A TV de Meu Bem, Meu Mal: relembre atrações da Globo na época da novela

Duh Secco

28/09/2020

Meu Bem, Meu Mal

Silvia Pfeifer (Isadora Venturini) e José Mayer (Ricardo Miranda) em Meu Bem, Meu Mal; Globoplay disponibiliza novela de Cassiano Gabus Mendes (Imagem: Divulgação / Globo)

O Globoplay disponibilizou, nesta segunda-feira (28), os 173 capítulos de Meu Bem, Meu Mal. A segunda e última incursão do autor Cassiano Gabus Mendes, mestre das 19h, às 20h, destaca a disputa de poder nos andares superiores da Venturini Designers, cujas ações estão divididas entre Dom Lázaro Venturini (Lima Duarte) e Ricardo Miranda (José Mayer). O primeiro acredita que o segundo é fruto da infidelidade de sua esposa. Mal sabem, Dom Lázaro e Ricardo, que, entre eles, está duas figuras tão oportunistas quanto os dois: Valentina (Yoná Magalhães) e Isadora (Silvia Pfeifer). A trama também acompanha o malandro Doca (Cássio Gabus Mendes), envolvido em um plano de vingança contra os Venturini.

A exibição de Meu Bem, Meu Mal na Globo, de outubro de 1990 a maio de 1991, coincidiu com estreias, términos e reformulações. A coluna lista abaixo praticamente tudo o que o público viu enquanto a nova atração do Globoplay estava no ar às 20h.

Meu Bem, Meu Mal

David Pinheiro (Armando Volta) na Escolinha do Professor Raimundo (Imagem: Divulgação / Globo)

Não foi só Meu Bem, Meu Mal que estreou naquele 29 de outubro… A Escolinha do Professor Raimundo, que havia se tornado programa independente em agosto, após a extinção do Chico Anysio Show, ganhava versão diária. Novos alunos passaram a fazer parte da turma, visando atrair crianças e adolescentes, público dominante nas tardes: Armando Volta (David Pinheiro), Flora Própolis (Márcia Brito), Maria Bonita (Nádia Maria), Nerso da Capitinga (Pedro Bismarck) e Paulo Cintura.

Meu Bem, Meu Mal

Tarcísio Meira (Aristênio Catanduva) e Taumaturgo Ferreira (Tuca Maia) em Araponga (Imagem: Divulgação / Globo)

Após as intrigas da família Venturini, tínhamos a linha de shows, certo? Errado. Tínhamos outra novela! Araponga havia estreado duas semanas antes do início de Meu Bem, Meu Mal, aproveitando-se da elevada audiência conquistada por Rainha da Sucata em seus últimos capítulos, com a missão de segurar o público que migrava para Pantanal, da Manchete, tão logo o folhetim da Globo se encerrava. A linha de shows, que comumente sucedia a novela das oito, havia sido extinta justamente por conta do êxito da concorrência. Araponga, na qual Tarcísio Meira vivia o agente secreto Aristênio Catanduva, não chegou a superar Pantanal, mas diminuiu a plateia que se ligava nos banhos de rio de Juma Marruá (Cristiana Oliveira)…

A Manchete deixou de representar uma ameaça quando Benedito Ruy Barbosa, autor de Pantanal, voltou para sua antiga casa, em janeiro de 1991, com um salário equivalente aos demais autores e a garantia de escrever para o horário das 20h. Tão logo assinou contrato, Benedito mergulhou em pesquisas na zona cacaueira da Bahia, para o que viria a se tornar Renascer (1993), sua estreia no horário nobre global. Pantanal, cabe lembrar, volta ao vídeo em nova versão no segundo semestre de 2021.

