O “Jornal Nacional” desta sexta-feira (19) chegou ao fim com um editorial da Globo, em repúdio à polêmica fala do presidente Jair Bolsonaro sobre a jornalista Miriam Leitão. Em encontro com jornalistas, hoje pela manhã, Bolsonaro afirmou que Miriam mentiu sobre ter sido torturada e abusada por militares durante a ditadura que dominou o Brasil nas décadas de 1960, 1970 e 1980.
“Agora, uma nota de repúdio da Globo aos ataques que o presidente Jair Bolsonaro dirigiu à nossa colega jornalista Miriam Leitão“, iniciou a apresentadora Renata Vasconcellos. O texto lido na sequência, antes do tradicional “boa noite”, dá a entender que o presidente mentiu ao desqualificar as acusações de Miriam, comprovadas em autos acerca do regime militar.
“Os jornalistas cobraram do presidente um comentário sobre o ato de intolerância de que foi vítima a jornalista Miriam Leitão no fim de semana. […] Em redes sociais, foi organizado um movimento de ataques e insultos à jornalista, cuja postura de absoluta independência foi tratada como um posicionamento político de esquerda e de oposição ao governo Bolsonaro“, afirmou o texto lido por Renata.
A nota da Globo lembrou que Bolsonaro, após exaltar a liberdade de imprensa, “afirmou que Miriam Leitão foi presa quando estava indo para a guerrilha do Araguaia pra tentar impor uma ditadura no Brasil. E repetiu, duas vezes, que Miriam mentiu sobre ter sido torturada e vítima de abuso em instalações militares durante a ditadura militar que governava o país então“.
“Essas afirmações do presidente causam profunda indignação e merecem absoluto repúdio. Em defesa da verdade histórica e da honra da jornalista Miriam Leitão é preciso dizer, com todas as letras, que não é a jornalista quem mente“, sentenciou o comunicado, relatando em seguida a trajetória de violência sofrida por sua contratada, bem como à busca de Miriam por Justiça.
Por fim, a nota citou os governos do PT – de Luiz Inácio Lula da Silva, nominalmente citado, e Dilma Rousseff –, também críticos a Leitão: “Em discursos do ex-presidente Lula em palanques e até mesmo a bordo de aviões de carreira, quando Miriam Leitão ouviu insultos e ofensas por parte de militantes petistas que então a chamavam de neoliberal e direitista“.
“Estes insultos, no passado, como agora, em sinais trocados, apenas demonstram a maior das virtudes de Miriam como profissional. A independência em relação a governos, sejam de esquerda, de direita ou de qualquer tipo. A Globo aplaude essa independência, pedra de toque do jornalismo profissional e se solidariza com Miriam Leitão“, concluiu a nota.
Renata Vasconcellos então completou: “Uma solidariedade compartilhada por nós, seus colegas da TV Globo, da rádio CBN e do jornal O Globo“.
Confira:
Na parte 02 da nota, a Globo chama os bolsonaristas de petistas de sinal trocado pic.twitter.com/RVjLBTeFzP
— Exilado (@exilado) 20 de julho de 2019
Confira a íntegra da nota de repúdio da Globo a Jair Bolsonaro
“O presidente Jair Bolsonaro recebeu hoje um grupo de jornalistas estrangeiros prum café da manhã. Os jornalistas cobraram do presidente um comentário sobre o ato de intolerância de que foi vítima a jornalista Miriam Leitão no fim de semana.
Miriam e o marido, Sérgio Abranches, participariam de uma feira literária em Jaraguá do Sul, Santa Catarina. Em redes sociais, foi organizado um movimento de ataques e insultos à jornalista, cuja postura de absoluta independência foi tratada como um posicionamento político de esquerda e de oposição ao governo Bolsonaro.
Em resposta aos correspondentes internacionais, o presidente Jair Bolsonaro disse que sempre foi a favor da liberdade de imprensa e que críticas devem ser aceitas em uma democracia. Mas depois afirmou que Miriam Leitão foi presa quando estava indo para a guerrilha do Araguaia pra tentar impor uma ditadura no Brasil. E repetiu, duas vezes, que Miriam mentiu sobre ter sido torturada e vítima de abuso em instalações militares durante a ditadura militar que governava o país então.
Essas afirmações do presidente causam profunda indignação e merecem absoluto repúdio. Em defesa da verdade histórica e da honra da jornalista Miriam Leitão é preciso dizer, com todas as letras, que não é a jornalista quem mente.
Miriam Leitão nunca participou, ou quis participar, da luta armada. À época, militante do PC do B, Miriam atuou em atividades de propaganda. Ela foi presa e torturada, grávida, aos 19 anos, quando estava detida no 38º Batalhão de Infantaria em Vitória. No auge da ditadura de 64, em 1973, Miriam denunciou a tortura perante a primeira auditoria da Aeronáutica no Rio, enfrentando todos os riscos que isso representava na época. Narrou seu sofrimento aos militares e ao juiz auditor e esse relato consta dos autos pra quem quiser pesquisar.
A jornalista foi julgada e absolvida de todas as acusações formuladas contra ela pela ditadura. A absolvição se deu em todas as instâncias.
É importante ressaltar que Miriam Leitão ao longo dos governos do Partido dos Trabalhadores foi também alvo constante de ataques. Não questionaram como agora o sofrimento por que passou na ditadura, mas a ofenderam em sua honra pessoal e profissional. Em discursos do ex-presidente Lula em palanques e até mesmo a bordo de aviões de carreira, quando Miriam Leitão ouviu insultos e ofensas por parte de militantes petistas que então a chamavam de neoliberal e direitista.
Estes insultos, no passado, como agora, em sinais trocados, apenas demonstram a maior das virtudes de Miriam como profissional. A independência em relação a governos, sejam de esquerda, de direita ou de qualquer tipo.
A Globo aplaude essa independência, pedra de toque do jornalismo profissional e se solidariza com Miriam Leitão“.
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