Trocas no elenco, problemas de saúde e audiência em alta: os bastidores de O Clone

O Clone

Murilo Benício (Lucas) e Giovanna Antonelli (Jade) em O Clone; Globo reapresenta novela em Vale a Pena Ver de Novo (Imagem: Divulgação / Globo)

O Clone volta à tela da Globo nesta segunda-feira (4). 20 anos após a exibição original, e 10 depois da primeira passagem pelo Vale a Pena Ver de Novo, a novela retorna para substituir Tititi (2010). O clássico de Gloria Perez guarda inúmeras curiosidades, como as várias trocas de elenco, os problemas de saúde enfrentados por atores e atrizes, os altos índices de audiência e a repercussão até mesmo no cenário político. Todas estas histórias estão reunidas neste especial!

– As discussões sobre islamismo, clonagem e dependência química fizeram o sucesso de O Clone. “Eu acompanhava pela televisão as guerras no Oriente Médio e ficava curiosa para saber mais sobre aquelas pessoas, como viviam, como era seu cotidiano. Na mesma época, fiquei muito impressionada com a clonagem da ovelha Dolly. […] Esses dois temas – clonagem e cultura muçulmana – se uniam através da ideia de Deus: de um lado, o universo muçulmano, inteiramente submisso a Deus. De outro, o Ocidente, que declarava, com Nietzsche, ‘Deus está morto’ e buscava substituí-lo, instituindo novos deuses, os geneticistas, que, em seus laboratórios, tomavam para si a criação da vida”, declarou a autora sobre o processo de criação ao livro Autores – Histórias da Teledramaturgia.

– Denise Saraceni foi o primeiro nome convocado para a direção geral. A expectativa, no primeiro quadrimestre de 2001, era de que ela passasse a atuar apenas como supervisora de Estrela-Guia, “a novela da Sandy”, então no ar às 18h, coordenando o início dos trabalhos de O Clone no exterior. Posteriormente, Saraceni foi substituída por Jayme Monjardim. O burburinho na imprensa era de que Denise não demonstrava confiança no projeto…

– No momento em que Jayme assumiu os trabalhos, Fábio Assunção respondia pelo protagonista Lucas, o gêmeo Diogo e o clone Léo. Monjardim, porém, pretendia oficializar a escalação somente com a protagonista escolhida, após testar a química do casal. Neste ínterim, Fábio pediu folga à Globo. “Em setembro do ano passado, a Gloria me telefonou dizendo que tinha escrito o papel principal para mim. Fiquei muito lisonjeado com o convite, mas não estou com disponibilidade emocional para a empreitada. Quero dar uma reciclada, tenho uma boa relação com a emissora e eles entenderam que eu precisava dar uma parada”, revelou ele ao Jornal do Brasil (31/05/01).

– O mesmo se deu com Ana Paula Arósio, cogitada para Jade. Ela, assim como Assunção, preferiu o descanso após meses de dedicação à minissérie Os Maias (2001).

– O convite para Jade levou à suspensão do contrato de Letícia Spiller com a Globo. Segundo informações do jornal O Estado de São Paulo (23/05/01), a atriz deveria estar à disposição da casa em janeiro daquele ano. Mas, quando convocada para O Clone, Letícia alegou compromissos com o teatro. A emissora deixou de pagar o salário da estrela enquanto ela resolvia tais questões fora da firma.

– A heroína acabou por consagrar Giovanna Antonelli, em alta após viver Capitu em Laços de Família (2000).

– Já Lucas e seus semelhantes foram solicitados por Murilo Benício à direção. “Esse trabalho me instigou. São três personagens de uma vez, é uma responsabilidade e eu precisava de um desafio na Globo. Quando liguei para me oferecer, a direção era da Denise Saraceni e ela disse que já tinha se acertado com Fábio Assunção. Depois, vi que mudou tudo e me pus à disposição”, confidenciou ao jornal O Estado de São Paulo (30/09/01).