Meu Bem, Meu Mal

Cláudia Abreu (Clara) em Barriga de Aluguel (Imagem: Divulgação / Globo)

Barriga de Aluguel, uma das mais longas tramas da Globo, viu Rainha da Sucata terminar, Meu Bem, Meu Mal passar e O Dono do Mundo (1991) estrear. Talvez caso único de novela das 18h que atravessou a exibição de três novelas das 20h, Barriga de Aluguel padeceu com sucessivos esticamentos, causados pela demora na escolha de sua substituta. Duas sinopses foram recusadas: uma de Walther Negrão e outra de Manoel Carlos, baseada no romance Dona Sépia, de Antonio Callado. Posteriormente, Casanova à Brasileira, de Walter George Durst com direção de Denise Saraceni, entrou em produção, mas acabou substituída por uma versão de 60 capítulos de Salomé, inspirada na obra de Menotti del Picchia. No entanto, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, vice-presidente de operações da Globo, determinou que Salomé tivesse o dobro de capítulos, o que atrasou sua produção. E Barriga de Aluguel foi mantida por mais um bom tempo no ar…

Meu Bem, Meu Mal

Gloria Pires (Sarita) em Mico Preto (Imagem: Divulgação / Globo)

Às 19h, Mico Preto não empolgou. A trama já se aproximava do final quando Walther Negrão fora recrutado para auxiliar os autores Marcílio Moraes, Leonor Bassères e Euclydes Marinho, já estafados diante das tentativas de fazer a obra ganhar fôlego e agradar o público. A novela chegou ao fim em 30 de novembro de 1990, com a morte do vilão Fred (José Wilker), a redenção da vigarista Sarita (Gloria Pires) após a maternidade e a união dos casais José Maria (Marcelo Picchi) e Zé Luís (Miguel Falabella) e Firmino (Luís Gustavo, o protagonista) e Cláudia (Louise Cardoso).

Meu Bem, Meu Mal

Marília Pêra (Genu) em Lua Cheia de Amor (Imagem: Divulgação / Globo)

A substituta de Mico Preto, Lua Cheia de Amor, foi resultado de uma parceria da Globo com a Rádio Televisão Espanhola (RTVE) e a Rádio Televisão Suíça (RTS-1). O que levou, inclusive a protagonista, Marília Pêra, a gravar em Barcelona; cenas nas quais sua personagem, Genuína, e a filha Mercedes (Isabela Garcia) buscavam uma herança que, a princípio, parecia ter sido deixada por Diego Miranda (Francisco Cuoco), seu marido desaparecido (descobriram, depois, tratar-se de um homônimo). É, o dinheiro nunca veio fácil para a camelô Genuína. Logo no primeiro capítulo, em 3 de dezembro de 1990, Genu precisava abrir mão do sonho de readquirir a loja de louças da família para salvar Mercedes, enrascada ao “emprestar” um par de brincos da loja em trabalhava para ir a um desfile com o mau-caráter Wagner (Mário Gomes). As joias acabaram roubadas pela cleptomaníaca Isabela (Drica Moraes).

Meu Bem, Meu Mal

Paulo Autran (Aparício Varela) e Tônia Carrero (Rebeca) em Sassaricando (Imagem: Divulgação / Globo)

No Vale a Pena Ver de Novo, tínhamos Sassaricando (1987)! A comédia de Silvio de Abreu – que chegou a ser anunciada para janeiro, mas só entrou no ar em julho – foi a única a ser “tratada com respeito” naquele 1990. Suas antecessoras, Pão-Pão Beijo-Beijo (1983) e Roda de Fogo (1986), sofreram na edição!

Meu Bem, Meu Mal

Carlos Alberto Riccelli (Nô) e Vera Fischer (Eduarda) em Riacho Doce (Imagem: Divulgação / Globo)

Quando Meu Bem, Meu Mal saiu do ar, em maio de 1991, o Vale a Pena Ver de Novo apresentava duas produções. Às 13h30, Riacho Doce, minissérie exibida no ano anterior, como “resposta” da Globo ao sucesso de Pantanal. Cenas de nudez e sexo, que permeavam a história de amor de Nô (Carlos Alberto Riccelli) e Eduarda (Vera Fischer), foram suprimidas para adequar a trama ao horário. Logo após, Top Model, até hoje a reprise mais recente da história da faixa: no ar em 14 de janeiro de 1991, exatos oito meses e oito dias após seu término às 19h.

