Francisco José relembra reportagens marcantes e negociação com bandidos

Francisco José relembrou a carreira no “Conversa com Bial” (Imagem: Reprodução / Globo)

Francisco José conversou com Pedro Bial em seu programa na Globo nesta segunda-feira (29), e relembrou momentos especiais e reportagens que marcaram a sua carreira na TV.

Francisco, considerado um dos grandes nomes do jornalismo da emissora, relembrou quando se tornou refém de assaltantes que roubavam um banco, no Recife. Ele decidiu se tornar refém para salvar a vida de uma mulher grávida de dois meses. O fato de 1987 é lembrado por ele até hoje.

Chico, como é conhecido, contou que estava no local para cobrir o assalto, quando foi autorizado pelos bandidos a conversar com eles longe das câmeras e sem microfone. “Eles queriam o delegado e iam matá-lo“.

As primeiras pessoas que vieram à sua cabeça antes de decidir se entregar para os bandidos fora as filhas. “Liguei para uma das minhas filhas e disse: ‘Vou entrar e sair com o bandido. Vocês vão ver imagens da arma na minha cabeça. Mas não se preocupe que eu volto sempre’“.

O acordo feito era que Francisco, nove reféns e os criminosos entrariam em um carro e libertaria todos durante a fuga. Mas, a policial não cumpriu com o acordo.

Seguimos até Salvador. Uma viagem de 800 km com 10 pessoas dentro do carro. E a polícia perseguindo. Só eu conhecia bem a estrada“, afirmou. “Queria ajudar aquelas pessoas. Enquanto estivesse dentro do carro, sabia que a polícia ia pensar duas vezes antes de atirar“.

O repórter contou ainda a primeira vez que entrou ao vivo no “Jornal Nacional”. Onde? Do fundo do mar, em 1992. José lamentou que nos dias de hoje não possa repetir o feito, já que é apaixonado por mergulho.

“A gente não consegue mais fazer isso. Já tentei e não consegui. Ninguém entra mais ao vivo debaixo d’água. É muito complicado”, declarou. “Já tentei no programa da Ana Maria Braga quando estava lá embaixo, comecei a falar e entrou água na máscara”.

Com 74 anos, Francisco começou a carreira no jornalismo sem ser uma das suas ambições. “Quando meu pai morreu, minha mãe achou que a melhor forma de me educar era no seminário. Dos 8 aos 10 anos vesti batina. A igreja perdeu um grande sacerdote“.

Ele é apaixonado por futebol e isso fez abrir as portas para a escrita. Na época da sua “descoberta”, o profissional mandou uma carta corrigindo erros de estatísticas de um jornal de Pernambuco.

O editor-chefe me convidou para fazer as estatísticas do jornal. No primeiro mês, faltou um repórter. Acabei escalado, fiz a matéria e fui contratado. Ainda não tinha o curso de Comunicação“.

Francisco foi credenciado para fazer a cobertura da Copa do Mundo de 1970, quando conheceu Armando Nogueira, um dos criadores do “Jornal Nacional” e diretor do jornalismo da Rede Globo na época. “Quando surgiu o Globo Esporte em Pernambuco, ele me contratou“, disse.

Mais tarde, foi o primeiro repórter nordestino a ter matérias exibidas no “JN”. “Só havia repórter em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília”, confessou. “Durante 10 anos, mostrei o Nordeste para o Brasil no ‘JN’ de forma inédita. Não só o lado da seca e da dificuldade, mas também das belezas e sua cultura“.

Na ditadura, Francisco foi proibido de usar a palavras fome enquanto mostrava a região. “Mas não precisava falar. As imagens eram muito fortes. Era só mostrar“. Chico, ao contrário de muitos profissionais da área, recusou ser correspondente internacional inúmeras vezes. “Não troco minha região por nenhum outro lugar do mundo“.

José, cearense, gravou sua 100ª edição do “Globo Repórter”, um “encontro” nada amistoso com tubarões mangona na África do Sul. O programa será exibido no dia 14 de dezembro. “É um pouco arriscado e sempre uma incógnita. Mas se você foi até lá, foi sabendo que tinha um risco”, contou.

Ele afirmou ainda que a edição mais marcante que fez para o programa foi em 2012, sobre os homens espíritos da tribo Enawenê-nawê, finalista do Emmy: “Ficamos 32 dias dentro da aldeia“.

Paulo Carvalho
Escrito por

Paulo Carvalho

Paulo Carvalho acompanha o mundo da TV desde 2009. Radialista formado e jornalista por profissão, há cinco anos escreve para sites. Está no RD1 como repórter e é especialista em Audiências da TV e TV aberta. Pode ser encontrado nas redes sociais no @pcsilvaTV ou pelo email [email protected].