Nos 70 anos de Tony Ramos, 7 personagens inesquecíveis do ator

Tony Ramos, aniversariante do dia, como João Victor e Quinzinho em “Baila Comigo” (1981) (Imagens: Divulgação / Globo)

Quem se liga no Canal Viva às 14h30 (e 1h15), para o capítulo do dia de “Baila Comigo”, se depara com um elenco de feras: Carlos Zara, Fernanda Montenegro, Fernando Torres, Lilian Lemmertz, Raul Cortez, Tereza Rachel… Em meio a tantos e tão bons nomes, um “ainda jovem”, mas já tarimbado ator: Tony Ramos. Dividido entre os gêmeos João Victor e Quinzinho, arrebatou todos os prêmios daquele 1981: logo na primeira indicação, a primeira estatueta do Troféu Imprensa; também o primeiro APCA. Foi a consagração de um jovem de 33 anos, casado há 12, com dois filhos e 16 anos de profissão. Neste 25 de agosto, Tony completa 70 anos. Para celebrar estas sete décadas, sete personagens inesquecíveis de um dos melhores – senão, o melhor – atores desse país.

1 – Tiago Bonelli, de “Vitória Bonelli”

Berta Zemmel (Vitória), Carlos Alberto Riccelli (Mateus), Tony Ramos (Tiago), Annamaria Dias (Verônica) e Flamíneo Fávero (Lucas), de “Vitória Bonelli” (1972) (Imagem: Reprodução / Revista Amiga)

Tony Ramos estreou na TV em “A Outra” (1965), na Tupi. Em 1968, esteve em “Antônio Maria”, uma das primeiras experimentações em termos de “novela moderna, com a cara do Brasil” – numa época em que os textos importados dominavam as produções por aqui. À frente do texto, Geraldo Vietri, que dirigiu o ator em “A Outra”. Dentre outras parcerias, destaque para “Nino, o Italianinho” (1969) e “Vitória Bonelli” (1972), em que Tony deu vida a um tipo não muito recorrente em sua trajetória: o oportunista. No caso, Tiago, que se joga debaixo de um carro ao ver oficiais de Justiça levando os bens de sua família, arruinada financeiramente – no primeiro capítulo de “Rainha da Sucata” (1990), Ramos “revisitou” esta passagem, quando Edu tentou se atirar de um prédio ao constatar a falência dos Figueroa.

Para escapar da miséria, Tiago decide desposar Carla (Carmem Monegal), herdeira de um fazendeiro. O enlace chega a ser ameaçado pela morte de Diego (Carlos Nunes), capataz do pai da noiva, Carlo (Graça Mello), atento às intenções do mau-caráter. As condutas de Tiago terminam por afastá-lo da mãe, Vitória (Berta Zemmel), que não se compadece do filho nem mesmo quando este é levado preso. Vitória, numa sequência memorável, ousou falar em bater “na bunda” do filho, propenso a atear fogo à mansão que fora tomada da família. Foi a primeira vez que tal “palavrão” foi proferido na televisão…

2 – Márcio Hayala, de “O Astro”

Tony Ramos e Elizabeth Savala, como Márcio e Lili, em “O Astro” (1977) (Imagem: Divulgação / Globo)

Após sucessos como “Ídolo de Pano” (1974) e “A Viagem” (1975) – na qual viveu Téo, personagem de Maurício Mattar no remake da Globo (1994) –, Tony Ramos deixou a Tupi. Sua estreia na “vênus platinada” se deu em “Espelho Mágico” (1977), de Lauro César Muniz; na trama, Paulo Morel era um ator em ascensão, então seduzido pela TV. Enquanto ainda gravava cenas deste primeiro trabalho no “plim-plim”, Tony foi chamado para auxiliar Daniel Filho em testes com novatas, na disputa pelo papel de Jôse, mocinha de “O Astro” (1977), de Janete Clair. A “leitura” que Tony deu ao interlocutor de Jôse, Márcio Hayala, rendeu o convite de Daniel para emendar uma novela na outra; Stepan Nercessian, escalado inicialmente para Márcio, foi “alocado” em um outro personagem, Alan.

Márcio Hayala abdica do dinheiro do pai, Salomão (Dionísio Azevedo), saindo nu para a rua, tal qual São Francisco de Assis. O envolvimento com Lili (Elizabeth Savala), chofer de praça, o afasta ainda mais da família. Mas o assassinato de Salomão termina por colocar Márcio à frente do grupo empresarial dos Hayala, guiado pelo oportunista Herculano Quintanilha (Francisco Cuoco). O êxito de Márcio, e de Lili, determinou a escalação de Tony e Elizabeth para a novela seguinte de Janete, “Pai Herói” (1979). A força do casal André e Carina acabou frustrando os planos da autora, que, para satisfazer o público, abdicou da ideia de unir André e Ana Preta (Glória Menezes) no último capítulo.