Meu Bem, Meu Mal

Carol Machado (Jane) e Igor Roberto Lage (John Lennon) em Top Model (Imagem: Divulgação / Globo)

Ainda na linha dramaturgia, a TV Globo exibiu quatro minisséries internacionais, nas três últimas semanas de novembro e na primeira de dezembro, após Araponga: Corazon, esperança feita de sangue, sobre a história real de um senador filipino brutalmente assassinado, o que faz ascender politicamente sua esposa; O jogo sujo das drogas, também baseada em fatos verídicos, sobre um agente da polícia federal norte-americana assassinado por traficantes mexicanos; Nos braços da morte, com Lindsay Wagner, estrela da série A Mulher Biônica; e Fugindo do Inferno II, sobre sobreviventes de um campo de concentração após o fim da Segunda Guerra, com Christopher Reeve.

Meu Bem, Meu Mal

Victor Fasano no Globo Ecologia (Imagem: Divulgação / Globo)

Também na semana de estreia de Meu Bem, Meu Mal, entrou no ar o Globo Ecologia, aos domingos, 7h40, então apresentado por Victor Fasano, ativista em causas ambientais – e galã de Barriga de Aluguel –, e com narração de Cláudia Cruz, posteriormente envolvida no noticiário político devido a seu casamento com Eduardo Cunha, controversa figura do meio. Produzido pela Fundação Roberto Marinho, o Globo Ecologia apresentava soluções para reduzir a degradação ambiental, por parte de grandes empresas e de cidadãos comuns, trazia vídeos-independentes sobre fauna e flora e viagens pelo Brasil natureza. O sucesso motivou a alteração de horário, para 8h00, em abril de 1991.

Logo na primeira semana de dezembro, entrou no ar a campanha de fim de ano da Globo. Nada de “hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa”, nem do “Globo 90 é nota 100”, que abriu o ano em que Meu Bem, Meu Mal estreou. Uma canção de protesto, de Aldir Blanc e Tavito, era entoada por um coral de crianças, dirigido por Paulo José e Paulo Bufara. Uma mensagem de esperança a favor do menor abandonado.

Quantas atrações! Faltou a tradicional vinheta, mas sobrou show! Além dos espetáculos internacionais citados na chamada acima, a Globo também exibiu, ainda em novembro – mais precisamente numa tarde de sábado, 17 – um compacto da apresentação de Eric Clapton, gravado na casa de espetáculos Olympia, em São Paulo.

– O Milagre da Vida, de Xuxa Meneghel intercalava números musicais, dramaturgia e uma entrevista com a apresentadora, conduzida por Glória Maria. O programa marcou a estreia da paquita Flávia Fernandes, substituta de Tatiana Maranhão.

– Verde é Vida, o especial de Roberto Carlos, foi exibido em duas partes. A primeira, após o Vale a Pena Ver de Novo, ao vivo, direto do Teatro Fênix, com o Rei ao lado de Cláudia Raia recebendo convidados como Tony Ramos e Zico, participação do jornalista Joelmir Betting com dados sobre devastação e preservação de matas, e entradas de atores da Globo, como Carlos Zara e Eva Wilma, em pontos de distribuição das 400 mil mudas de árvore disponibilizadas pela emissora em diferentes cidades do país. Já o show exibido após Meu Bem, Meu Mal, na noite de 25 de dezembro, havia sido gravado anteriormente, no estádio do Maracanãzinho, com participações de José Augusto, Wanderléa e Xuxa, cantando Noite Feliz.

– Dirigido por Luiz Fernando Carvalho, Chitãozinho & Xororó buscou fazer com que o telespectador tivesse a sensação de estar acompanhando um dia na vida da dupla, em preparativos para um show em Avaré (SP). Os números musicais contavam com atores de teatro, encenando as “situações cantadas” apenas com olhares e gestos.

– Dedicado a reverenciar as mulheres que mais se destacaram durante o ano que passou, Mulher 90 reuniu figuras como a então prefeita de São Paulo Luiza Erundina, a bailarina Ana Botafogo, a psiquiatra Nise da Silveira e a então estrela da concorrente Manchete, Cristiana Oliveira – para quem acha que a Globo só começou a citar a concorrência de uns tempos pra cá. Daniel Filho dirigiu e Regina Duarte apresentou o especial, que contou com músicas de Cássia Eller, Elba Ramalho, Gal Costa, Margareth Menezes, Marina Lima, Marisa Monte e Rita Lee.

