Seis meses após decidir fazer o seu exílio voluntário do Brasil – por causa de ameaças que passou a receber desde a morte da vereadora Marielle Franco e também do motorista Anderson Gomes, em março do ano passado no Rio de Janeiro -, Jean Wyllys garantiu em entrevista à revista GQ que hoje está mais tranquilo e se adaptando melhor a Berlim, na Alemanha, onde mora atualmente, mas lamentou ter que deixar o seu país.
“Não podia continuar no país e faço questão de dizer para as pessoas que isso se deu por causa das ameaças que chegavam por telefone, por e-mail, pelas redes sociais, mas também pelas agressões que o cidadão comum fazia contra mim. É uma experiência dolorosa demais você deixar um lugar que é seu, em que você viveu toda a vida, porque sua permanência ficou insustentável”, afirmou.
O ex-deputado federal (PSOL-RJ) revelou ainda que os ataques contra ele aconteciam de maneira constante. “Era uma coisa cotidiana! Não havia momento em que eu colocasse os pés na rua em que alguém não viesse me insultar ou falar da minha morte como algo desejável. Essa recente avalanche de fake news contra mim despertou uma nova onda de ameaças de morte. Então, tenho certeza de que fiz a coisa certa. Não posso voltar para o Brasil nem para passar férias, nem para ver minha família. Falo com a minha mãe quase todo dia e a grande angústia dela – e também a minha – é saber se vou voltar antes dela morrer”, confessou.
A experiência fez com que Wyllys desenvolvesse um trabalho com palestras sobre fake news e discurso de ódio. “As fake news são compostas de elementos da verdade tirados de seu contexto original e usados em outro. Elas são construídas de forma a produzir um todo coerente feito sob medida para interpelar o preconceito que já existe na maioria das pessoas. Dito de maneira simples: as fake news não fariam sucesso se as pessoas já não tivessem preconceito”, explicou.
Sobre a atual situação do Brasil, Jean disse: “Existe uma face de nós que estava recalcada. Que nação é essa que se incomoda com o fato de que as famílias pobres recebam 70 reais por mês através do Bolsa Família, que chama de bolsa-vagabundo um valor que tanta gente gasta numa única noite num bar? Que nação é essa que não reconhece a vulnerabilidade da população preta moradora das periferias, que não reconhece que a justiça brasileira tem lado, que não vê que a população carcerária é em sua maior parte preta e pobre? Todo o processo de redemocratização do país nos governos FHC e principalmente nos governos Lula interpelaram o que temos de melhor em nós”.
“Botamos para fora aquilo que faz com que o mundo goste da gente. Nós mesmos nos víamos como pessoas bacanas. A economia indo bem, a gente partindo para o quase pleno emprego, luz para todos, ingresso na universidade geraram uma onda de felicidade. Venci o BBB em 2005 muito nessa onda de felicidade. O país estava feliz e logo estava aberto à diversidade. Naquele tempo foi possível eleger um nordestino gay, professor”, completou.
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