“Verão 90” escorou folhetim frágil em nostalgia “capenga”

Verão 90 - Claudia Raia - Isabelle Drummond
Claudia Raia e Isabelle Drummond, como Lidiane e Manuzita, em “Verão 90”; trama frágil embalada no saudosismo (Imagem: Divulgação / Globo)

Fãs do gênero costumam fazer da audiência a medida que divide novelas em “boas” e “ruins”. Se considerarmos apenas este parâmetro, podemos afirmar que “Verão 90”, cuja trajetória chegou ao fim nesta sexta-feira (26), foi uma boa trama. Na minha concepção, porém, nem só de números vive um folhetim.

Nos últimos seis meses, “Verão 90” – na modesta opinião deste blogueiro, é sempre bom frisar – usou da nostalgia como “escudo” para a narrativa frágil. Aliás, até a proposta saudosista acabou comprometida: a equipe parecia acreditar que o público desconhece dados precisos sobre a história da TV, divulgados pela própria emissora em plataformas como o site Memória Globo.

Assim, a produção tratou datas e passagens como mera “muleta” no desenrolar de tramas e capítulos – de “Despedida de Solteiro”, finalizada em janeiro de 1993 e citada quando o enredo já havia avançado no calendário, até o caco de Claudia Raia (Lidiane) que atribuiu a Gloria Perez a autoria de “Fera Ferida” (1993), de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares.

Verão 90
Jesuíta Barbosa e Rafael Vitti, como Jerônimo e João, em “Verão 90” (Imagem: Divulgação / Globo)

A inveja que Jerônimo (Jesuíta Barbosa) sentia do irmão, João (Rafael Vitti), demorou a “aparecer”. Nos primeiros capítulos, em meio às investidas do primeiro de se aproximar dos Ferreira Lima, o “ponto de partida” ficou em suspenso.

O “reencontro” dos irmãos Guerreiro se deu quase um mês após a estreia com o crime da Joatinga – em um acidente, Nicole (Bárbara França) morreu e João acabou levando a culpa, numa armação de Quinzinho (Caio Paduan) e Jerônimo. O conflito se perdeu pouco depois, em meio à aposta em entrechos cômicos como o doce de leite “batizado”.

Enquanto isso, personagens como Herculano (Humberto Martins) e Patrick (Klebber Toledo) foram esvaziados; outros demoraram a encontrar um norte, caso de Lidiane – de mãe possessiva, e até mau caráter, à figura cômica, apenas “desajustada”. A construção equivocada fez Isadora (Débora Nascimento) ir de rebelde sem causa à parva que confundia abóbora com melancia.

Verão 90
Dandara Mariana, destaque como Dandara em “Verão 90” (Imagem: Divulgação / Globo)

Para as autoras que responderam pela leve, divertida e inteligente “Cheias de Charme” (2012) – Izabel na titularidade com Felipe Miguez; Paula na colaboração –, “Verão 90” soou como retrocesso.

Tais deslizes, talvez, sejam provenientes da resposta tardia do público. Com produção iniciada no primeiro semestre do ano passado – e supostamente adiada por problemas de direitos musicais –, “Verão 90” estreou com roteiros bem adiantados; a Globo ainda precisa encontrar o equilíbrio no número ideal de capítulos, que permita necessárias modificações, sem afetar, contudo, o ritmo das gravações.

No elenco, destaque para Camila Queiroz (Vanessa), Dandara Mariana (Dandara), Dira Paes (Janaína), Marina Moschen (Larissa) e Totia Meirelles (Mercedes). Curiosamente, intérpretes de personagens alheios ao tom nonsense que comprometeu talentos como Isabelle Drummond (Manuzita), Claudia Raia e Alexandre Borges (Quinzão).

Nesta seara, salvaram-se apenas Fabiana Karla (Madá), Gabriel Godoy (Galdino), Ícaro Silva (Ticiano) e Luiz Henrique Nogueira (Jofre). Lamenta-se também o pouco aproveitamento da ótima Jeniffer Nascimento (Kika).