– Essa semana de especiais, de 24 de dezembro (segunda-feira) a 28 de dezembro (sexta-feira), se encerrou com o último Globo de Ouro da história, apresentado por Jimmy Raw e Adriana Esteves, a Patrícia de Meu Bem, Meu Mal.

Meu Bem, Meu Mal

E.T. – O Extraterrestre, de Steven Spielberg (Imagem: Reprodução / IMDB)

Os filmes citados na chamada foram exibidos em diferentes sessões: A Cidadela dos Robinsons em Especial Fim de Ano (21/12, às 22h45), Mary Poppins e O Último Imperador em Supercine (22 e 29/12), O Mágico de Oz – que não está no anúncio, mas é um clássico – e Dumbo na Sessão da Tarde (24 e 31/12), O Maior Espetáculo da Terra e As Novas Diabruras do Fusca na Temperatura Máxima (23 e 30/12), e ET, o Extraterreste em Tela Quente (31 de dezembro).

Logo após a Tela Quente de Ano Novo foi ao ar o Vídeo Show Especial – 25 Anos de Globo, um retrospecto de toda a trajetória da emissora até então. Em seguida, a primeira atração de 1991, Rock in Rio Preview. O boletim informativo apresentado por Felipe Martins, então no ar como o Lourenço de Lua Cheia de Amor, e dirigido por Rogério Gomes, trazia entrevistas em bares e praias com jovens ansiosos pela segunda edição do festival, além de comentários sobre os músicos participantes.

A transmissão oficial do Rock in Rio 2 teve início em 18 de janeiro de 1991, logo após Araponga. Ao todo, a Globo veiculou 44 apresentações, entre flashes, reportagens, shows na íntegra e compactos dos melhores momentos, exibidos durante e depois do festival. Fátima Bernardes e Pedro Bial ancoraram o evento, que contou com reportagens de Glória Maria e Ilze Scamparini e direção de Roberto Talma. As chamadas do Rock in Rio eram narradas por Monika Venerabile, radialista, também responsável pelas vinhetas “verão 91” da Globo. Já no palco, Titãs, Joe Cocker, INXS, Information Society, Engenheiros do Hawaii e Alceu Valença.

Outra cobertura também mobilizou o público naquele início de ano: a da Guerra do Golfo. No dia 16 de janeiro, um plantão interrompeu o capítulo de Meu Bem, Meu Mal, anunciando o início do bombardeio americano contra o Iraque. Na madrugada de 17 de janeiro de 1991, data estipulada para que as tropas iraquianas abandonassem o Kuwait, a Globo atingiu uma audiência então inédita para o horário. O plantão do jornalismo com Willian Bonner, às 03h00, conquistou impressionantes 7 pontos!

Meu Bem, Meu Mal

Cid Moreira e Sérgio Chapelin no Jornal Nacional (Imagem: Divulgação / Globo)

Tal cobertura renderia momentos memoráveis, tanto pela excelência do jornalismo da Globo, como pelos momentos de tensão que eventos do tipo fatalmente causam. Em março, Pedro Bial conseguiu entrar no Iraque, após o cessar-fogo, repetindo o feito de agosto de 1990, antes do início do conflito. O Jornal Nacional passou a contar com um bloco exclusivo sobre a Guerra, ancorado por Ernesto Paglia. Já Sérgio Chapelin, à frente do JN, se desesperou ao ficar sem notícias do repórter Carlos Dornelles, em Jerusalém, quando o Iraque confirmou o ataque a Israel.

Já na era da internet, a imagem de Willian Bonner ligando para correspondentes internacionais de um telefone vermelho, na bancada do Jornal Nacional, virou meme! O tal telefone, famoso na época da Guerra do Golfo, chegou a gerar discórdia entre as apresentadoras do Jornal Hoje, Márcia Peltier e Valéria Monteiro, segundo o Jornal do Brasil de 17/02/91. Ambas queriam se sentar ao lado do aparelho. Diante do impasse, o telefone desapareceu do JH. Naquele ano, aliás, o telejornal completou duas décadas. Ganhou novas vinhetas e um bloco de cultura com Maurício Kubrusly.

