Depois de 155 capítulos, Bom Sucesso chega ao fim nesta sexta-feira (24) como um dos principais êxitos recentes na faixa das 19h. O enredo, que contou a história da aproximação entre uma costureira humilde e um rico – porém, ranzinza – editor de livros conquistou público e crítica.
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Mas, afinal, que elementos explicam um desempenho tão expressivo? Em alguns dias, a novela foi o programa mais visto da TV brasileira, superando o Jornal Nacional e Amor de Mãe. Com base nesse cenário, este colunista toma a liberdade de listar os erros e acertos de Bom Sucesso.
Acertos de Bom Sucesso
Para começar, vamos aos pontos positivos, que transformaram a novela de Rosane Svartman e Paulo Halm em um dos principais sucessos da década. Até terça-feira (21), Bom Sucesso acumulava uma média de 28,82 pontos.
História cativante
O encontro inusitado entre a costureira Paloma da Silva (Grazi Massafera) e o rico editor Alberto Prado Monteiro (Antônio Fagundes), a partir da troca de um exame de laboratório, foi o ponto de partida para a criação de uma história envolvente, que cativou o público.
A aproximação de pessoas de universos tão distintos e a transformação que ocorreu na vida de cada um deles, após se abrirem para novas experiências, foi retratada com extrema sensibilidade.
Ao longo de toda a trama, Grazi e Fagundes protagonizaram belas sequências na biblioteca de Alberto ou em pontos turísticos do Rio de Janeiro. Em comum, os diálogos reforçavam a importância de aproveitar bem o tempo que nos resta e acreditar na realização dos sonhos.
Mocinha carismática
A carismática mocinha, que apesar da origem popular, não era ingênua ao extremo, foi outro acerto. Sem abrir mão da integridade, as heroínas podem ter personalidade forte, tomar iniciativa e reagir às injustiças e desaforos.
Logo no início da trama, Paloma já deu provas que não seria apalermada, ao ir a forra e quebrar a loja da ex-patroa que a humilhava. Também não deixou barato e teve um ataque de fúria quando um vendedor ambulante a assediou.
Ponto para Grazi, que fez um trabalho de composição brilhante. Aliás, se alguém ainda tinha dúvidas, ela deu mais uma prova de que se tornou – merecidamente – uma atriz do primeiro time. Já há algum tempo, o rótulo de ex-BBB, por si só, não faz justiça ao seu talento.
Personagens complexos e elenco bem escalado
A complexidade dos personagens também deu a outros atores a chance de brilhar e foi um dos acertos de Bom Sucesso. É o caso, por exemplo, de Fabíula Nascimento e sua Nana. Para reconquistar o carinho do pai e pensando sempre em fazer o melhor por ele, a executiva cometeu algumas atitudes questionáveis.
Na pele do adorável cafajeste Diogo, Armando Babaioff também roubou a cena ao transitar, com maestria, pelas diferentes facetas do personagem. Durante boa parte da trama, o advogado se mostrou um lobo em pele de cordeiro para esconder seus reais interesses.
Mas, na reta final, Babaioff soube imprimir a frustração, inveja e raiva que tomaram conta de Diogo em doses exatas, tão logo ele percebeu que todas as suas armações para se dar bem fracassaram.
O próprio Fagundes sempre esteve bastante a vontade mergulhado em um universo que lhe é tão próximo quando as câmeras estão desligadas. Tal qual seu personagem, o veterano é assumidamente um leitor voraz.
Finalmente, João Bravo e Valentina Vieira protagonizaram belas sequências na pele de Peter e Sofia. Merecem figurar, portanto, na lista de acertos de Bom Sucesso. Ambos têm potencial para construir uma carreira longeva na TV. Ficamos na torcida por novos trabalhos!
Referências literárias
Muito além de entreter, a inserção de referências literárias foi um dos principais acertos de Bom Sucesso e fez aumentar o interesse pelas histórias citadas na novela. De Peter Pan a Alice no País das Maravilhas, passando por Dom Quixote e Capitães de Areia, houve menções para agradar a todos os perfis.
Em alguns casos, os personagens da novela foram transportados para dentro dos livros, reproduzindo passagens clássicas. Foi assim que, dando asas a sua criatividade, Paloma se imaginou na pele de Dona Flor, ao lado de seus dois maridos.
Os erros de Bom Sucesso
Apesar de seus muitos méritos, no entanto, a trama de Rosane Svartman e Paulo Halm não passou completamente imune aos problemas. Vamos a eles:
O pai calhorda e a doação de sangue
Assim que Paloma decidiu assumir seu romance com Marcos (Rômulo Estrela), os autores se viram diante da necessidade de introduzir um novo conflito para atazanar a vida da mocinha e impedir o final feliz antecipado do casal.
E a solução foi ressuscitar o ex-marido da costureira. A essa altura, Gabriela (Giovanna Coimbra) está bastante debilitada após ter salvo a vida de Alberto e precisa de uma transfusão de sangue para se recuperar completamente.
Mesmo sabendo que é a única esperança da filha sobreviver, Elias (Marcelo Faria), o pai calhorda, condiciona a doação ao recebimento de uma gorda quantia em dinheiro. O perfil truculento e maniqueísta do personagem – que se diverte ao amedrontar todos os que estão a sua volta – e o tom soturno da trama vão de encontro a sutileza que deu o tom da narrativa.
A paixão de Alberto por Paloma
Em dado momento, o fundador da Prado Monteiro está confuso sobre o que realmente sente por Paloma: amor paternal ou paixão carnal. Ao descobrir essa situação, Marcos decide se sacrificar e abrir mão da mulher amada para vê-lo feliz.
No entanto, a insinuação de que Alberto seria mais um pretendente ao coração da costureira só serviu como mais um obstáculo para que o casal assumisse sua relação. Na prática, no entanto, isso não representou uma reviravolta interessante para a trama.
A morte precoce de Éric Feitosa
Um dos entrechos que poderia ter sido melhor explorado pelos autores é a rivalidade entre Alberto e Éric Feitosa (Jonas Bloch), a quem o dono da Prado Monteiro prejudicou na juventude ao não publicar O Satanás Burlesco.
Além do show de atuação dos veteranos sempre que contracenaram juntos, as cenas de acerto de contas sempre demonstravam a dubiedade da personalidade de Alberto: mesmo longe de ser um vilão, ele foi um homem que cometeu muitos erros ao longo da vida.
O mais curioso é que a morte precoce de Éric não parece ter sido um acontecimento essencial para o desenrolar da história. Jonas Bloch poderia ter permanecido sem comprometer os planos de Rosane e Paulo, tanto é que ele voltou depois como um fantasma. Não dá para entender porque os autores decidiram tirá-lo de cena tão cedo.
Finalizado este texto com os erros e acertos de Bom Sucesso, que venha Salve-se Quem Puder. Que seja uma boa opção de entretenimento e que nos salve do marasmo, mas sem subestimar a inteligência do público. Rosane e Paulo demonstraram que isso é possível. Que outros autores sigam esse bom exemplo!
Piero Vergílio é jornalista profissional desde 2006. Já trabalhou em revistas de entretenimento no interior de SP e teve passagens pelo próprio RD1. Em tempos de redes sociais, criou um perfil (@jornalistavetv) para comentar TV pelo Twitter e interagir com outros fãs do veículo. Agora, volta ao RD1 com a missão de publicar novidades sobre a programação sem o limite de 280 caracteres.