Conflito envolvendo mãe e filha justifica deslize de Sonho Meu

Sonho Meu

Carolina Pavanelli (Carolina) e Patrícia França (Cláudia) em Sonho Meu; novela em exibição no Canal Viva convence com conflito sobre maternidade (Imagem: Divulgação / Globo)

O Canal Viva finalizou a terceira semana de exibição de Sonho Meu (1993) neste sábado (31). A novela de Marcílio Moraes, em sua primeira reprise mais de 27 anos após a exibição do último capítulo, vem chamando a atenção não só dos que a tinham em alta conta na memória afetiva, caso deste colunista. Sonho Meu atrai um novo público, como é possível constatar nas redes sociais, graças, especialmente, ao melodrama bem escrito e ao elenco.

A obra nasceu da junção de duas tramas assinadas por Teixeira Filho, A Pequena Órfã (Excelsior, 1968) e Ídolo de Pano (Tupi, 1974). De ‘Pequena Órfã’, veio Carolina (Carolina Pavanelli), rejeitada pela tia Elisa (Nívea Maria), capaz de enviá-la para um orfanato, e acolhida por tio Zé (Elias Gleizer) – Toquinho (Marize Ney / Patrícia Aires), Elza (Riva Nimitz) e Velho Gui (Dionísio Azevedo) no original.

De ‘Ídolo’, a operária Cláudia (Patrícia França), envolvida com os irmãos Lucas (Leonardo Vieira) e Jorge (Fábio Assunção); este, neto ilegítimo de Paula (Beatriz Segall), articula para que o outro fique longe do comando dos negócios da família – Andréa (Elaine Cristina), Luciano (Tony Ramos), Jean (Dennis Carvalho) e Pauline (Carmem Silva) na “primeira versão”.

Marcílio transformou Cláudia em mãe de Carolina, estabelecendo a ligação entre os dois folhetins de Teixeira. Também fortaleceu o conflito em torno de mãe e filha com um tema pouco debatido até então, a violência doméstica. Cláudia abandonou a filha para fugir das agressões do marido Geraldo (José de Abreu), que chegou a esfaqueá-la; alcoólatra, e terrivelmente fraco, ele deixa a menina nas mãos da irmã, Elisa.

O elo entre A Pequena Órfã e Ídolo de Pano implica em incoerências de Sonho Meu. Cláudia nega o pedido de casamento de Lucas para não deixá-lo em perigo, diante da fúria assassina de Geraldo. Ela aceita, porém, as investidas de Jorge, buscando repelir Lucas, como se não estivesse se comprometendo da mesma forma e colocando os dois irmãos em risco.

Deslizes do tipo são comuns em quase todas as novelas. E não desabonam Sonho Meu, que ganha empatia graças, especialmente, à relação de Cláudia, Carolina e Tio Zé. No capítulo 15, exibido pelo Viva na última quarta-feira (28), mãe e filha se reencontraram por obra do bondoso polonês, que também foi ao Rio de Janeiro tirar Geraldo da cadeira na intenção de salvar “Laleska”, apelido da pequena, do orfanato.

Outro conflito sobre maternidade envolve Jorge, que, sozinho, descobriu ser filho biológico de Mariana (Débora Duarte). O vilão, “cerebral”, evidencia o talento de Fábio Assunção, então com apenas 22 anos. Jorge não consegue ignorar a história que, por ambição, deseja esquecer. Para alcançar seus objetivos, ele busca manter a mãe sob seus domínios, deixando-a ainda mais atormentada.

As artimanhas de Jorge, aliás, provam que Sonho Meu não é inocente como uma criança. Ele mina a saúde de Paula, com o auxílio de medicamentos e do Dr. Guerra (Walmor Chagas), enquanto desestabiliza Lucas usando Cláudia. O milionário, com especial atração pela “plebe”, leva a empregada Aída (Cláudia Scher) para a cama enquanto ignora as investidas da pretendente Francisca (Daniela Camargo).

A escolha para o horário “infanto-juvenil” do Viva se deu por conta do núcleo infantil. As crianças não são adultizadas, o que é ótimo. Todas, porém, são extremamente espirituosas. A fofurice do elenco mirim só faz favorecer o enredo. Carolina Pavanelli encanta telespectadores de todas as faixas etárias com sua espontaneidade, assim como os colegas.

Outro elemento fundamental deste núcleo é Elias Gleizer. A construção do Tio Zé é completamente diferente do personagem anterior do ator, o Vitório de Despedida de Solteiro (1992), também associado à trama infantil, a do garoto Léo (Patrick de Oliveira). A origem do personagem, polonês, e o consequente sotaque auxiliam no distanciamento entre um tipo e outro.

Com os acontecimentos da última semana, Sonho Meu embarca em uma nova fase. O público agora é cúmplice de Cláudia e sua história. A incoerência envolvendo a relação dela com Jorge e Lucas – bobo alegre salvo pelo carisma de Leonardo Vieira – ganha novos contornos com a luta pela saúde de Carolina. Os próximos capítulos prometem ser interessantes quanto os primeiros, para deleite da audiência. Vale conferir este presente do Canal Viva.

Duh Secco
Escrito por

Duh Secco

Duh Secco é  "telemaníaco" desde criancinha. Em 2014, criou o blog Vivo no Viva, repercutindo novelas e demais atrações do Canal Viva. Foi contratado pela Globosat no ano seguinte. Integra o time do RD1 desde 2016, nas funções de repórter e colunista. Também está nas redes sociais e no YouTube (@DuhSecco), sempre reverenciando a história da TV e comentando as produções atuais.