– As primeiras listas de elenco incluíam ainda Ângela Vieira, Cláudia Abreu, Cláudio Heinrich, Edson Celulari, Eduardo Moscovis, Jonas Bloch, Leandra Leal, Rodrigo Faro, Thiago Lacerda e Walmor Chagas. Também cotado, Francisco Cuoco se integrou à produção no terço final, interpretando o Padre Matiolli. Atriz brasileira radicada em Paris, Cristiane Reali foi outro nome ventilado para a novela.

– Para Cuoco, a equipe de O Clone ofereceu Leônidas. Reginaldo Faria assumiu o papel após as recusas de José Mayer e Raul Cortez – que optaram, respectivamente, por Presença de Anita (2001) e As Filhas da Mãe (2001). Já Stenio Garcia deixou A Padroeira, trama das 18h, antes do previsto para assumir Tio Ali. Egresso de Chiquititas (1997), do SBT, Thiago Oliveira assumiu o atrevido Amin após a recusa de Zeca Veloso, filho de Caetano Veloso.

Vera Fischer (Yvete) trabalhou ao lado do ex-marido, Perry Salles (Mustafá). E, por pouco, os dois não dividiram o set com a filha Rafaela Fischer. O tipo reservado para ela atendia por Samira – nome dado à filha de Mohamed (Antonio Calloni) e Latiffa (Letícia Sabatella), vivida por Sthefany Brito.

Ivete Sangalo estava tão em alta na Globo em 2001 quanto agora, com The Masked Singer Brasil e a possível escalação para os sábados. Após gravar A Moda do Chifre, episódio da série Brava Gente, a cantora foi convocada para uma participação em O Clone. “Na novela, a única coisa que sei é que serei uma policial durona e gravarei onze capítulos, a princípio. Mas, se eu for bem ruinzinha, vou morrer logo”, declarou Veveta para IstoÉ Gente (19/07/01). O contrato previa também a apresentação do Vídeo Game, quadro do Vídeo Show lançado em dezembro daquele ano com Angélica no comando.

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Elizângela (Noêmia), Solange Couto (Dona Jura) e Mara Manzan (Odete) em O Clone; bar de personagem recebeu vários convidados especiais (Imagem: Divulgação / Globo)

– O Clone contou com várias participações especiais, quase todas nas mesas do bar de Dona Jura (Solange Couto). Nomes como a cantora Gretchen e a ex-vedete Virgínia Lane manifestaram interesse nos pastéis mais famosos de São Cristóvão, mas não chegaram a ir até o local. O mesmo se deu com o jogador de futebol Edilson, que, recrutado para Copa do Mundo do Japão e da Coreia do Sul, não pode gravar. Quem também ficou de fora da lista vip foi o tenista Gustavo Kuerten.

– O apresentador Oswaldo Sargentelli passou mal após concluir sua cena no bar de Jura. A presença dele era de caráter afetivo: Solange Couto ingressou na vida artística como “mulata do Sargentelli”, como eram chamadas as dançarinas que o acompanhavam. Foi a atriz quem solicitou a cena entre ela e o amigo para Gloria Perez. “Sabe como me sinto? Feliz por ter realizado seu último desejo. Ele sempre me dizia que queria morrer no palco, trabalhando, ou num botequim tocando samba numa caixa de fósforo, cercado de mulatas e de amigos. […] Ele estava trabalhando na mesa de um bar. Era cenográfico, mas era um bar. E lá estavam seus amigos, como o Roberto Bonfim (Edvaldo), eu e outras mulatas”, comentou Solange em entrevista ao jornal Folha de São Paulo (21/04/02).

– Outros integrantes do time de O Clone “baixaram enfermaria”. A própria Solange Couto sofreu um princípio de infarto. Ruth de Souza (Mocinha) enfrentou problemas com a hipertensão. Já Stenio Garcia, Reginaldo Faria, Marcello Novaes (Xande) e Elizângela (Noêmia) contraíram dengue. Ruth e Stenio foram substituídos, de certa forma, por Léa Garcia e Francisco Cuoco. Os personagens criados às pressas, Lola e Matiolli, se tornaram fixos – ela, tia de Deusa (Adriana Lessa) e tia-avó do clone Léo; ele, o padre que servia de contraponto à argumentação científica de Albieri (Juca de Oliveira).

