Uma personagem doce, generosa e sempre alegre, que insiste em manter a candura e o otimismo mesmo frente aos maiores desaforos e às piores adversidades. Essa descrição poderia corresponder perfeitamente à heroína de um título qualquer do catálogo da Televisa, ou ainda mais se tratando das pequenas protagonistas de “Luz Clarita”, “Chispita”, “Gotinha de Amor”, “Chiquititas” e similares.
Mas desta vez não. Estamos falando da personagem principal de “As Aventuras de Poliana”, primeira trama do filão de novelas infantis do SBT produzida a partir de um argumento inédito e genuinamente tupiniquim – ou nem tanto, já que a inspiração oficial é o livro “Pollyana”, da britânica Eleanor H. Porter – em detrimento da refilmagem de originais castelhanos, como feito até agora desde “Carrossel” (2012) à ainda em exibição “Carinha de Anjo”.
É lançando mão desta fórmula bastante manjada, com fortes tintas de maniqueísmo e herança latina inegável que o SBT deu início, na noite desta quarta-feira (16), à mais nova aposta da emissora e da novelista Íris Abravanel em um subgênero que, em tese, ela já domina muito bem.
Não foi, porém, exatamente o que se comprovou nas telas. A parceria da esposa de Silvio Santos com o diretor Reynaldo Boury, que já se mostrara digna de críticas em trabalhos anteriores, volta aqui a incorrer em diversas falhas que, se talvez possam escapar incólumes ao crivo pouco exigente da audiência mirim, certamente pesam na avaliação do espectador mais criterioso.
O que se viu foi uma apresentação didática e profusa de personagens, numa edição pouco sensível e um roteiro mal-amarrado, repleto de performances musicais e dançantes para disfarçar sua falta de consistência. Tampouco se notou muito progresso no que compete a Boury, cujo maior mérito foi a valorização das paisagens do Nordeste brasileiro nas sequências iniciais.
O maior charme de “As Aventuras de Poliana”, portanto, acaba se concentrando quase que totalmente no elenco, onde diversos atores – favorecidos, inclusive, pela pressa de Íris em apresentar quase todos os personagens logo no primeiro capítulo – já puderam se sobressair. A começar pela protagonista, Sophia Valverde. Da estreia como Maria no remake de “Chiquititas” (atualmente em reprise) ao momento atual, é inegável a evolução da atriz de apenas 12 anos, que entregou uma Poliana sob medida: ingênua, bondosíssima e até algo bobalhona sem deixar de ser absolutamente carismática. Uma escalação certeira, assim como também já se enuncia seu parceiro de cena, Igor Jansen (João), talentoso e com presença cênica.
A participação especial do casal Kiara Sasso e Lázaro Menezes – famosos nomes da cena musical paulistana – como os pais de Poliana também serviu para abrilhantar o folhetim, assim como as performances de Milena Toscano (Luíza), Lisandra Parede (Débora), Lílian Blanc (Branca), Larissa Manoela (Mirela) e até das crianças Theo Medon (Mário) e Bela Fernandes (Filipa). Destaque especialíssimo ainda para a pouco conhecida atriz Rafaela Ferreira, intérprete da simpática empregada Nancy. Não seria injusto dizer que vieram dela os trechos mais inspirados do capítulo de estreia, tanto em texto como em interpretação.
Entre altos e baixos, “As Aventuras de Poliana” deixou claro que vai pelo mesmo caminho de suas antecessoras, dando preferência a histórias leves e pueris, com drama em doses homeopáticas e incontáveis situações de humor lúdico que possam preencher uma quantidade de capítulos a perder de vista. Exatamente por isso, tem tudo para fazer sucesso.
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Felipe Brandão é jornalista diplomado pela Faculdade Pitágoras (PR) e atua desde 2010 escrevendo sobre televisão e cinema. Aficionado por entretenimento, com predileção especial pelas novelas – nacionais e estrangeiras -, possui passagens por veículos como as revistas “Conta Mais” e “TV Brasil” e integra desde 2016 a equipe do RD1, nas funções de redator e editor-assistente.
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