3 – Abel Spina, de “Sol de Verão”

Gianfrancesco Guarnieri (Caetano), Tony Ramos (Abel) e Jardel Filho (Heitor) em “Sol de Verão” (1982) (Imagem: Divulgação / Globo)

Em 1982, Tony Ramos atendeu um novo chamado de Manoel Carlos, autor de “Baila Comigo”. Coube a ele o surdo-mudo Abel, de “Sol de Verão”, também exibida às 20h. A composição incluiu visitas ao Instituto Nacional de Educação dos Surdos; o ator precisou aprender a não reagir aos sons – como o barulho do motor de um carro – da oficina mecânica de Heitor (Jardel Filho), onde Abel trabalhava. Com a novela, Tony, Maneco e Globo colocaram a linguagem dos sinais em evidência; panfletos com o alfabeto foram distribuídos em grandes centros urbanos. A protagonista da trama, Rachel (Irene Ravache), se interessava em lecionar para surdos, após conhecer Abel; a ficção levou escolas da “vida real” a abrirem turmas para interessados em aprender LIBRAS, a Linguagem Brasileira de Sinais, só regulamentada 20 anos depois.

Abel acompanhava o envolvimento de Heitor e Rachel, ao mesmo tempo em que se envolvia com Clara (Débora Bloch), filha da professora. O rapaz também despertava o interesse de Olívia (Carla Camuratti), uma das namoradinhas de Miguel (Mário Gomes). O mesmo Miguel que, capítulos depois, Abel descobrir ser seu irmão: o surdo-mudo era filho de Sofia (Yara Amaral), que, acreditando que o filho nasceu morto, abandonou o pai do menino, Caetano (Gianfrancesco Guarnieri). Sofia então casou-se com Hilário (Carlos Kroeber), médico charlatão decidido a ocupar o terreno da oficina de Heitor, desalojando este e o enteado. Jardel Filho faleceu em fevereiro de 1983, antes de concluir o trabalho; a partida do ator e o final precipitado acabaram por ofuscar o êxito de “Sol de Verão”.

4 – Tonico Ladeira, de “Bebê a Bordo”

Tony Ramos como Tonico Ladeira, em “Bebê a Bordo” (1988) (Imagem: Divulgação / Globo)

Tony Ramos também foi o malandro Nil, de “Champagne” (1983); o misterioso Pardal, de “Livre Para Voar” (1984); e o controverso Cristiano, no remake de “Selva de Pedra” (1986). Eis que em 1988, surge o convite de Carlos Lombardi para interpretar um tipo irritadiço – inspirado no autor e no diretor Roberto Talma – em “Bebê a Bordo”, às 19h, faixa pela qual ele passou em 1980, com “Chega Mais”. Tonico, contudo, era mais do que um workaholic estressado. Oportunista no trabalho, à frente da agência de marketing político de Walkiria (Márcia Real); relapso com a mãe Branca (Nicette Bruno), a esposa Soninha (Inês Ghalvão) e o filho Juninho (João Rebello); e completamente abobalhado no trato com a amada Ana (Isabela Garcia) e a filha desta – que descobrirmos ser dele no último capítulo –, Heleninha (Beatriz Bertu).

O tipo insano às 19h contrastava com o amargurado Jorge, criação de Eça de Queiróz, na adaptação de Gilberto Braga e Leonor Bassères para “O Primo Basílio”, gravada previamente. Foi a segunda minissérie de Tony, também estrela de “Grande Sertão: Veredas” (1985), versão de Walter George Durst e Walter Avancini para a obra de Guimarães Rosa; de “O Sorriso do Lagarto” (1991), do romance de João Ubaldo Ribeiro, no qual “testou a química” com Maitê Proença, reeditada no mesmo ano em “Felicidade”; e de “Mad Maria” (2005), trabalho de Benedito Ruy Barbosa, ao lado do amigo Antonio Fagundes.

5 – José Clementino, de”Torre de Babel”

Tony Ramos como José Clementino, de “Torre de Babel” (1998) (Imagem: Divulgação / Globo)

Silvio de Abreu também esteve presente, sempre, na carreira de Tony Ramos. O hoje diretor dos departamentos de teledramaturgia diária e semanal da Globo escalou o ator e amigo para “Rainha da Sucata”, “A Próxima Vítima” (1995, como o feirante Juca), “As Filhas da Mãe” (2001, interpretando o cubano Manolo), “Belíssima” (2005, na pele do grego Nikos), “Passione” (2010, do italiano Totó) e “Guerra dos Sexos” (2012, reeditando Otávio, vivido por Paulo Autran na primeira versão da novela). Em 1998, Silvio presenteou Tony com José Clementino, protagonista de “Torre de Babel”. Preso por assassinar a esposa e um dos amantes desta com golpes de pé, Clementino alimenta o desejo de vingar-se de César Toledo (Tarcísio Meira), testemunha de acusação.

