Roteirista, dramaturgo e diretor artístico, Elísio Lopes Jr. é hoje um dos principais responsáveis por promover a representatividade na TV, trazendo sua própria perspectiva como um homem negro na redação de programas de entretenimento de grande repercussão nacional, como o Fantástico e o Esquenta, da Globo.
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O escritor participou no último sábado (6) de uma live no YouTube, promovida pela escola de roteiro Levante 42, onde comentou sobre as consequências da hegemonia de profissionais brancos como criadores do entretenimento da TV e em produtos da ficção, como séries, novelas e filmes.
Elísio classificou como preocupante o fato de ter sido o primeiro negro a assumir a função de redator final de uma atração da Globo, na ocasião como chefe de redação do programa Lazinho e Você, em 2018, e que essa falta de representativa é responsável por muitos equívocos e uma visão única de sociedade.
“Este título não é um orgulho e nem uma vergonha. […] É muito sofrido pra gente, como criador, assistir ficção onde a sua existência faz parte de um imaginário. Não é escrito a partir da vivência do real porque não tem negros com a caneta na mão. Ela é escrita a partir de um imaginário, porque [um autor branco] tenta imaginar aquela vivência e tenta reproduzir aquilo“, avaliou.
Também redator há 15 anos do programa Espelho, do Canal Brasil, e diretor de conteúdo do Se Joga, atração que deve passar por mudanças em breve e retomar à programação da Globo, Elísio vê uma perspectiva positiva do futuro. “Essa ‘monofonia estética’, essa visão única, hegemônica, branca e heterossexual, dizendo e contando todas essas histórias, ela cansou, se exauriu. […] O que a ficção tem de bom é exatamente a diversidade de vozes“, filosofou.
Redator do Zorra, Celso Taddei também participou da transmissão e contou que recentemente o principal humorístico da Globo abriu uma oficina de autores para trazer diversidade na redação do programa, como a contratação de escritores negros, e o retorno foi muito positivo. “Foi impressionante a resposta. Como tem gente talentosa, com boas ideias. É só você dar um incentivo e as pessoas florescem“, revelou.
Há 4 anos, o RD1 discutiu ausência de atores negros na TV por meio de entrevistas com os autores Walcyr Carrasco, Duca Rachid e Renata Dias Gomes. A falta de escritores negros, contando histórias de suas realidades, foi apontado por eles como um dos motivos para a pouca diversidade na dramaturgia brasileira. Leia aqui a matéria.
Daniel Ribeiro cobre televisão desde 2010. No RD1, ao longo de três passagens, já foi repórter e colunista. Especializado em fotografia, retorna ao site para assinar uma coluna que virou referência enquanto esteve à frente, a Curto-Circuito. Pode ser encontrado no Twitter através do @danielmiede ou no [email protected].