Nos últimos anos, uma tendência se acentuou pela TV brasileira: profissionais que decidem trocar o jornalismo pelo entretenimento. Das bancadas dos principais telejornais para realities e talent shows ou então para um programa para chamar de seu.
VEJA ESSA
Para alguns, essa transição, de fato, representou uma guinada na carreira. Para outros, porém, trocar o jornalismo pelo entretenimento foi uma aposta de risco. Relembre os principais casos:
Quem acertou ao trocar o jornalismo pelo entretenimento
Fátima Bernardes
Em 2011, a notícia de que Fátima Bernardes trocaria a bancada do Jornal Nacional por um programa de entretenimento pegou a todos de surpresa. Além da trajetória vitoriosa, ela formava com William Bonner um dos casais mais respeitados pelo público.
Alguns meses depois, nascia o Encontro. Oito anos se passaram e o programa segue como uma das principais apostas da grade matinal. Em tempos de pandemia, a atração absorveu o tradicionalíssimo Mais Você.
Ao longo desse período, a Globo fez alguns ajustes no formato até que a atração caísse de vez nas graças do público. Fátima celebrou a sua evolução.
“Evolução no sentido de desligamento de uma tarefa e de uma função altamente jornalística de hard news no principal telejornal, para outra postura profissional que é dessa pessoa que se diverte com o público. Então, quanto mais eu consigo me divertir com o programa, mais eu acredito que o público também se diverte”, avaliou.
Tiago Leifert
Em 2012, Boninho escolheu Tiago Leifert – então apresentador da edição paulista do Globo Esporte – para comandar o The Voice Brasil. A competição musical fez sua estreia naquele ano.
Àquela altura, o jornalista colhia os bons resultados da mudança na linha editorial do esportivo, que aboliu o teleprompter e passou a apostar em pautas mais descontraídas.
Nos primeiros anos, essa transição acontecia na base do empréstimo. Tiago só se afastava do Globo Esporte durante a temporada do talent show.
Em dado momento, trocar o jornalismo pelo entretenimento definitivamente passou a ser uma questão de tempo. Quando isso aconteceu, Leifert até fez parte da formação original de apresentadores do É de Casa. Em ocasiões bastante pontuais, chegou a substituir Fátima no Encontro.
Isso até se tornar o rei dos realities. Em 2016, acumulou a versão adulta com a primeira temporada do The Voice Kids. Mas teve que abrir mão do talent show infantil no ano seguinte, quando assumiu o BBB em substituição a Pedro Bial.
Nesse meio tempo, conseguiu emplacar o Zero1, programa geek exibido na madrugada de sábado para domingo. Na Copa do Mundo de 2018, voltou ao esporte temporariamente para comandar a Central da Copa. Parece que, na agenda de Leifert, sempre há espaço para mais um projeto.
Ana Paula Padrão
Ana Paula Padrão construiu uma trajetória bastante vitoriosa no jornalismo. Teve passagens marcantes por noticiários de Globo, SBT e Record. Mas foi na Band que ela decidiu reinventar a carreira. Como não se sentia mais desafiada ao estar em uma bancada, a emissora lhe fez o convite para trabalhar com o Masterchef.
Sobre essa transição, Ana faz duas confissões: a primeira delas é a de que, até aquele momento, ela não conhecia o formato. E também que as duas primeiras temporadas a frente do reality culinário não foram fáceis.
Em entrevista à Revista Caras, ela contou que, quando o reality caiu no gosto popular, passou a receber pedidos para tirar fotos nas ruas. “A gente realmente não imaginava que iria fazer tanto sucesso e muito menos que a gente teria a possibilidade de mudar a maneira que as pessoas enxergam fazem comida no Brasil”, festejou.
Prova disso é o fato da Band investir em várias versões do formato. Além da disputa entre anônimos, já foram exibidas temporadas com profissionais e crianças.
Quem não conseguiu a mesma visibilidade com a troca
Patrícia Poeta
No jornalismo, Patrícia Poeta construiu uma bem-sucedida carreira. Esteve a frente do SPTV e foi correspondente internacional. Viveu seu auge no Fantástico, do qual foi apresentadora por quatro anos.
