e o respaldo da cúpula do canal.
Embora o SBT deixe em aberto a possibilidade de a atração voltar em 2023, é muito pouco provável que isso aconteça. O cancelamento contou com a chancela de Silvio Santos, sempre imprevisível.
Como forma de homenagear um clássico da televisão brasileira, e uma apresentadora que sempre se renovou e tirou de letra todos os desafios, o RD1 publica na sequência a íntegra da conversa de Christina Rocha com o repórter Reuber Diirr, e deixa o convite para uma outra matéria, a ser publicada nesta sexta-feira (26), desta vez com o diretor do programa.
Christina Rocha e Casos de Família, uma relação de 13 anos
Christina Rocha não titubeou ao responder sobre o cancelamento nas redes sociais, mudanças no Casos de Família, o sucesso de Pantanal na Globo e o que pensa sobre o futuro da TV com o advento do streaming.
A apresentadora aproveitou para relembrar alguns casos que marcaram sua vida ao longo desses 13 anos no comando do vespertino – ela esteve à frente do Casos desde 2009, quando sucedeu Regina Volpato.
“Casos não faltaram. Tem vários temas iguais, mas histórias contadas e vivenciadas de formas diferentes. Hoje mesmo, na gravação, é um programa que vai me marcar, que é sobre uma filha extremamente agressiva com a mãe. E eu me pergunto como essa filha vai sair com a mãe daqui? Será que ela vai sair igual como entrou aqui?”, questiona.
A apresentadora ainda aproveitou para refletir sobre o ser humano e suas atitudes. “Como a cabeça do ser humano é interessante. Eu falo que este programa é um laboratório, pois pegamos cada caso aqui que você pensa que não vai dar jeito, mas de repente um abraço faz com que saiamos daqui contente, ou seja, que bom que a filha abraçou a mãe. Esse foi um dos casos que eu digo que mexe muito comigo, filho com mãe, além de violência doméstica e família. São assuntos que sempre mexem conosco”, comenta.
“Eu fico sentida e eu entro no caso. Não tem como não se envolver no caso que chega aqui se não, não se faz o programa. Até a plateia interage. Tem coisas que eu não sei e tenho que ver na gravação. Então, a gente tem que ter a sensibilidade de sacar algumas coisas e, como esse problema lá existe há 13 anos comigo, temos que pensar em coisas para ele não cair na mesmice, então, tenho que me reinventar todos os dias para não ficar tudo muito igual. Sempre pegar assuntos diferentes. Às vezes, pega um tema, mas tento achar outro mote pronto não é fácil, é matar um leão por dia neste programa”, explica.
Christina costumava gravar duas vezes por semana, um total de seis edições. “É muito trabalho, mas eu e Rafael [Bello, diretor do Casos de Família] nos damos muito bem, então, tudo vai se caminhando em uma boa harmonia e conexão”, destaca.
Uma carreira e muitos acertos
“Eu fiz programas muito fortes na televisão. O Povo na TV, o telejornal Aqui Agora. Eu fiz programas muito fortes na minha vida, engraçado, isso. Um programa que eu gostaria de fazer é um Alô, Christina modernizado [risos]”, entrega.
Christina aproveitou para dizer o que gostaria de fazer além de apresentar o Casos de Família, em algo que deve ser encarado como os futuros passos da profissional na TV.
“Eu gosto muito de conversar com as pessoas. Gosto muito de plateia. Eu me sinto muito mais à vontade quando tem plateia do que quando não tem plateia. Engraçado isso, né? Um programa de variedades, de conversa, de entrevistar. Não somente um talk show, mas algo que tenha conversa. Um formato que eu não gostaria, na altura da minha carreira, seria algo ligado à fofoca. Não combina comigo. Acho bárbaros os programas, mas para eu apresentar, não me vejo falando da vida dos outros. Gosto dos programas e tudo. O que seria do povo sem os programas falando das fofocas dos artistas? [risos]”, brinca.
Em relação aos programas que já fez ao longo de sua carreira, Christina Rocha destacou que o Alô, Christina (1997-1998), exibido no SBT, ainda tem o reconhecimento do público por onde passa.