O telespectador de São Paulo, porém, não pôde acompanhar tais mudanças. Para o estado, era exibido o São Paulo Já. E se você pensa que Maju Coutinho foi quem instalou a informalidade na previsão do tempo, está redondamente enganado. No São Paulo Já, a atriz Silvana Teixeira, conhecida por sua participação no infantil Bambalalão, da Cultura, apresentava o quadro de acordo com as condições meteorológicas: se chovia, aparecia de capa; se estava sol, surgia de óculos escuros.

Meu Bem, Meu Mal

Fátima Bernardes e William Bonner no Jornal da Globo (Imagem: Divulgação / Globo)

Outra “polêmica” do jornalismo da Globo na época: Fátima Bernardes, então no comando do Jornal da Globo, abria mão dos cabelos volumosos e adotava o visual “joãozinho” – agora pixie. Consultada pelo jornal O Globo (17/11/90) sobre a mudança, a jornalista respondeu: “Eu tenho fases assim. Fico implicando com o meu cabelo”. Sabemos, Fátima!

No entanto, nada suplantou as notícias de fato. Em fevereiro de 1991, um plantão com a então ministra Zélia Cardoso de Mello anunciando o novo pacote econômico chegou a inacreditáveis 92 pontos de audiência. Em novembro de 1990, as eleições gerais levaram o Jornal Nacional a ganhar blocos extras, para os estados em que não haveria segundo turno, preenchidos com notícias dos telejornais locais. Assim, o “boa noite” de Cid Moreira e Sérgio Chapelin era substituído, em alguns estados, por “você vai ver em instantes”. Já o tradicional debate dos candidatos ao governo paulista não foi ao ar. A Globo integraria um pool com as demais emissoras, caso o TRE a desobrigasse de exibir o horário eleitoral, o que não ocorreu. Aí, tchau, debate…

Na primeira semana de fevereiro, o primeiro carnaval Globeleza! A Globo já exibia os desfiles das escolas de samba, mas não atribuía tal título às suas transmissões, nem vinha embalada pelo ‘Samba da Globo’, composição de Franco Lattari e Jorge Aragão lançada em 1991 numa vinheta em que Valéria Valenssa, que viria a ganhar o título Globeleza, dividia as atenções com Mônica Santos. Outra novidade foi a realização da pesquisa Ibope durante os desfiles, revelando as “preferidas do povão” na Marquês de Sapucaí. O carnaval de 1991 contou com narração de Fernando Vannucci, Léo Batista e Willian Bonner, e com a curiosa incursão de Alexandre Garcia e Mônica Waldvogel na avenida, em busca de autoridades e políticos.

Mais curiosidades sobre o primeiro carnaval Globeleza: em 1991, o compacto com os desfiles das escolas de samba era exibido em duas partes – a primeira, após o Xou da Xuxa; a segunda, após Vale a Pena Ver de Novo. Os desfiles de domingo começavam às 19h, eram interrompidos para o Fantástico, e retomados a seguir; já na segunda, 11 de fevereiro, Meu Bem, Meu Mal, segundo a grade de programação divulgada na época, teve um capítulo de apenas 20 minutos, para não atrapalhar a folia. E Globo e Manchete, que transmitiam a festa em pool, fizeram, involuntariamente, propaganda uma da outra: a primeira era homenageada da escola Leão de Nova Iguaçu; a segunda, na Unidos do Cabuçu, ambas do grupo de acesso.

Começo de ano significava também férias escolares. Para agradar as crianças, num tempo em que a TV aberta se importava com esta fatia de audiência, a Globo estreou a série japonesa Bicrossers. Com isso, a Sessão Aventura passou a ser dupla: semanalmente, apresentava Miami Vice, Dama de Ouro, Esquadrão Classe A, Força de Emergência e Um Homem Chamado Falcão (que havia substituído Magnum em dezembro de 90); e, diariamente, trazia Bicrossers. O sucesso desta levou a substituição das séries semanais por outra atração japonesa: Space Cop. Com as reprises de Riacho Doce + Top Model em Vale a Pena Ver de Novo, todas as séries saíram do ar e a Sessão Aventura foi quem acabou tirando férias…

