O dia em que Clodovil rasgou o verbo, atacou a Record e calou Faustão

Clodovil
Clodovil deu o que falar em desabafo no “Domingo do Faustão” (Imagem: Reprodução / Globo)

Depois que inventaram o #TBT nas redes sociais, a quinta-feira já se tornou o dia internacional de resgatar bons momentos. Por isso, a coluna Do Fundo do Baú lembra situações icônicas da TV brasileira às quintas. Desta vez, trago para vocês um dos vários encontros entre Fausto Silva e Clodovil Hernandes (1937-2009). Na entrevista, o estilista conseguiu algo raro: “calar” o apresentador global.

O ano era 1999 e o artista foi convidado pelo “Domingão”, da Globo, para responder comentários do público. Na época, o artista ainda nem imaginava se tornar deputado federal (ele foi eleito em 2006), mas tratou de assuntos importantes. Com total liberdade no programa, Clodovil fez discursos longos contra críticos, falou porque teve brigas pelas emissoras onde passou, sobre a fama de “encrenqueiro”, homossexualidade e até a respeito da “força das mulheres.”

“As mulheres não sabem ainda a força que têm. São muito mais fortes que nós homens. E nós homens só somos fortes a medida em que sabemos a mulher que temos dentro de nós. E a mulher não tem nada a ver com caráter e preferência sexual, porque homem que gosto de mulher é exatamente homem. Macho é quem mastiga mulher, que dá à mulher, mas que não chupa mel, só mastiga a abelha mesmo. Macho é uma coisa reprodutora, estou falando de homem”, disparou o convidado, deixando o apresentador sem palavras.

Em outro momento, o estilista garantiu que é do tipo que fala o que pensa, mesmo que isso passe a incomodar algumas pessoas: “Eu não sou encrenqueiro, sou franco, digo o que penso. De qualquer maneira, eu vou continuar falando isso, mas a partir de agora vou tomar muito cuidado, porque o Brasil adoro mentir para si mesmo. Você veja que as pessoas reclamam de tudo e não fazem nada para mudar. As pessoas querem que alguém faça por eles (como eu fiz até então) para depois crucificarem as pessoas. Eu? Nem pensar. Agora só digo o necessário, porque quero morrer em paz”.

Sem papas na língua, ao ser questionado sobre um suposto processo movido por Adriane Galisteu contra ele, o artista disparou: “Não me interessa e nem quero responder”. Clodovil preferiu destinar o restante do tempo para defender as mulheres com quem teve muita afinidade, como Elis Regina, Fernanda Montenegro e Irene Ravache.

Clodovil
Clodovil comentou sobre homossexualidade e até criticou a Record (Imagem: Reprodução / Globo)

Em outro ponto alto da entrevista, o estilista discursou sobre homossexualidade e sobre os pensamentos dos pais “modernos” (para a época), criticando um rapaz do auditório. “De repente eu estava falando uma coisa séria e vi um menino rindo, eu não sei do que ele está rindo, mas decidi emendar o riso dele numa coisa que estava falando. Separei o homem do macho porque se, por um acaso, minha voz tiver um timbre qualquer que para ele seja associado alguma coisa de homossexualidade isso não tem menor importância”, alfinetou o emblemático comunicador.

“O que interessa é que eu seja homem de caráter e honestidade. Por isso eu posso dizer aquilo que penso, porque eu sou assim. Se meu pai estivesse vivo ele teria orgulho por eu não ter sido bandido, de eu ter estudado. Ele me disse uma coisa: ‘meu filho, eu não vou te deixar nada, mas vou deixar uma coisa para você que ninguém tomará, cultura e educação’. Os pais de hoje em dia ficam muito preocupado se os filhos jogam bem futebol, se ele ‘come’ a garotinha do lado que é filha do vizinho. A filha dele não pode ser comida, mas ele manda comer a do vizinho. […] As mães ficam olhando para a filhinha e dizendo: ‘Será que ela tem a bundinha redondinha, será que ela dança a dança da garrafinha’, mas não vê o boletim dela”, desabafou o convidado.

Críticas à Record e conselho de Faustão

Fausto Silva é conhecido por ser muito generoso com os artistas, mas prefere não falar sobre isso. No entanto, ele foi surpreendido por Clodovil, que comentou ter recebido um conselho dele sobre a ida para a Record. “Hoje em dia a Record [já sob o comando de Edir Macedo] é uma outra proposta, não tem nada a ver com minha cabeça. Uma pessoa querida da televisão me disse: ‘Mas Clodovil se você fosse para a Record, receberia do patrocinador, não deles’. Mas eu pensei no que essa pessoa querida, que chama-se Fausto Silva, me disse. Eu não queria não”, iniciou ele, chocando o apresentador.

“Eu gosto de dinheiro por esse caminho que vocês tentam aqui (na Globo). Eu não critico religião nenhuma, mas essa proposta de Deus através de comprar com dinheiro de pagamento de dízimo, eu não gosto. O Deus deles não combina com o meu. Eu não gostaria de não ter liberdade para falar de Deus no sentido da essência”, disse Clodovil, encerrando o assunto.

Assista ao momento épico:

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E aí, gostou? A coluna “Do Fundo do Baú” já mostrou outros momentos inesquecíveis da televisão brasileira, como quando Sonia Abrão ficou “p da vida” e furou um link do Faustão, ou quando Dercy Gonçalves quase matou Jô Soares no SBT.

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Luiz Fábio AlmeidaLuiz Fábio Almeida
Luiz Fábio Almeida é jornalista, produtor multimídia e um apaixonado pelo que acontece na televisão. É editor-chefe e colunista do RD1. Está nas redes sociais no @luizfabio_ca e também pode ser encontrado através do email [email protected]