“Até hoje eu recebo muito carinho por conta do Alô, Christina. Impressionante. O nome é muito presente. Aeroportos e diversos lugares que vou, as pessoas lembram. É bom porque era um programa alegre”, comenta.
“Eu amo o Casos de Família. Visto a camisa porque é o programa que eu mais ganhei como apresentadora, experiência e de tudo. Depois que você faz um Casos de Família, você faz de tudo. É um formato que mexe com mais do que você imagina. O Casos foi o que mais me completou por mexer bastante. Todos acabam ensinando pra gente e estou aqui pra aprender mais ainda, mas o Casos é impressionante”, confidencia.
Cancelamento? Tô nem aí!
A loira aproveitou para comentar sobre cancelamento nas redes sociais e contou que tem certos cuidados com o que posta em suas mídias.
“Eu nunca fui cancelada. Internet é uma coisa muito perigosa. Tem que tomar muito cuidado. Eu estou há algum tempo nas redes sociais, mas não sou polêmica. Eu acho que na internet todo mundo é dono da verdade. Cada um tem sua opinião e isso gera uma guerra. Eu levo o meu modo de ser de forma mais leve. Polêmica que não vai levar à nada eu não tenho paciência. Se eu entrar [em uma polêmica] é pra valer, então, eu evito”, explica.
“Eu acho que às vezes eu peco por não ser tão polêmica na internet. Hoje, há quem até force situações para ser polêmico e fale coisas para ganhar seguidores, mas eu não tenho essa perspicácia. Eu até gostaria de ter, juro, mas acho que a vida não é só internet”, dispara.
O futuro da TV que conhecemos
Em relação à disputa entre streaming e TV, a apresentadora comentou que a TV aberta ainda é feita para um público que não consome, na maioria, rede social.
“A televisão é tão importante. Há quem veja TV aberta, mas não é daquele hábito de Twitter e entra aquela discussão de que a TV vai acabar como se disse que o rádio iria acabar com o advento da TV. Acho que TV aberta é outro lance. Tem que seja bom no digital, mas TV aberta é TV aberta em todos os sentidos. Nela, você é conhecido por todos em seu país. Tem muito influencer com milhões de seguidores que se passar no aeroporto, você nem sabe quem é”, declara.
Sem desviar de nenhuma pergunta, Christina Rocha opinou sobre o conteúdo da TV aberta, que é criticado em alguns casos por ser considerado “chato”, “repetitivo” e “sem criatividade”, conforme é visto pelo público que consome TV com a segunda tela em mãos.
“Não é que falta. Tem muita coisa nova. Acho que a TV nunca cansa. Não sei dizer o que falta na TV. O público muda e a TV também está mudando. Pra se colocar um programa no ar, haja criatividade. Imaginação. É de se reeducar e fazer de forma diferente. Acho que TV aberta é, ainda, claro que tem o streaming e eu gostaria de ser muito mais presente, mas a TV aberta é a TV aberta”, analisa.
Sobre se o streaming vai engolir a TV, Christina ressalta que a TV aberta segue forte em seu papel de levar conteúdo para todos os públicos, independente de que seja.
“De jeito nenhum! Sempre vai ter o público da televisão. Sempre vai ter alguém que não tem o saco de internet, que não gosta. São dois públicos completamente diferentes. Eu acho que não. Não porque eu trabalho com TV, mas acho que TV não está com os dias contados. Cada vez, vamos ter mais opção. Podcast virou moda. A gente tem que se atualizar cada vez mais”, garante.
“Veja o sucesso da novela Pantanal. Eu adorei quando ela foi exibida há alguns anos. Agora, vem fazendo um novo sucesso de novo. Então, não é porque é antigo e que já passou [na TV], não serve. A Globo está feliz com a novela. E vem aí outras repaginações. O Aqui Agora, será que poderia ser repaginado? Não sei, talvez, não. [Programa] parecido, sim. Não tem algo novo, assim”, emenda.