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Sérgio Mallandro no Xou da Xuxa (Imagem: Divulgação / Globo)

E por falar em merecido descanso… Sérgio Mallandro assumiu o comando do Xou da Xuxa na ausência da titular. O apresentador havia deixado o SBT no ano anterior para ser um dos alunos da turma de sábado da Escolinha do Professor Raimundo. Saiu do humorístico para, em 11 de fevereiro de 1991, assumir o matutino. Trocou “baixinhos” por “nanicos”, dispensou as Paquitas, promoveu as Irmãs Metralha (Mariana e Roberta Richard) e após o regresso de Xuxa – que surgiu no dia de seu aniversário, mas só voltou mesmo em abril – passou a cuidar da atração aos sábados. Outra curiosidade: Mara Maravilha, então estrela do canal de Silvio Santos, pisou no palco do ‘Xou’ pela primeira vez na edição especial de 25 de dezembro.

A temporada 91 da Fórmula 1 teve início em 10 de março. A modalidade, que deixa a Globo este ano, trouxe novidades… A emissora passava a transmitir os treinos classificatórios, nas manhãs de sábado. O campeonato também ficou marcado pela imparcialidade de Galvão Bueno e Reginaldo Leme que, no ano anterior, chegaram a discutir no ar, em razão dos entreveros de seus amigos pessoais, Ayrton Senna e Nelson Piquet, segundo relato do Jornal do Brasil, de 30/11/90. Em 91, Senna se sagrou tricampeão.

Conforme aconteceu nos anos anteriores, a Globo lançou sua nova programação em abril de 1991. Por “nova” entende-se a retomada da linha de shows, após o término de Araponga – que era sucedida pelo Festival Primavera e o Festival de Verão – e já sem a concorrência de Pantanal. O pontapé inicial foi dado, claro, com Tela Quente, em 1º de abril, exibindo Mad Max – Além da Cúpula do Trovão.

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Luiz Fernando Guimarães e Regina Casé no Programa Legal (Imagem: Divulgação / Globo)

A Terça Nobre destacava diferentes atrações ao longo do mês:

– Na volta da faixa, 2 de abril, Os Homens Querem Paz em Caso Especial. A história de Péricles Leal dirigida por Luiz Fernando Carvalho era centrada na figura de Emerenciano (Paulo Betti), cangaceiro vingativo que se apaixona por Rita – personagem que garantiu a Letícia Sabatella sua escalação para O Dono do Mundo, substituta de Meu Bem, Meu Mal. Ainda durante a exibição desta, fora veiculado outro especial, As Pessoas na Sala de Jantar, em 7 de maio. O texto de Gianfrancesco Guarnieri se debruçava sobre a relação um casal em crise – Eva Wilma e Paulo José – após a descoberta de um caso extraconjugal dele.

– Em 9 de abril, estreou o Programa Legal, de Luiz Fernando Guimarães e Regina Casé. A cada episódio, um determinado tema era discutido. Na estreia, o turismo no Rio de Janeiro levou Luiz Fernando e Regina a diversos pontos turísticos, shows de mulatas e ônibus de excursão, ora como personagens, ora como entrevistadores.

– Na semana seguinte, Dóris Giesse ganhou um programa para chamar de seu. A apresentadora, contratada em 1990, estreou na Globo apresentando uma atração de fim de ano, o concerto de Leonard Bernstein em comemoração à queda do Muro de Berlim. Em janeiro, substituiu Willian Bonner no Fantástico, passando a compor a bancada com Celso Freitas e Valéria Monteiro. Ainda, ancorou a transmissão do Oscar, na segunda, 25 de março, após Araponga, ao lado de Maurício Kubrusly.

Dóris Para Maiores, sua empreitada seguinte, propunha ser uma revista eletrônica. Cabia à apresentadora servir de elo entre o jornalismo e a ficção. Os roteiros estavam a cargo da turma do Casseta & Planeta, que fez de Dóris para Maiores embrião do programa que estreariam no ano seguinte ao testarem a máxima “jornalismo mentira, humorismo verdade”. Ainda, a participação esporádica de jornalistas consagrados, como Ana Maria Bahiana, Marcelo Tas e Paulo Francis, e de Diogo Vilela e Zezé Polessa, no quadro em Dóris Giesse interpretava Dorfe, uma androide – aproveitando-se assim da figura andrógina da apresentadora.

