Silvio Santos, 90 anos: Lado empresário e político manchou imagem do artista

Silvio Santos
Jair Bolsonaro em participação no programa de Silvio Santos; viés político do apresentador afeta porção artística (Imagem: Divulgação / SBT)

Silvio Santos, que completa 90 anos neste sábado (12), é um gênio. Não há dúvidas. Camelô que atuava na barca Rio – Niterói fez da voz seu instrumento. Agregou valor à sua imagem com através da televisão. Pergunta, há anos, “quem quer dinheiro?” enquanto oferece carnês e perfume – nem sempre com preços modestos. Assim, construiu um império, cuja cereja do bolo (ao menos para nós, fãs) é o SBT. Mas, por trás do animador e da figura mítica de televisão, está o empresário. E, nos últimos anos, o que se viu foi o homem de negócios falar mais alto que o artista.

Os ânimos, no que tange à política, andam acirrados há tempos. O que talvez tenha contribuído para a exposição desta faceta política de Silvio. Não foram poucos os episódios, nos últimos tempos, em que o apresentador “caiu em desgraça” na web, diante do público ou em matérias de jornais e revistas. Quando Michel Temer assumiu a Presidência da República, após o impeachment de Dilma Rousseff, Silvio Santos não só o recebeu em seu dominical, como veiculou uma série de chamadas a favor da controversa reforma da previdência.

Você sabia que se não for feita a reforma da Previdência você pode deixar de receber seu salário?“, amedrontava uma das peças exibidas pelo canal.

A proximidade com o governo Jair Bolsonaro escancarou a subserviência de Silvio a quem está no poder. Antes mesmo de assumir a cadeira então ocupada por Temer, o atual Presidente participou, por telefone, do Teleton 2018. Na ocasião, Silvio Santos previu – e errou – a perpetuação de Bolsonaro no posto máximo do país, com seu então pretenso Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, eleito após oito anos de Jair como governante. Dias antes, o SBT apostou num vídeo com o slogan “Brasil, ame-o ou deixe-o”, herança do regime militar que Bolsonaro tanto aprecia.

Foi durante a ditadura militar, aliás, que Silvio Santos conquistou a concessão dos canais que formaram o SBT. Como retribuição, o apresentador, empresário e político criou a Semana do Presidente, programete exibido aos domingos que trazia apenas notícias positivas sobre os governantes – mesmo nas semanas que antecederam o processo de impeachment de Fernando Collor, em 1992. A atração, claramente um agrado aos homens do poder, chegou ao fim durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso.

Cabe ressaltar que, naquele tempo, manifestações do tipo eram aceitáveis. O auditório do Cassino do Chacrinha, na Globo, era um festival de bajulação, com cartazes em defesa de políticos.

A afinidade com os governantes, na história recente de Silvio Santos, talvez tenha sido considerada mais desabonadora do que a Semana do Presidente e casos esquecidos num passado “não documentado”, por conta de ações nos bastidores do SBT. Em duas edições do Troféu Imprensa, Silvio deixou claro que não queria ver Danilo Gentili e Rachel Sheherazade emitindo opiniões sobre o noticiário – reduzindo a jornalista ao papel de leitora de teleprompter, anos após contratá-la justamente para palpitar a respeito de manchetes polêmicas.

Jornalista que quiser trabalhar comigo não vai ser investigador. Quem tem que investigar é a polícia. Jornalista aprendeu na faculdade a ser idealista, a escrever o que deseja? Então compre uma estação de televisão! Na minha, não! Na minha estação de televisão, enquanto eu viver, jornalista vai procurar as qualidades do ser humano“, dizia Silvio Santos há mais de 30 anos, em um de seus programas, conforme relatado no livro Silvio Santos – A Trajetória do Mito, do escritor Fernando Morgado.

Tal postura contraria a figura do artista e do “diretor de programação”, proprietário de uma rede de TV. Silvio promoveu a figura do âncora “opinativo” quando alçou Boris Casoy à bancada do TJ Brasil. Também a do repórter investigativo, através do Aqui Agora. Talvez a idade e os percalços financeiros tenham ampliado a voz de Silvio enquanto empresário e político.

Eu não sou um homem de televisão. Só estou nela por ser um bom negócio. Eu sou um comerciante. Um homem de negócios“, salientou em depoimento a Décio Piccinini e Engelber Paschoal, da revista A Crítica, nos anos 1960. Esta fala nunca soou tão precisa quando associada a Silvio Santos quanto agora…

O Silvio “homem de negócios” não abala a imagem do fenômeno da TV. Mas, com certeza, mancha.

O que você achou? Siga @rd1oficial no Instagram para ver mais e deixar seu comentário clicando aqui
Duh SeccoDuh Secco
Duh Secco é  "telemaníaco" desde criancinha. Em 2014, criou o blog Vivo no Viva, repercutindo novelas e demais atrações do Canal Viva. Foi contratado pela Globosat no ano seguinte. Integra o time do RD1 desde 2016, nas funções de repórter e colunista. Também está nas redes sociais e no YouTube (@DuhSecco), sempre reverenciando a história da TV e comentando as produções atuais.