Débora Falabella foi hospitalizada por conta de uma meningite no momento em que Mel divida o protagonismo com Jade e Lucas. Como a personagem não poderia deixar a trama naquele momento, a produção acionou Cynthia Falabella, irmã da atriz, que gravou cenas sem closes ou outros planos que denunciassem a substituição. Nos últimos capítulos, Cynthia surgiu em cena como Monique, filha de Lobato (Osmar Prado).

– Outro problema relacionado à saúde do elenco de O Clone desencadeou também um caso de polícia. O ator e psicólogo Haylton Farias, que interpretava o psicanalista de Lobato, foi esfaqueado na calçada do prédio onde morava, em Botafogo, Rio de Janeiro. O autor do ataque foi Antônio de Matos Pais, vizinho de Haylton. O incômodo com o entra-e-sai dos pacientes de Haylton do prédio teria gerado a tentativa de homicídio.

– A sinopse inicial previa a saída de Laurinda (Totia Meirelles) após a primeira fase. A sintonia da atriz e de Vera Fischer sacramentou a permanência da personagem. Ranya (Nívea Stelmann) passou à segunda esposa de Said (Dalton Vigh), marido de Jade, por conta da química de Mohamed e Latiffa – o público não queria ver o casal separado. A investida de Alicinha (Cristiana Oliveira) sobre Albieri, casado com sua tia Edna (Nívea Maria), também ficou pelo caminho…

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Murilo Benício (Léo) em O Clone; busca por sósia do ator dominou o Domingão do Faustão (Imagem: Divulgação / Globo)

– Para triplicar Murilo Benício, a Globo promoveu um concurso de sósias no Domingão do Faustão. O santista Rafael Mariano, de 24 anos, foi o eleito pelo júri formado pelo próprio Murilo, além do diretor Marcos Schechtman e de Giovanna Antonelli. Já o Caldeirão do Huck levou Viviane Victorette ao folhetim. Na final, a atriz contracenou com Débora Falabella. As duas passaram a dividir a cena como as dependentes químicas Mel e Regininha. Stenio Garcia, Nívea Maria e Myrian Rios (Anita) integraram o júri, assim como Jayme Monjardim.

– Antes do início das gravações, Murilo Benício recorreu a duas psicólogas. “Para cada uma, usou a personalidade de um dos gêmeos”, segundo a Folha de São Paulo (19/07/01).

– Para situar o telespectador, a Globo solicitou a produção de pautas sobre clonagem e cultura muçulmana em seus jornalísticos. Os noticiários, porém, foram “obrigados” a focalizar o islamismo após os atentados de 11 de setembro, dia em que a organização Al Qaeda, liderada por Osama Bin Laden, derrubou as duas torres do World Trade Center, símbolo da supremacia econômica norte-americana.

– Dados do Valor Econômico (30/07/01) apontavam que, na época, o islamismo era a religião que mais crescia no mundo, com 1,3 bilhão de fiéis – quase 25% da população da Terra. Destes, apenas 1% se encontrava no Brasil, com metade, cerca de 700 mil, residindo no estado de São Paulo.

– O ataque às torres gêmeas gerou especulações sobre a novela. Questionada pela IstoÉ Gente (20/09/01) sobre uma possível reação negativa do público ao núcleo de Jade, Gloria Perez foi enfática: “O que mais nos interessa é dizer não a esse preconceito. Terroristas existem em todas as religiões e países e a novela não vai abordar o assunto politicamente nem entrar no debate religioso. Muçulmano é gente como a gente”. Posteriormente, durante a coletiva de lançamento de O Clone, a autora lamentou a insistência da imprensa no tema. “Eu e o Jayme já respondemos isso umas cem vezes, e, antes que alguém pergunte de novo, a trama não será alterada. Você só querem saber se o Marrocos foi diminuído, só vieram com essas perguntas para uma novela tão bonita”, declarou, conforme destacou a Folha de São Paulo (23/09/01).