Meu Bem, Meu Mal

Dóris Giesse e Bussunda em Dóris Para Maiores (Imagem: Bazilio Calazans / Globo)

– Também em Terça Nobre a série norte-americana Flash, baseada na história em quadrinhos homônima, que abordava três fases da vida do super-herói, e o especial Xuper Star, que se propôs mensal, mas não saiu do primeiro episódio. No humorístico, Xuxa vivia quatro personagens distintas: a apresentadora Shirley Liz, a empregada Rosicleide Sueli, a esotérica Lívia Perón e a Vovó Cotinha. O programa, que contava ainda com a participação de Jorge Fernando e Guilherme Karan, o Porfírio de Meu Bem, Meu Mal, não foi adiante devido ao interesse de Xuxa de reduzir sua carga de trabalho no Brasil para investir na carreira internacional.

– A Terça Nobre, porém, quase foi Sexta Super, já que a Globo pretendia alocar o Globo Repórter às terças. O jornalístico acabou fixado nas sextas, onde permanece até hoje com um modelo diferente do visto em 1991. Na estreia, foram abordados os dilemas as grandes cidades: Ernesto Paglia fez o mapa das gangues de São Paulo, Neide Duarte falou das enchentes, Sandra Passarinho mostrou os problemas habitacionais no Rio de Janeiro e Paulo Henrique Amorim abordou a crise urbana em Nova York.

Meu Bem, Meu Mal

Chico Anysio em Estados Anysios de Chico City (Imagem: Divulgação / Globo)

Chico Anysio, então no ar com duas versões da Escolinha do Professor Raimundo, passou a responder também por Estados Anysios de Chico City, humorístico apresentado às quartas, a princípio intitulado “Chico City II – A Nação” e previsto para as noites de domingo. O formato partia da proclamação da independência de um novo país, cuja única fonte de renda era um bordel. Os episódios seguintes abordavam a campanha eleitoral, a posse do primeiro presidente e as reformas monetárias. Claro, sempre, com referências às situações econômica e política do Brasil. A cidade cenográfica do programa era maior do que a utilizada pelas novelas de então e contava com um palácio de governo (a “Casa da Mãe Joana”) e um centro ecumênico, dividido pelo templo de Tim Tones e o terreno de Painho. No elenco, Elizângela, de volta à Globo, após atuar em Tudo ou Nada (1986), na Manchete.

Novas atrações e mudanças de horário também aos sábados e domingos. O Esporte Espetacular, apresentado por Isabela Scalabrini e Léo Batista, até então veiculado após Os Gols do Fantástico, migrava para as tardes de sábado, após o Jornal Hoje. O horário de domingo fora entregue ao Placar Eletrônico, com Fernando Vannucci.

Meu Bem, Meu Mal

Miguel Falabella no Vídeo Show (Imagem: Divulgação / Globo)

Após o esportivo e a série Tal Pai, Tal Filho, entrava no ar o Vídeo Show. Em 91, Miguel Falabella passava a comandar o Túnel do Tempo de um cenário criado especialmente para o quadro; ainda o game Astros em Berlinda, que logo na estreia trouxe perguntas indiscretas para Cássio Gabus Mendes, o Doca de Meu Bem, Meu Mal, e o Clip Vídeo Show, com imagens de arquivo ilustrando canções do momento.

Os Trapalhões, já sem Zacarias, completavam 25 anos de carreira. O grupo ocupava as noites de domingo, entre o Domingão do Faustão e o Fantástico, com esquetes como Trapa Hotel e sátiras como a do filme Ghost – Do Outro Lado da Vida, com Mussum no papel de Whoopi Goldberg.

Duas produções importadas, mega aclamadas, também pintaram na tela da Globo em 1991: o desenho animado Os Simpsons, exibido após o Vídeo Show, e a série Twin Peaks, todo domingo, entre o Fantástico e o Placar Eletrônico.