Verão 90
Silvio de Abreu, hoje à frente do departamento de dramaturgia da Globo (Imagem: Divulgação / Globo)

Os problemas da dramaturgia da Globo passam, no momento, pela desorganização. Embora tudo pareça muito bem encaminhado, o troca-troca nas filas das 18h e das 21h é constante – e os horários, vira e mexe, acabam nas mãos do mesmo. Das duas, uma: ou estão divulgando projetos muito embrionários precipitadamente, o que causa essa impressão de “confusão” no público, ou estão preterindo certos profissionais em benefício dos “de sempre”.

Segundo informação do jornalista Flávio Ricco, a mais nova do setor, hoje chefiado por Silvio de Abreu, passa pela mudança às 21h. Licia Manzo e João Emanuel Carneiro não estão garantidos na faixa em 2020, após “A Dona do Pedaço” e “Amor de Mãe”. Licia, cabe lembrar, está fora do ar desde 2015, quando conclui “Sete Vidas”; a título de comparação, neste mesmo período, Walcyr Carrasco emplacou três projetos.

Reforço

A Globo, aliás, estreia nesta segunda-feira (29) a sua nova novela das 19h, “Bom Sucesso”. O folhetim de Rosane Svartman e Paulo Halm será substituído por “Salve-se Quem Puder”, de Daniel Ortiz. A fila do horário acaba aí, conforme relatei aqui no blog domingo passado (21). A chegada de Gustavo Reiz ao canal, após anos de Record, poderá sanar tal “problema”. O blog deseja sorte ao autor, responsável pela ótima “Escrava Mãe” (2016), na nova casa.

Ligo

Fábia Oliveira. Com apenas uma participação, a jornalista de “O Dia” mostrou-se mais útil ao programa do que aqueles que boa parte da web convencionou classificar como “chamarizes de audiência”: Leo Dias – hoje se promovendo às custas da exposição dos bastidores nada amistosos da atração – e Mara Maravilha – que, inapta para a função, estende comentários vazios para manter-se sob a luz da câmera.

Competente, articulada, segura e ácida na medida certa, Fábia Oliveira parece ser o antídoto para o veneno que corrói o vespertino do SBT – e que parte, sempre, de quem o produz.

Desligo

Record, vendendo as reprises de suas novelas, especialmente as bíblicas, como inéditas. Dá a impressão que a emissora concorda com os muitos usuários de redes sociais que afirmam que todas as produções deste filão são idênticas. E tenta assim fazer o telespectador acreditar que o produto é novo. Caso de “O Rico e Lázaro”, finalizada em novembro de 2017; de volta ao vídeo no próximo dia 13.

Aliás, a dramaturgia da casa padece por conta do “mais do mesmo”. A baixa audiência de “Jezabel” – especialmente quando comparada à reapresentação de “Bela, a Feia” (2009) e à inédita “Topíssima” – atesta o cansaço do público.

Verão 90
Karyn Bravo e Ana Paula Couto estão à frente do novo “Jornal da Cultura” (Imagem: Divulgação / Cultura)

Fecha a conta

Semana de estreias na TV! Amanhã, além de “Bom Sucesso” às 19h, o novo “Jornal da Cultura” (21h15), com Ana Paula Couto e Karyn Bravo, um dos muitos talentos negligenciados pelo SBT. Na terça-feira (30), lá pelas 22h30, a 8ª temporada do “The Voice Brasil” – espero que não seja tão sem graça quanto às chamadas. No domingo (4), a volta de “Maysa – Quando Fala o Coração” (2009) no Canal Viva, às 23h45, logo após a maratona de “O Cravo e a Rosa” (2000).

O que você achou? Siga @rd1oficial no Instagram para ver mais e deixar seu comentário clicando aqui
Duh SeccoDuh Secco
Duh Secco é  "telemaníaco" desde criancinha. Em 2014, criou o blog Vivo no Viva, repercutindo novelas e demais atrações do Canal Viva. Foi contratado pela Globosat no ano seguinte. Integra o time do RD1 desde 2016, nas funções de repórter e colunista. Também está nas redes sociais e no YouTube (@DuhSecco), sempre reverenciando a história da TV e comentando as produções atuais.