O bom desempenho no dominical contribuiu para o convite para comandar o Jornal Nacional, em 2011. Mas sua passagem pelo principal telejornal do país foi relativamente curta. Cerca de dois anos e onze meses depois, Renata Vasconcellos assumiria o posto.
A justificativa oficial é a de que Patrícia, a exemplo de Fátima, se dedicaria a um projeto no entretenimento. Mas, até hoje, o programa solo não passou de uma promessa.
A solução encontrada pela Globo foi integrá-la ao É de Casa. O matinal, aliás, parece ter sido criado sob medida para apresentadores subaproveitados na emissora.
Adicionalmente, Patrícia se tornou uma das substitutas oficiais de Ana Maria Braga e Fátima Bernardes. Sempre que apresenta o Encontro ou o Mais Você, ela faz questão de mencionar o matinal de sábados. É como se ela precisasse lembrar ao público que ainda está no ar.
Zeca Camargo
Depois de 18 anos exercendo diferentes funções – criação, reportagem e apresentação – no Fantástico, Zeca Camargo aceitou o convite de Ricardo Waddington para assumir o Vídeo Show em 2013. Já naquela época, o programa sobre os bastidores da TV dava sinais de desgaste.
Com a reformulação, o vespertino deixou em segundo plano as reportagens sobre os bastidores da TV para centrar na participação de um convidado em estúdio. Mas o formato não agradou. Permaneceu no ar por, aproximadamente, um ano.
Antes de deixar o programa em definitivo, Zeca desenvolveu a série “Pelo Mundo das TVs”, que contava, ao telespectador curiosidades sobre a maneira de fazer televisão em outros países.
Depois, a exemplo de Patrícia Poeta, foi deslocado para o É de Casa. No matinal, seu momento de maior destaque talvez tenha sido o quadro-merchan “Reforma Certa”. A obra, em um de seus apartamentos, foi transformada em um reality show.
Zeca permaneceu no programa até maio deste ano, quando foi confirmada a não renovação do seu contrato. Agora, ele está em negociações com a Band para assumir um renovado Aqui na Band.
Fernanda Gentil
Por último, vale destacar o caso de Fernanda Gentil. Sucesso na Copa de 2014 e também nas Olimpíadas Rio 2016, ela foi promovida à apresentadora do Globo Esporte e, depois, Esporte Espetacular.
Em dezembro de 2018, ela apresentou o dominical pela última vez antes de trocar o jornalismo pelo entretenimento. Ficou nove meses fora do ar, envolvida na concepção do desastroso Se Joga.
Aposta da Globo, o novo programa não empolgou. Games desinteressantes e quadros de humor que não fazem rir, além do indigesto Doce ou Fake, que mostrava convidados gorfando em plena hora do almoço.
Não à toa, a nova atração foi alvo de uma enxurrada de críticas por parte da imprensa e também de telespectadores. E o mais importante: o Se Joga não conseguiu devolver à Globo a liderança no confronto com a Hora da Venenosa.
O acaso, ou melhor dizendo, a pandemia de Coronavírus resolveu esse problema. Com o Jornal Hoje mais longo por conta da cobertura, as fofocas da concorrência já não são mais uma ameaça.
Essa conjunção de fatores põe em xeque o retorno do programa. A Globo ainda insiste que volta, mas esse discurso não está alinhado as decisões da emissora. Fernanda Gentil ganhou um quadro. Adivinhem em que programa? Isso mesmo: no É de Casa.
Em paralelo, vai dividir com Patrícia Poeta a tarefa de comandar o Encontro durante as férias da titular. Cada uma delas vai apresentar o programa por uma semana.
E você? Concorda com a nossa lista? Acredita que mais alguém deveria trocar o jornalismo pelo entretenimento? Deixe a sua opinião nos comentários deste post ou nas redes sociais do RD1.
Piero Vergílio é jornalista profissional desde 2006. Já trabalhou em revistas de entretenimento no interior de SP e teve passagens pelo próprio RD1. Em tempos de redes sociais, criou um perfil (@jornalistavetv) para comentar TV pelo Twitter e interagir com outros fãs do veículo. Agora, volta ao RD1 com a missão de publicar novidades sobre a programação sem o limite de 280 caracteres.