Em 1994, Você Decide do Tetra foi acusado de misoginia

Duh Secco

26/04/2020

Você Decide

Raul Cortez, apresentador do Você Decide na época do episódio A Copa do Mundo é Nossa, dedicado ao Tetra (Imagem: Divulgação / Globo)

A cada quatro anos, a Copa do Mundo domina a programação da Globo. Não foi diferente em 1994, quando o Brasil conquistou o Tetra em confronto com a Itália, nos pênaltis, que a emissora reapresenta neste domingo (26). No dia anterior à abertura do evento, 16 de junho, o canal exibiu um Você Decide especial, que causou por conta da misoginia – ódio ou aversão às mulheres – presente no enredo.

Com argumento de Geraldo Carneiro, roteiro de Ana Maria Nunes e direção de Fábio Barreto, A Copa do Mundo é Nossa destacou a trajetória de Juca (Eri Johnson), cobrador de ônibus apaixonado por futebol – vascaíno, Eri vestiu a camisa do Flamengo, time do personagem, em nome da arte.

Juca é sorteado com um bilhete no valor de 5 mil dólares, que, como Raul Cortez, então apresentador do programa interativo, frisou garantia “passagem aérea em classe executiva, hospedagem, estadia e ingresso para ver todos os jogos da Copa“.

Ao invés do prêmio, Juca poderia optar pela grana, realizando o desejo de sua noiva de subir ao altar. Foi justamente Neuzinha (Lilia Cabral), a amada em questão, quem descobriu nas letrinhas miúdas do bilhete a possibilidade de embolsar o dinheiro. O público deveria então decidir entre a Copa e o matrimônio.

Por decisão dos telespectadores, Neuzinha, classificada por seu par como uma “mulher tinhosa”, e seu desejo de casar receberam cartão vermelho: apenas 18.402 votos x 57.794 a favor da Copa. Dois dias depois da exibição, uma matéria de Hélio Guimarães para a Folha de São Paulo acusou a Globo de induzir o público a escolher o futebol.

“Marketing pouco é bobagem. E a Globo entende isso como ninguém. Usou o programa para esquentar o assunto que vai dominar sua programação no próximo mês. Fez marketing ufanista da ‘seleção canarinho’ e da paixão brasileira pelo futebol, desencavando também o jingle da Copa de 70 e do regime militar, o dos 90 milhões em ação”, destacou a reportagem.

Frases como “Ou ele dá uma de Cinderelo e vai para a Copa, ou fica com a namorada e vira abóbora”, presentes no roteiro de Cortez, também foram criticadas.

A “campanha” incluiu entrevistas de Virgínia Nowick com populares, direto da Praça da República, Rio de Janeiro, onde a Globo instalou um telão de alta definição para que os transeuntes acompanhassem as partidas do Brasil, o Jumbo Tron. “A imagem é de verdade, fica muito nítida”, disparava Nowick para um público de 15 mil pessoas, reforçando o tom em prol do futebol presente no episódio.

Um dos populares ouvidos pela repórter chegou a resolver o conflito de Juca: “Eu ia para Copa, que só tem de quatro em quatro anos, e na volta pegava outra ‘muié’, tem muita ‘muié’ bonita por aí”. O final “escolhido” pela maioria indicava exatamente isso… Juca partia para os Estados Unidos, empunhando a bandeira, enquanto Neuzinha padecia ao ver a porta automática do saguão de embarque se fechar.

Confira:

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Duh Secco

Duh Secco é  "telemaníaco" desde criancinha. Em 2014, criou o blog Vivo no Viva, repercutindo novelas e demais atrações do Canal Viva. Foi contratado pela Globosat no ano seguinte. Integra o time do RD1 desde 2016, nas funções de repórter e colunista. Também está nas redes sociais e no YouTube (@DuhSecco), sempre reverenciando a história da TV e comentando as produções atuais.