O plano incluía a explosão do Tropical Tower Shopping, principal empreendimento da construtora de César. Clementino, contudo, desiste de levar o plano adiante; a edificação vai pelos ares por obra de sua filha, Sandrinha (Adriana Esteves), “ponto final” de um processo articulado por seu pai Agenor (Juca de Oliveira) e da acionista do centro comercial, Ângela Vidal (Claudia Raia). Diferente do que a imprensa se preocupou em propagar, o perfil de José Clementino não sofreu alterações “em nome da audiência”. A guinada do presidiário, apaixonada por Clara (Maitê Proença, de novo), estava prevista desde o princípio.

6 – Miguel Soriano, de “Laços de Família”

Tony Ramos e Vera Fischer, como Miguel e Helena, de “Laços de Família” (2000) (Imagem: Divulgação / Globo)

Em 2000, Tony e Maneco se reencontraram em “Laços de Família”. O autor acreditava que apenas o ator seria capaz de conferir dignidade aos dilemas de Miguel, livreiro que enfrenta, por duas vezes, o abandono da amada Helena (Vera Fischer). Predestinados desde o instante em que ela se acidenta na frente de sua livraria, logo no primeiro capítulo, Miguel e Helena se afastam por conta da paixão que a une a Edu (Reynaldo Gianecchini). Este, porém, envolve-se com Camila (Carolina Dieckmann), filha de Helena. Surge então uma chance para Miguel, certo? Errado. Camila adoece e, para salvá-la, Helena empreende uma gravidez, reaproximando-se do pai da moça, Pedro (José Mayer). “Laços de Família” retratou também o convívio de Miguel com o filho, Paulo – que, assim como seu intérprete, Flávio Silvino, enfrentava sequelas de um acidente automobilístico.

Três anos depois, Tony Ramos, “filho” da primeira Helena – a de “Baila Comigo” – estava envolvido com outra das protagonistas de Manoel Carlos: a de “Mulheres Apaixonadas”, a cargo de Christiane Torloni. O público, porém, se afeiçoou à relação do músico com a prostituta Fernanda (Vanessa Gerbelli). Os dois foram vítimas da guerra civil que assola o Rio de Janeiro “desde sempre”. Com a morte de Fernanda, Téo assumiu a educação de Salete (Bruna Marquezine), filha deles, assim como Lucas (Victor Cugula), o menino que ele levou para casa, escondendo de Helena, que adotou o pequeno, sua verdadeira origem.

7 – Coronel Boanerges, de “Cabocla”

Tony Ramos como Boanerges, em “Cabocla” (2004) (Imagem: Divulgação / Globo)

A cena era simples, porém emblemática: após perder a aposta numa corrida de cavalos para o Coronel Justino (Mauro Mendonça), Coronel Boanerges (Tony Ramos) raspa o bigode, símbolo de poder na bucólica Vila da Mata, de 1918, localidade de “Cabocla”, baseada no romance de Ribeiro Couto, escrita por Benedito Ruy Barbosa em 1979 e reeditada em 2004. O tom que Tony deu ao personagem fez de Boanerges o grande atrativo da novela das 18h. Entre o irritado e o divertido, o coronel externava o afeto para com a esposa Emerenciana (Patrícia Pillar), à espera de um filho temporão; a amizade a Felício (Sebastião Vasconcellos), homem da terra em disputa por alqueires com Justino; e a ira, frente o envolvimento de Belinha (Regiane Alves), sua filha, com Neco (Danton Mello), cria de seu desafeto.

Em 2009, Tony Ramos retomou o papel de líder, estando à frente dos Ananda, o clã de Opash, seu personagem em “Caminho das Índias”. Nos últimos anos, também se dedicou a tipos controversos, como os empresários Antenor Cavalcanti e Carlos Braga, de “Paraíso Tropical” (2007) e “O Rebu” (2014), e o bandido Zé Maria, de “A Regra do Jogo” (2015). Um ator de imenso talento, de inúmeras possibilidades. Salve Tony Ramos!

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Duh Secco é “telemaníaco” desde criancinha. Em 2014, criou o blog “Vivo no Viva”, repercutindo novelas e demais atrações do Canal Viva. Foi contratado pela Globosat no ano seguinte. Integra o time do RD1 desde 2016, nas funções de repórter e colunista. Também está no YouTube e nas redes sociais (@DuhSecco), sempre reverenciando a história da TV e comentando as produções atuais.

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Saiba Mais:

“TV Globinho”, “Por Amor”, “Coração de Estudante” e “Desejos de Mulher”: a Globo em 23 de agosto de 2002

Como não amar “A Indomada”? Canal Viva reapresenta clássico dos anos 1990

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Duh Secco é  "telemaníaco" desde criancinha. Em 2014, criou o blog Vivo no Viva, repercutindo novelas e demais atrações do Canal Viva. Foi contratado pela Globosat no ano seguinte. Integra o time do RD1 desde 2016, nas funções de repórter e colunista. Também está nas redes sociais e no YouTube (@DuhSecco), sempre reverenciando a história da TV e comentando as produções atuais.