Gloria Maria revela cartas racistas que recebia no início do Fantástico

Gloria Maria
Gloria Maria lembrou do início da sua carreira e falou de racismo (Imagem: Reprodução / Globo)

Gloria Maria está vivendo um momento em que ela jamais imaginava. Depois de operar um tumor benigno no cérebro, a apresentadora da Globo também sofre com a suspensão das viagens por causa da pandemia. Porém, para ela é a oportunidade de reencontro com ela mesma.

Em conversa com a Maria Claire, a jornalista lembrou do seu início de carreira. Ela foi a primeira mulher negra a ocupar um espaço de protagonismo na maior rede de televisão do país e teve a oportunidade de cobrar guerra, apresentar os telejornais de maior audiência e viajar o mundo para os noticiários.

A famosa ressaltou que a raiz do seu pioneirismo tem origem com a sua avó Alzira. “Era a verdadeira chefe da família. Mal sabia ler ou escrever, mas tinha uma sabedoria incrível. E uma paixão por mim. Ela me ensinou o valor da liberdade. Quando contava histórias dos nossos antepassados, dizia que seus avós não tinham sido escravos porque foram beneficiados pela Lei do Ventre Livre, mas que um deles tinha sido laçado em Minas Gerais”, contou.

“Por isso, enfatizava: ‘Nossos antepassados foram acorrentados, então você não pode permitir nunca que lhe coloquem uma corrente, em nenhum aspecto da vida. Vivi com isso. Meu traçado foi ser livre”, acrescentou.

A famosa ressaltou que a escolha pelo jornalismo veio nesta situação: “Com 14 ou 15 anos, entendi que queria trabalhar com a palavra. Minha mãe só me matriculou na escola até o primário. Depois, era eu quem fazia a matrícula sozinha. Sempre fui independente”.

Depois disso, ela não parou mais. Aos 16, começou a trabalhar na parte administrativa da Globo e soube de uma oportunidade de estágio no Jornal Nacional.

Mas as coisas não foram fáceis para a apresentadora. Segundo Gloria Maria, o racismo manifestou-se em sua vida profissional.

“Quando comecei a apresentar o Fantástico, recebia cartas de telespectadores: ‘Como você, uma negra, está apresentando um programa? Esse lugar é de brancos’. E aí eu tinha que olhar aquela carta 10, 15, 20 vezes. Não era um post de internet, não tinha como apagar, nem ninguém que fosse brigar por mim. Aprendi a enfrentar e nunca suportar”, desabafou.

A famosa seguiu: “Dizia na cara das pessoas qual era a intenção delas quando algo desse tipo acontecia. No meu tempo era eu, meu espelho, minha resposta e minha atitude”.

Apesar dos preconceitos, ela nunca mais deixou a TV e ainda conquistou os postos mais cobiçados da emissora. Na lista dos grandes marcos pessoais da carreira da jornalista, está uma viagem para o pé do Monte Everest. “O grande fascínio do tipo de jornalismo que faço é que me permite conhecer outras pessoas e, conhecendo outras pessoas, me conheço melhor”, relatou.

Gloria também falou sobre um dos únicos períodos em que se ausentou da TV, entre 2007 e 2009, para viver um período sabático. Na ocasião, ela viveu o que diz ter sido outra das experiências fundamentais de sua vida, quando fez trabalhos voluntários na Índia, na Nigéria e na Bahia.

“No meu primeiro dia de sabático, o Nelson Chama, um amigo budista, ligou perguntando se eu queria ir para a Índia fazer um trabalho voluntário em um monastério. Topei na hora. Durante meses, acordava às 3 horas da manhã para colocar flores em volta do templo, depois servia o café da manhã dos monges”, contou.

“Às 11 horas, colocava as sobras do café da manhã e do almoço para os mendigos que ficavam em um grande campo de futebol à espera de comida. À tarde, passava horas andando em volta de uma árvore que dizem que foi onde Buda recebeu a iluminação, falando os mantras. Foi uma experiência radical que mudou meus valores”, acrescentou ela.

A famosa ainda completou: “Na Índia, ou você vive a sua vida ou se ferra. Ali aprendi a focar no que é meu. Vale pra tudo: carreira, dinheiro, sentimento”. Foi nesse período em que ela decidiu adotar Maria e Laura, hoje com 13 anos e 12 anos.

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