– Para a feitura da sinopse e dos capítulos, Gloria Perez contou com a consultoria do xeque Jihad Hassan Hammadeh, de São Bernardo do Campo, São Paulo, então membro da Assembleia Internacional dos Estudantes Muçulmanos, e Abdelbagi Sidahmed Osman, que, na ocasião, era presidente da Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro e representante da Liga Islâmica Mundial.

– Com a produção já no ar, Jihad e Ali Mohamad Abdouni, outro consultor da autora, repudiaram a Globo por conta de esquetes do Casseta & Planeta, Urgente!. O incômodo se deu com a presença em uma cena de um livro com capa verde – que representaria o Alcorão –, cheio de mulheres nuas e com o jocoso título Pelas Barbas do Profeta. Os integrantes do ‘Casseta’ enviaram carta à comunidade islâmica pedindo desculpas pela ofensa.

– Em agosto de 2001, cerca de um mês após o início das gravações de O Clone, o médico italiano Severino Antinori afirmou que faria a primeira experiência do tipo em humanos. Ao jornal O Globo (26/08/01), Gloria brincou sobre a investida: “Desde que levei a sinopse para o Mário Lúcio Vaz [diretor da Central Globo de Produção], ele diz que o primeiro clone humano vai nascer durante a novela. É um bruxo!”. Ela também revelou o que a levou a abordar tal tema. “Quem se interessava por clonagem sabia que as coisas estavam evoluindo rapidamente. Quando a Dolly [primeiro clone de ovelha] nasceu, vi que era o momento de dedicar uma novela ao assunto. É claro que dali para a clonagem humana seria um passo muito pequeno: a Dolly é um mamífero”.

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Giovanna Antonelli (Jade) em O Clone; gravações no Marrocos exigiram cartilha da Globo (Imagem: Zé Paulo Cardeal / Globo)

– Assim como fez agora com Pantanal, distribuindo repelente e outros itens de primeira necessidade para os trabalhos na região, a Globo ofereceu uma cartilha com orientações para os escalados nas filmagens no Marrocos. As produtoras Cláudia Braga e Marília Fonseca, com o auxílio da marroquina Um Keltum Alaoui, assistente de direção da novela, elaboraram o manual com dicas que iam do uso de água mineral engarrafada até para escovar os dentes aos calçados de couro nas ruas e sandálias, para os pés respirarem, nos hotéis. Biquínis e maiôs eram recomendados apenas nas piscinas dos locais de hospedagem. Detalhes sobre a alfândega e frases em francês, língua empregada no país tanto quanto o árabe, também constavam no documento.

– Para a abordagem sobre drogas, Gloria ouviu o terapeuta Roque Hudson, além de vários dependentes em recuperação. Um dos testemunhos foi o do ator Francisco Milani, que, durante 14 anos, lutou para livrar a filha Ana Maria do vício. A história dela incluía participações em assaltos, como aconteceu com Mel, Regininha e Nando (Thiago Fragoso).

– A hanseníase também entrou em pauta através de uma participação do cantor Ney Matogrosso. Foi ele quem sugeriu o assunto, aliás.

– A adesão dos personagens ao Piscinão de Ramos, especialmente Odete (Mara Manzan), gerou acusações de favorecimento à campanha de Anthony Garotinho (PSB) para a Presidência da República. A obra foi inaugurada durante a gestão dele como governador do Rio de Janeiro.

– O candidato eleito Luís Inácio Lula da Silva (PT) enalteceu a campanha antidrogas promovida pela novela, assim como Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que estava deixando o posto.

– Já o derrotado José Serra recorreu ao apelo popular de Dona Jura durante o pleito. Solange Couto apareceu nas propagandas do candidato do PSDB – marcadas pela presença de Regina Duarte e a declaração desta sobre o “medo” que a vitória de Lula lhe causava.

– Ciro Gomes (PPS), por sua vez, debochou da parceria de Serra e Solange. Em seu site, ele passou a desmentir dados do rival, usando o bordão “né brinquedo, não” como título das matérias.

