Tonico Ferreira deixa a Globo após quase 40 anos na casa

Tonico Ferreira durante participação no programa “Encontro com Fátima Bernardes” (Imagem: Reprodução / Globo)

A Globo acaba de perder um dos nomes mais tradicionais e representativos de seu núcleo de jornalismo. Após 37 anos de casa, Tonico Ferreira decidiu pedir demissão da emissora carioca.

O desligamento do jornalista foi confirmado na tarde desta quarta-feira (4) pelo diretor geral de jornalismo e esportes da Globo, Ali Kamel, em comunicado oficial.

De acordo com ele, o contrato de Tonico com a família Marinho se estenderia originalmente até 2020, mas será rescindido a pedido do próprio comunicador, que, com 70 anos de idade e 50 de carreira, deseja se aposentar a fim de ter mais tempo para se dedicar à família, ao lazer e aos estudos.

Doeu, mas não pude dizer não. Ninguém resiste ao Tonico. Não é à toa que sempre há uma roda de colegas em volta dele, quando está na redação. E não apenas para ouvir sua análise sem paixões dos assuntos da política, do sobe e desce da economia e da vida brasileira. É também para escutar histórias de mais de seus anos de jornalismo, que fazem dele um dos mais experientes e importantes profissionais da imprensa brasileira“, afirmou Kamel.

Confira abaixo a íntegra do comunicado enviado por Ali Kamel ao núcleo de jornalismo da Globo em razão da saída de Tonico Ferreira:

“Há cerca de um mês, fui procurado pelo Tonico Ferreira. A conversa fluiu fácil, como todas com ele. Discutimos o jornalismo, o país, nossas vidas, projetos. Projetos. Foi quando ele me falou de alguns, muito especiais. Depois de mais de 50 anos de carreira, aos 70 anos de idade, quer ter mais tempo para estudar, ler, viajar e, mais importante, estar perto da família. Está onde sempre esteve há anos: no auge. Ele me disse que se sente feliz com o trabalho que realiza na Globo e que, depois de todos esses anos, se sente realizado, o que me deixou muito feliz. Mas precisa de mais tempo para si, sem as obrigações do dia a dia. E me pediu para interromper o contrato, que só terminaria em dois anos e um pouco mais. Me digam: quem pode recusar um pedido do Tonico, um colega que todos ouvem, que a todos ajuda, uma palavra sempre de sensatez. Doeu, mas não pude dizer não. Ninguém resiste ao Tonico. Não é à toa que sempre há uma roda de colegas em volta dele, quando está na redação. E não apenas para ouvir sua análise sem paixões dos assuntos da política, do sobe e desce da economia e da vida brasileira. É também para escutar histórias de mais de seus anos de jornalismo, que fazem dele um dos mais experientes e importantes profissionais da imprensa brasileira.

Tonico era um jovem arquiteto quando começou a trabalhar em jornal, na década de 60. A experiência com linhas e curvas foi muito útil para diagramar os jornais do movimento estudantil, que eram a voz da oposição ao regime militar em plena ditadura. Logo ele estaria na “Folha de São Paulo” e, em 1968, foi para a “Folha da Tarde”, quando o jornal ainda publicava temas ligados às causas de esquerda.

Os tempos eram de chumbo e a mudança na linha editorial do diário fez Tonico mergulhar de vez no jornalismo – mas longe do jornal. Nessa época, passou pelas revistas “Veja” e “Realidade” e, em 1972, se envolveu no projeto que marcaria sua carreira de forma definitiva – surgia o jornal “Opinião”.

Como secretário de redação, Tonico foi um dos responsáveis pelo jornal, que reunia o pensamento da época na defesa das liberdades e contra a ditadura. Todos os intelectuais que importavam publicavam suas ideias no “Opinião”. No auge do regime militar, o jornal resistiu bravamente à censura por pouco mais de três anos.

O “Opinião” acabou, mas a resistência não. Tonico foi um dos fundadores do Movimento, outro ícone da imprensa alternativa, como se dizia à época. Por sua posição de diretor responsável, foi processado pela Lei de Segurança Nacional e, mais tarde, beneficiado pela Lei da Anistia.

Para um jornalista de sua geração, essa trajetória, marcada pela luta em favor das garantias democráticas e pela liberdade de expressão, já teria assegurado uma vaga de titular em qualquer time de campeões da imprensa nacional. Mas esse não seria o Tonico.

No começo dos anos 80, Tonico se reinventou – e veio trabalhar na televisão. Poucos meses na TV Bandeirantes e desde o final de 1981, na Globo. Meses depois, o primeiro furo na TV lhe rendeu o prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos: o Escândalo da Mandioca, tataravô de tantos outros casos de desvio de dinheiro público.

Tonico esteve em todas as grandes coberturas do Jornalismo da Globo nas últimas três décadas. A morte de Tancredo Neves, os planos econômicos que tentaram conter a inflação, o impeachment de Collor, as privatizações de FHC, as inúmeras viagens de Lula. Foi também correspondente da Globo em Londres e um dos repórteres que mais cobriu os impasses políticos e as desventuras das frágeis democracias latino-americanas. Cruzou o país atrás de histórias e personagens brasileiros. “Jornal Nacional”, “Globo Repórter”, “Globo Natureza”, nunca houve pauta ruim para o Tonico. Aliás, como ele mesmo diz, para divertimento dos seus colegas: “tudo o que acontece no mundo se resume em 60 pautas”. Ele sempre caprichou em todas elas. Tonico tem alma de repórter. Gosta de novidade, de conversar, do embate com o entrevistado, dos contrastes descobertos e dissecados em um texto. É um curioso sobre o mundo à sua volta e, celular na mão, atento aos assuntos que estão sendo debatidos nas redes, nos blogs, nas manchetes estrangeiras.

Quem conhece um pouco mais o Tonico sabe que atrás de uma aparente tranquilidade, vive um homem inquieto, que gosta de boas aventuras, de navegar, pedalar, viajar para lugares incomuns. Quando ele fala em se aposentar do dia a dia da redação para ter mais tempo para ele mesmo, a gente só pode ficar imaginando que ele quer liberdade para explorar suas outras inúmeras habilidades, viver novas descobertas e se reinventar, como sempre. Tonico, em nome da TV Globo, eu agradeço tantos anos de excelente jornalismo. E em meu nome, eu agradeço por todos os anos de companheirismo e peço para que mantenhamos o convívio. Quero continuar ouvindo suas análises, seus argumentos, suas opiniões. Nessa nova etapa, desejo tudo de bom. Boa sorte e muito obrigado.

Ali.”

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