Nem tudo o que a Globo planejou para a programação 1991, no entanto, saiu do papel. A coluna pesquisou inúmeras matérias em jornais e revistas da época e descobriu projetos que, até hoje, não foram implantados pela emissora; talvez descartados em 91 pela forte crise econômica da época ou pelo sucesso da grade vigente.

– O “Jornal Jovem”, que seria exibido de segunda a sexta, 17h15, traria as mesmas informações dos outros telejornais da casa numa linguagem própria para adolescentes. Acabou substituído por boletins de conscientização sobre saúde e cidadania, o Fique por Dentro.

– A volta do Teletema, extinguindo assim a versão diária da Escolinha do Professor Raimundo. Uma das histórias chegou a ser gravada – As Duas Faces da Moeda, de Domingos de Oliveira, com o cantor Oswaldo Montenegro interpretando o Anjo da Morte –; o projeto só não foi adiante por conta da superlotação dos estúdios da Globo.

– O “Jornal das Onze”, que viria a substituir o Jornal da Globo. Mistura de telejornal e talk-show, a atração chegou a ser anunciada por O Globo, que também listou os sondados para âncora da atração, exibida ao vivo: Pedro Bial, Jô Soares e Antônio Fagundes, prestes a viver Felipe Barreto, de O Dono do Mundo.

– Os esquetes de Radical Chic, dos quadrinhos de Miguel Paiva para os estúdios, sob direção de Marcos Paulo e interpretação de Andréa Beltrão. Anunciada para o novo “Jornal das Onze” e depois para o Fantástico, a série só foi ao ar em 1993.

– A minissérie O Compadre de Ogum, de Luiz Carlos Maciel e João Ubaldo Ribeiro, baseada na obra de Jorge Amado, transformada em Caso Especial – com autoria de Geraldo Carneiro – em 1994; e Tereza Batista, também baseada na obra de Jorge Amado, então adaptada por Walter George Durst (e que acabou produzida no ano seguinte, com texto de Vicente Sesso).

Meu Bem, Meu Mal

Elizabeth Savala (Maria) em Meu Marido (Imagem: Divulgação / Globo)

As duas últimas semanas de Meu Bem, Meu Mal no horário nobre foram acompanhadas pela minissérie Meu Marido. Carlos Zanata (Nuno Leal Maia), se vê acusado por porte de cocaína, numa trama articulada para comprometer sua imagem. Com o marido na cadeia, Maria (Elizabeth Savala) recorre a Carmem (Imara Reis), criminalista que assume a defesa do réu, ao mesmo tempo em que passa a se relacionar amorosamente com ele. O caso ganha repercussão com este envolvimento e Maria, que segue ao lado do marido, só encontra apoio em Bruno (Vicente Barcellos), jornalista que tenta ajudá-la a reunir provas que inocentem Carlos. O autor Euclydes Marinho tornou a utilizar a trama da minissérie, dirigida pelo cineasta Walter Lima Jr., em Desejos de Mulher (2002). O último capítulo de Meu Marido foi exibido no mesmo dia em que Meu Bem, Meu Mal chegou ao fim, 17 de maio de 1991.

No sábado anterior ao início da última semana de Meu Bem, Meu Mal, Zélia Cardoso de Mello foi à Escolinha do Professor Raimundo. Ela havia acabado de ser destituída do posto de ministra da Fazenda. Foi a sala de aula dizer que era “preciso fazer com que a voz do povo seja ouvida, porque a única voz ouvida no país, hoje, é a das elites”. Bastante diferente do discurso de Célia Caridosa de Mello, sátira de Nádia Maria, para quem o povo “era só um detalhe”. Com a queda da ministra, Célia Caridosa de Mello também caiu.

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Duh Secco
Escrito por

Duh Secco

Duh Secco é  "telemaníaco" desde criancinha. Em 2014, criou o blog Vivo no Viva, repercutindo novelas e demais atrações do Canal Viva. Foi contratado pela Globosat no ano seguinte. Integra o time do RD1 desde 2016, nas funções de repórter e colunista. Também está nas redes sociais e no YouTube (@DuhSecco), sempre reverenciando a história da TV e comentando as produções atuais.