– Foi a atriz, aliás, quem criou o texto sempre associado à personagem. “Eu tinha ido buscar a sinopse e saí do Projac pedindo a Deus que me ajudasse a criar alguma coisa que marcasse a personagem. Quando gritei o ‘né brinquedo não’, tomei um susto. Comecei a rir e a chorar ao mesmo tempo. Percebi que a frase servia para qualquer situação e pedi autorização a Gloria Perez para usá-la”, revelou ao jornal O Globo (28/01/02).

– O êxito do folhetim da Globo impulsionou a carreira de Solange Couto. “‘O clone’ deu uma guinada na minha vida. Com meu salário e o dinheiro dos comerciais que apareceram, acertei contas atrasadas, estou terminando de construir minha casa e comprei um carro melhor. Mas a fama é efêmera”, afirmou ela em entrevista ao jornal O Globo (23/06/02). Após o término, porém, ela recusou um convite da emissora para reeditar Jura no Zorra Total e seguiu para a RedeTV!, onde compôs, com Ney Gonçalves Dias e Solange Frazão, o trio de apresentadores do Bom Dia Mulher.

– Quem também se deu bem com a novela foi Neusa Borges, a Dalva. Longe do gênero desde A Indomada (1997), ela peregrinou por programas como o de Sonia Abrão (RedeTV!) e Ratinho (SBT) pedindo por oportunidades.

– Curiosamente, O Clone chegou ao fim com a melhor média de audiência das 20h desde a trama assinada por Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares, na qual Neusa vivia Florência. Foram 46,8 pontos ante 47,9 de ‘Indomada’. Os dados são referentes a Grande São Paulo, praça de maior relevância para o mercado publicitário.

– Os primeiros 90 capítulos do folhetim registraram 42 pontos, tal qual a antecessora Porto dos Milagres (2001). No ano anterior, considerando o mesmo número de episódios, Laços de Família marcou 43. Só que nem ‘Porto’, nem ‘Laços’ enfrentaram uma inimiga tão poderosa quanto a Casa dos Artistas, plágio do Big Brother – que ainda não havia estreado por aqui – produzido por Silvio Santos para o SBT.

– A escalada nos números incluiu os 49 de média garantidos quando Léo deu o ar da graça (14/02/02). Em março, após o 145° capítulo, O Clone bateu os 44 pontos atingidos por Terra Nostra (1999) no mesmo período. A participação no número de televisores ligados (share), contudo, já era maior: 62% contra 60% de ‘Terra’. Outro ponto-chave da história de Léo, o encontro dele com Leônidas, alcançou 54 de média (02/04/02) – embalando a grande final do primeiro BBB. Mesmo índice da crise de abstinência de Mel (15/04/02), o que certificou o êxito da produção independente da espera pelo reality.

– Outros feitos impressionantes no quesito audiência: 56 pontos quando Maysa (Daniela Escobar) e Xande resgatam Mel de uma “boca de fumo” (25/04/02) e no encontro de Léo e Lucas (29/04/02); 58 com o primeiro beijo de Jade e do clone (06/05/02); e 60 com a prisão de Nando (10/06/02). O último capítulo rendeu 62 pontos, 68 de pico e 77% de share. Em 2001, cada ponto equivalia a 47 mil domicílios na Grande São Paulo.

– Durante a última semana, a Brastemp lançou uma campanha produzida exclusivamente para os intervalos da novela. Arthur Kohl e Wandi Doratiotto, garotos-propaganda da marca, surgiram em cena ao lado de uma ovelha – alusão à Dolly.

– O Clone fez os índices de audiência da Telemundo, rede de televisão norte-americana voltada para o público hispânico, subirem 60%. Foi a primeira obra vendida para outro país, com exceção de Portugal, ainda durante a exibição no Brasil. Em 2010, a rede produziu a versão internacional da trama, El Clon, com Sandra Echeverría, estrela do remake de A Usurpadora (2019), como Jade.

– Na Argentina, após entrar para as 10 atrações mais vistas do país, passou de 15h para 19h. Em 2013, o título foi selecionado para o ranking de 50 programas mais relevantes da TV em todo o mundo – a única produção brasileira considerada pela WIT, empresa especializada no acompanhamento de tendências sobre televisão, responsável pela lista. Na ocasião, O Clone havia sido vendida para mais de 90 países.