Quem manda no controle remoto?
“É diferente [o consumo de TV e streaming]. Os jovens são todos streaming, mas a maioria conhece sobre TV. Podem até dizer que um determinado programa de TV seja chato, mas todos sabem quem são os apresentadores e sabe quem é quem. E se conhecem a gente na rua, estão assistindo à TV aberta. Acho que tem público pra tudo. Tem o público TikTok, tem aquele público mais no geral, gosta da TV. O miolo, pode até estar mudando, mas no centro, a TV está ali. Eu acho que a TV não acaba tão cedo. Daqui a pouco, as pessoas vão namorar e ter filhos pelo metaverso. As coisas estão mudando em tão pouco tempo, né?”, diz.
Recentemente, o Casos de Família recorreu à participação de famosos, o que possibilitou um respiro no formato. A apresentadora aproveitou para dizer o quanto gostou da novidade.
“Eu gostaria que tivesse sempre para que batêssemos um papo. O Casos de Família não se pode fazer muito por conta do formato, que é mais fechado, então, Rafael [Bello, o diretor] pensou em algo que pudéssemos criar dentro dele. Eu adorei esse formato, pois recebemos pessoas, que dão opinião, o programa não sai do formato original, mas dá uma renovada. Eu gosto de conversar e bater papo com as pessoas, então, adorei isso e podíamos fazer de vez em quando. Para mim, teria cantor, teria tudo”, conta.
No que tange à pandemia de Covid-19, Christina Rocha destacou o quão vem sendo difícil este momento em que as emissoras de TV vêm atravessando com as restrições impostas pela doença.
“Estamos atravessando uma fase fácil nesse momento com a pandemia, que dificultou os trabalhos das televisões. Eu falo que somos sobreviventes e que estamos dançando conforme a música. Aqui, temos que seguir as regras da casa e precisamos trabalhar. Quem não está satisfeito com isso, sai”, ressalta.
“Gravamos em meio à pandemia de Covid-19. Paramos entre março e outubro de 2020. Fomos os primeiros. Tiramos férias em janeiro, mas deixamos muitos gravados com antecedência”, completa.
Mudanças na programação e um pedido que não deu para ser atendido
Outro assunto que a famosa comentou foi sobre as mudanças de horário que a atração teve há algum tempo. “O que me incomoda muito é a questão do horário. Estávamos em um horário muito ruim, que era às 14h15 que não é de talk show e que a dona de casa está super ocupada, mas agora melhorou porque passou para às 15 horas. O Casos de Família já passou por muitos horários e é um produto muito forte e, agora, claro, estamos preocupados em fazer bem o programa, dar audiência, vencer. A preocupação de toda televisão”, esclarece.
“Não está em um momento fácil pra ninguém. As grandes emissoras, inclusive, demitiram muitos funcionários. Os tempos mudaram. Eu gostaria que o SBT desse mais força pro Casos de Família, de vez em quando. Desse uma olhada mais para o Casos, que é um programa muito intenso, que tira o couro da gente em todos os sentidos, às vezes, uma chamadinha do Casos de Família [risos]”, se queixa.
Para finalizar, a apresentadora ressaltou que atua no comando do Casos de Família com garra e vontade de fazer cada dia um programa melhor e que estaria na função até que a emissora quisesse – e esse dia chegou.
“Estamos fazendo aqui, bravamente, até o dia que der. Fazendo com amor, mesmo com um cansaço que bate. São 13 anos do mesmo formato, então, uma mudança de cenário, um carinho a mais, sabe? Só essa mudança que fizemos de trazer convidados trouxe um ar a mais de sair da mesmice. Eu tenho muito orgulho de fazer o Casos de Família. São aproximadamente 4 mil programas”, orgulha-se.
Reuber Diirr é formado em jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Integrante do 17º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta (Globo ES), teve passagens pela Record News ES, TV Gazeta ES e RedeTV! SP. Além disso, produz conteúdo multimídia para o Instagram, Twitter, Facebook e Youtube do RD1. Acompanhe os eventos com famosos clique aqui!