– Na concorrência, Gugu Liberato promoveu uma série de materiais sobre o Marrocos, em seu Domingo Legal, usando a chamada “o país que a novela das oito da Globo não mostra”.

– Para o julgamento sobre a paternidade de Léo, que envolveu Leônidas e Deusa, Gloria Perez pediu auxílio a Ana Maria Scarpezini, juíza que havia auxiliado em sequências similares de Barriga de Aluguel (1990). Dois personagens da obra exibida às 18h participaram da fase inicial de O Clone, Dr. Molina (Mário Lago) e Miss Brown (Beatriz Segall), geneticistas que debatiam os princípios éticos e o avanço da medicina a partir do desenvolvimento de um filho no útero de uma mulher com o óvulo de outra.

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Vera Fischer (Yvete) em O Clone; coleção de joias da personagem foi comercializada em canal de vendas (Imagem: João Miguel Júnior / Globo)

– A moda de O Clone ganhou as ruas! A iswarah, pulseira que ia do punho à mão, com duas correntes presas a um anel, rendeu versões em comércios populares e joalherias renomadas. A peça era uma das preferidas de Jade, que também colocou sua maquiagem, com os olhos carregados em tons escuros, entre as preferidas das telespectadoras. Cangas com estampas inspirados nos véus de Latiffa e Nazira (Eliane Giardini) dominaram as praias. O canal Shoptime vendeu de objetos de cena, como velas aromáticas e cristais, à linha de joias confeccionada especialmente para Yvete.

– Ainda, a busca por aulas de dança do ventre. As coreografias dominavam os capítulos. A revista Veja contou, em 132 episódios, 182 cenas envolvendo “apresentações”.

– Por falar em maquiagem… Stenio Garcia e Sebastião Vasconcelos (Abdul) ganharam duas marcas na testa. As manchas são comuns em muçulmanos, por conta da obrigação de se curvar e apoiar a cabeça no chão durante as orações. A maquiadora Isabel Arbizu desenvolveu adesivos que simulavam as pintas, facilitando os trabalhos. Para a primeira fase, ambientada na década de 1980, a cabeleireira Sonia Hazan criou fitas que, quando presas na nuca, esticavam a pele de veteranos como Reginaldo Faria, conferindo aspecto mais jovem ao rosto.

– A música-tema de Jade e Lucas, Somente Por Amor, ganhou a voz de Marcus Viana – parceiro de Monjardim em trabalhos anteriores –, após o intérprete escalado inicialmente, Milton Nascimento, adoecer.

– Uma composição de Sá, Rodrix e Guarabira ficou de fora da trilha. Criador e Criatura foi feita sob encomenda para Albieri. A música entrou para o repertório dos shows do trio. Consultado por O Globo (04/11/01) sobre a “dispensa”, o diretor Mariozinho Rocha respondeu que casos do tipo eram comuns: “Quando pedimos uma música, avisamos ao artista que este é um contrato de risco. Não tem a ver com a qualidade do trabalho; é que nem sempre a música composta combina com o personagem”.

– Logo após o término, a Globo cogitou lançar O Clone em DVD, o que nunca aconteceu.

– No último trimestre de 2003, a emissora conseguiu a liberação da novela para o Vale a Pena Ver de Novo. Cotada para substituir Deus Nos Acuda (1992), em fevereiro de 2005, a trama deu lugar a Laços de Família para evitar conflitos com América, trabalho posterior de Gloria Perez, às vésperas do lançamento.

– A reprise só veio em 2011, no momento em que a faixa padecia com os índices pífios de Sete Pecados (2007). Em 2019, o folhetim foi exibido no Canal Viva.

Duh Secco
Escrito por

Duh Secco

Duh Secco é  "telemaníaco" desde criancinha. Em 2014, criou o blog Vivo no Viva, repercutindo novelas e demais atrações do Canal Viva. Foi contratado pela Globosat no ano seguinte. Integra o time do RD1 desde 2016, nas funções de repórter e colunista. Também está nas redes sociais e no YouTube (@DuhSecco), sempre reverenciando a história da TV e comentando as produções atuais.

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